terça-feira, 12 de julho de 2011

O RAPTO

15 – DERIVA

Já passava das seis da manhã quando decidiram sair do quarto da pensão. Antes espreitaram pela janela, o movimento à porta do bar. Não havia e a porta estava fechada. O que lhes chamou a atenção foi um jipe topo de gama, preto ou azul muito escuro, parado, motor a trabalhar e com um motorista ao volante.
O carro de António estava estacionado relativamente perto. António arrancou com as luzes apagadas, parou um pouco mais à frente para que Carlos e Edmundo entrassem na viatura. Não se apercebendo nem nenhum movimento do jipe suspeito, seguiu para o Lumiar, bairro onde o Edmundo dizia ter um apartamento.
Este não levantou quaisquer problemas, enquanto lhe revistavam a casa e lhe retiravam um pequeno computador portátil, uma série de CD, um outro telemóvel com câmara fotográfica, uma câmara de vídeo e outra de fotografia. Meteram tudo num saco e saíram para a rua.
Acabavam de descer os degraus da escada, Carlos volta-se para o António, e comenta:
- Chefe não lhe pareceu estranho que o Edmundo tenha entregue tudo sem protestar?
- Não porque deu para perceber que está apavorado e pronto para fugir. Por isso temos de ficar de olho nele. Carlos aguentas mais umas horas sem dormir?
- Ora tantas e tantas que eu passei. Só preciso de beber um café, comer qualquer coisa e estarei pronto para o que der e vier.
- Então vais ficar por aqui, para vigiares o Edmundo. Presta atenção, sobretudo a movimentos suspeitos com viaturas a pararem nas imediações do prédio Se ele sair sozinho vais segui-lo sem te fazeres notar. Se for acompanhado tenta tirar fotos da pessoa ou do carro, mas não os sigas, pode ser perigoso. Diz qualquer coisa depois de almoço.
Deixou o amigo encarregue da vigilância e conduziu para ao escritório. Eram quase oito horas da manhã, aproveitou para descer e tomar um café e subiu para fumar mais um cigarro. Precisava de se acalmar, estava excitado e não se cansava de olhar para o relógio.
Aguardou pelas nove horas da manhã e ligou para o Artur Marques. Teve sorte, o amigo atendeu perguntando se havia novidades.
António Pedro confirmou mas que preferia contar pessoalmente. Sugeriu que poderia passar pela PJ e relatar o que descobrira.
Artur respondeu:
- Eh pá, hoje não me dá mesmo jeito. Ando envolvido numa operação especial que me vai ocupar o dia em reuniões de coordenação e não consigo arranjar tempo disponível.
- Se bem me lembro, diz António, no meu tempo esse tipo de reuniões acabava por volta das dezanove horas. Não tenho problema é passar por aí a essa hora e se tiver que esperar, tudo bem, espero. Que dizes?
- António, por favor não insistas, mas para que não fiques zangado, posso ser eu a passar pelo teu escritório, mas nunca antes das dez da noite.
- Artur, assim vem antes a minha casa, a de Campo de Ourique. Tu tens o nome da Rua e o número da porta e não precisas de fazer um grande desvio. Estaremos mais à vontade e eu garanto que tenho em casa um scotch bem velhinho.
- Então não quero perder essa preciosidade. Aí estarei, responde Artur.
Olhou para o relógio, pouco passava das nove horas da manhã. Ainda dava tempo de passar por casa fazer a barba e tomar banho e voltar para receber a visita de Maria Clara. Ligou para a recepção e mandou subir a senhora que já chegara.
Não obstante estar cuidadosamente arranjada, Maria Clara evidenciava alguma tensão e nervosismo.
Sentou-se, olhou-o bem nos olhos e perguntou:
- Doutor já tem alguma indicação sobre a minha filha?
- Tenho apenas pistas que estou a trabalhar, mas lá chegaremos, respondeu. Mas não se esqueça que combinámos que hoje me contaria a continuação da sua aventura. Não se esqueceu, pois não?
Ela suspirou, colocou as mãos no rosto, esteve assim alguns minutos. Limpou os vestígios de lágrimas, respirou fundo e fez sinal de que estava pronta a continuar.
- Tudo bem, não se apresse, faça por não omitir pormenores que lhe podem parecer irrelevantes, e conte-me o resto, mesmo se isso a fizer sofrer. Acredite, só assim sentirá algum alívio na sua consciência. Mas não faças desvios, siga o caminho da verdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário