sexta-feira, 3 de maio de 2019

O CRESPÚCULO


Passaram 45 anos depois da revolução dos cravos. Tanta esperança, tanta alegria que, pouco a pouco, se foram transformando em desilusão, amargura, raiva e desesperança.

Quem nasceu durante a ditadura de Salazar, e comeu o pão que o diabo amassou, quem foi segredado no acesso à educação, quem foi convidado a combater nas guerras de África, foram os mais entusiastas cantores de Abril de 1974.

Quem diria que tantos anos após, depois de ilusão da entrada na União Europeia, da Europa unida pela história que se esqueceu podemos gritar, com toda a força que nos vai na alma, vencemos.

A ilusão da Comunidade Europeia, os seus valores e princípios, foram-se transformando num cemitério de promessas que, ano após ano, nos empurram para o destino que, os fundadores da ideia da Europa, nunca pensaram ser possível.

A União já não existe. Cada País semeia e colhe para seu proveito.

Todavia temos que fazer justiça aos povos que ainda resistem. Pelo menos enquanto a Comunidade tiver uma Assembleia para onde cada País elege os melhores, ou os mais afortunados para se governarem.

Dói mas o caminho seguido terá de ser mudado sobre pena de se assistir ao renascimento das ideologias que foram responsáveis por muitos milhões de mortos em duas guerras que se não podem esquecer.

E elas já fizeram o seu caminho e pouco a pouco destruirão o sonho dos criadores da União da Europa.

Valha-nos o senhor.

E no crepúsculo da vida, guardo os meus sonhos. Que mais posso fazer?





ADEUS

                            (EM JEITO DE POEMA)         

                           

                         Fui guardador dos sonhos, que sonhei

                                   E dos momentos que vivi.

                                   Guardei memória do que amei

                                   Escondi lágrimas pelo que perdi.

 

                                   Fui guardador de estrelas, que contei

                                   Nas noites quentes em que não dormi.

                                   Lembro os desgostos que calei

                                   E dor, pelos dias felizes, que esqueci.

 

                                   Fui memória de histórias, que inventei,

                                   Autor de poemas, que não escrevi.

                                   Fui quase tudo o que não esperei ser

                                   Nuvem, miragem e em tudo me perdi.

 

                                   Sou lembrança do passado, do presente

                                   Andarilho dos caminhos, que percorri.

                                   Cerrei os punhos pela dor pungente

                                   Que me dilacerou, mas a que não fugi.

 

                                   Fui o princípio, o meio … e o fim

                                   Filho do sol e da lua, nascido da terra

                                   Feito de um pó tão fino, que o vento levou

                                   Parto desfeito ao ter perdido a guerra.

 

           



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