LISBOA
Fora no seu País, com a sua gente, que tudo
começara.
Filho único de uma
família de pequenos agricultores assalariados, nem nos piores momentos, e tinha
vivido alguns, sonhara, sequer, que o seu futuro iria ser o caminhar, pedindo,
algumas vezes mendigando, aquilo a que ele se julgara com direito, trabalho.
Foi o que aconteceu a Eduardo Silva, um
homem ainda jovem, que respondera aos anseios dos Pais, tocado pelo desafio que
o seu País lançara, mais e melhor educação, que percebera que ter futuro, sem
laços familiares de gente importante, sem a obrigação de escolher um partido do
chamado arco da governação e ter de percorrer as ruas batendo palmas e colando
cartazes, o diploma universitário seria o único meio de alcançar um lugar ao sol.
E desde muito novo estudara e trabalhara para poder entrar no ensino superior.
Deixara a aldeia em que nascera, e com uma média elevada, sem dificuldade matriculou-se no curso para que sempre se julgara destinado. Corria o ano 1987, o País era membro da Comunidade Europeia, havia muito dinheiro a circular pela injeção de fundos comunitários e quase toda a gente entendeu que o passado de pobreza havia terminado.
Os Pais entregaram as suas parcas economias e Eduardo começara a frequentar a Universidade. Fora conseguindo equilibrar as suas contas, partilhando um quarto com outro colega, cozinhando as suas próprias refeições mas o dinheiro ia desaparecendo.
Para continuar a estudar precisava de encontrar um emprego em tempo parcial que lhe pudesse sobreviver. O que conseguiu aceitando um trabalho pouco qualificado mas em que recebia por hora de trabalho. Quando alguns colegas o encontraram a fazer a reposição de produtos dum supermercado numa grande superfície comercial, sentira algum constrangimento, mas depressa esquecera. Afinal ele estava entre os melhores alunos o que lhe dera conforto para enfrentar algumas piadas. de mau gosto.
Sempre julgara que a obtenção do curso justificaria no futuro os sacrifícios que agora tinha de fazer. As férias que nunca pudera gozar, as amizades que não pudera partilhar, os amores que não vivera, tudo ele contabilizara como investimento que iria recuperar no final. Mesmo quando se sentira exausto, depois de serões mergulhado nos livros e aprendendo a utilizar o computador, comprado em segunda mão e pago em prestações, desenhando no excel cenários macroeconómicos, fazendo simulações sobre as curvas de rendibilidade de projetos comerciais, analisando o comportamento dos mercados financeiros, etc. nunca esmorecera. Mas no final interrogara-se: Teria valido a pena?
Deixara a aldeia em que nascera, e com uma média elevada, sem dificuldade matriculou-se no curso para que sempre se julgara destinado. Corria o ano 1987, o País era membro da Comunidade Europeia, havia muito dinheiro a circular pela injeção de fundos comunitários e quase toda a gente entendeu que o passado de pobreza havia terminado.
Os Pais entregaram as suas parcas economias e Eduardo começara a frequentar a Universidade. Fora conseguindo equilibrar as suas contas, partilhando um quarto com outro colega, cozinhando as suas próprias refeições mas o dinheiro ia desaparecendo.
Para continuar a estudar precisava de encontrar um emprego em tempo parcial que lhe pudesse sobreviver. O que conseguiu aceitando um trabalho pouco qualificado mas em que recebia por hora de trabalho. Quando alguns colegas o encontraram a fazer a reposição de produtos dum supermercado numa grande superfície comercial, sentira algum constrangimento, mas depressa esquecera. Afinal ele estava entre os melhores alunos o que lhe dera conforto para enfrentar algumas piadas. de mau gosto.
Sempre julgara que a obtenção do curso justificaria no futuro os sacrifícios que agora tinha de fazer. As férias que nunca pudera gozar, as amizades que não pudera partilhar, os amores que não vivera, tudo ele contabilizara como investimento que iria recuperar no final. Mesmo quando se sentira exausto, depois de serões mergulhado nos livros e aprendendo a utilizar o computador, comprado em segunda mão e pago em prestações, desenhando no excel cenários macroeconómicos, fazendo simulações sobre as curvas de rendibilidade de projetos comerciais, analisando o comportamento dos mercados financeiros, etc. nunca esmorecera. Mas no final interrogara-se: Teria valido a pena?
