2 –
MARJORIE
Nascera
de um casamento improvável. O Pai, professor, austero e conservador nos
costumes e na política e a Mãe estudante de filosofia e que militou no
movimento estudantil que abanou a França nos anos sessenta.
Marjorie
cresceu num ambiente familiar frio. E foi isso que moldou a sua forma de estar
perante a vida e as pessoas que se cruzaram no seu caminho.
Andou
perdida na Universidade. Experimentou cursos técnicos que detestou e depois de
mais algumas tentativas acabou por escolher e com entusiasmo a carreira de
jornalista.
Quem
diria, comentavam os amigos. Uma rapariga bonita, interessante, criada no meio
da alta burguesia de Paris escolher como caminho, acompanhar o mundo em
constante evolução, conflitos, revoluções, afinal, perigos que uma mulher jovem
não estaria preparada para enfrentar.
Marjorie
deixou-se influenciar por jornalistas mais experientes que lhe contavam
episódios, alguns que até haviam custado a vida ou a sanidade mental dos que os
viveram. Ficava extasiada a ouvir contar reportagens sobre a guerra no Vietnam
e, mais próximo a tragédia na guerra da independência da Argélia e do terramoto
político que a descolonização haveria de causar no seu País.
Nos
meios que também frequentava, encontros entre emigrantes Portugueses que haviam
deixado o País, fugindo da guerra colonial. Aprendeu que muitos dos jovens que
conhecera, cantores de intervenção, refugiados políticos, sonhavam com um País
de sol e mar, livre das grilhetas da ditadura.
E
foi no Abril de 1974 que à jovem repórter Marjorie foi distribuída a tarefa de
relatar aos leitores do jornal, a liberdade que surgia no horizonte dum Povo
triste.
E a
sua vida nunca mais foi a mesma.
A
revolução dos cravos que os Portugueses viviam com entusiasmo e esperança
contagiou-a e decidiu ficar por Portugal.
Fez
amigos, participou no despertar dum Povo oprimido. Ouviu e leu os Poetas, ouviu
e aplaudiu os cantores, acompanhou os soldados.
Conheceu
um jovem oficial que regressara da guerra. Chama-se António e era na altura
finalista do curso de Direito da Universidade de Lisboa. Conheceu-o e começou
um grande amor.
Entregaram-se
à paixão que os unira e não quiserem discutir, sequer, o futuro. António
ingressou na Polícia Judiciária e o mundo em que mergulhou, tempo de desespero,
tempo de ódios e de crime, afastou-os. Marjorie sentiu-se uma peça quebrada da
engrenagem em que o companheiro se deixara envolver. Partiu com uma ferida no
coração e o futuro no ventre. Numa carta que deixou, contou a mágoa de um amor
traído. Mas no afinal, também reconhecia que o amor murchara como os cravos da
revolução de Abril e pedia para que ele a esquecesse. Ela seguiria o seu
caminho e cuidaria do filho que levava no ventre.
A
carta terminava: “ NON, JE NE REGRETTE RIEN”.
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