Teria valido a pena os
beijos que não dera, as carícias de que não sentira, as noites de amor que
ambicionara e apenas conseguira ocasionalmente e sem paixão? Em alguns momentos duvidara mas com o diploma na mão, tudo esquecera.
Chegara às portas do futuro, agora era só entrar. E então no silêncio do seu quarto gritara: Sim valera a pena, teria que valer a pena.Tinha vinte e três anos de idade e uma vida para viver.
Chegara às portas do futuro, agora era só entrar. E então no silêncio do seu quarto gritara: Sim valera a pena, teria que valer a pena.Tinha vinte e três anos de idade e uma vida para viver.
Depois foi o começo das
dúvidas. Respondera a centenas de anúncios de trabalho para o qual julgava
estar preparado e continuara sem resposta. O emprego no supermercado, fora e
continuava a ser o seu dia-a-dia.
Então acreditara precisar
de mais formação. E foi num mestrado que aplicou mais trabalho.
Enganara-se, o mestrado fora uma desilusão e não lhe acrescentara saber, apenas mais uma adenda ao currículo. Porque as oportunidades de mostrar o resultado do seu estudo foram poucas e para os lugares disponíveis encontrara interesses e valores mais altos do que o mérito académico.
Enganara-se, o mestrado fora uma desilusão e não lhe acrescentara saber, apenas mais uma adenda ao currículo. Porque as oportunidades de mostrar o resultado do seu estudo foram poucas e para os lugares disponíveis encontrara interesses e valores mais altos do que o mérito académico.
Tinha vergonha de olhar
os Pais que tudo lhe haviam dado. E no final restara-lhe a saudade pois que
eles velhos e doentes, esquecidos no mundo em que sempre viveram, esmagados
pelo trabalho e pelas privações, não resistiram a mais um Outono da vida. E partiram, de mãos vazias como sempre. E Eduardo ficou só. Guardara bem fundo as recordações, e como herança única os valores da amizade e o
respeito pelo trabalho que os Pais sempre lhe tinham ensinado.
Apesar dos momentos difíceis que a vida lhe destinara ainda não perdera a esperança. E continuara a enviar currículos nos quais tentava mostrar o
conhecimento duma formação que considerava responder aos desafios do momento. Mas havia qualquer coisa que ele ainda não percebera. Até que um dia, durante uma entrevista
para trabalho especializado na sua área, o gestor dos recursos humanos que o
recebera, apercebendo-se da sua desesperança, lhe apontara a falha, dizendo-lhe:
- Você
preenche todas as condições que o Banco exige para uma carreira normal. Mas tem
que olhar mais além, falta-lhe iniciativa e sobretudo ambição. No mundo da
finança isso é o mais importante. Ambição é aquilo que terá de mostrar. Não esqueça que no final será avaliado pelos resultados e não pelo seu saber académico. No seu percurso irá encontrar muitos tão preparados como você e para os vencer terá que ousar ir mais além.
Eduardo aprendera a lição e logo vira o resultado. Corria o ano 2003 e foi
selecionado para trabalhar num Banco de pequena dimensão, mas que ambicionava crescer,
inovando nos produtos com que apostava para conquistar quota de mercado.
E o jovem sabedor mas cauteloso, arriscou a transformação. E teve sucesso. Passou a integrar uma pequena equipa de jovens ambiciosos, dirigida por uma mulher bonita e insinuante. E durante dois anos a equipa fez progredir o negócio, com operações cada dia mais sofisticadas.
Eduardo entregou-se ao trabalho e deixou-se enfeitiçar pelos olhos de Beatriz, a chefe de equipa. A sua juventude era um valor que Beatriz, mais madura e experiente iria capturar.
E o jovem sabedor mas cauteloso, arriscou a transformação. E teve sucesso. Passou a integrar uma pequena equipa de jovens ambiciosos, dirigida por uma mulher bonita e insinuante. E durante dois anos a equipa fez progredir o negócio, com operações cada dia mais sofisticadas.
Eduardo entregou-se ao trabalho e deixou-se enfeitiçar pelos olhos de Beatriz, a chefe de equipa. A sua juventude era um valor que Beatriz, mais madura e experiente iria capturar.
E os dias foram rosas.
Eduardo estava feliz numa união que lhe dava prazer. Beatriz sabia ser terna
quando ele a procurava e ele entregava-se com paixão.
Tudo se combinava para a tempestade perfeita.