Passaram 45 anos depois da revolução dos cravos. Tanta
esperança, tanta alegria que, pouco a pouco, se foram transformando em desilusão,
amargura, raiva e desesperança.
Quem nasceu durante a ditadura de Salazar, e comeu o pão que
o diabo amassou, quem foi segredado no acesso à educação, quem foi convidado a combater
nas guerras de África, foram os mais entusiastas cantores de Abril de 1974.
Quem diria que tantos anos após, depois de ilusão da entrada
na União Europeia, da Europa unida pela história que se esqueceu podemos
gritar, com toda a força que nos vai na alma, vencemos.
A ilusão da Comunidade Europeia, os seus valores e princípios,
foram-se transformando num cemitério de promessas que, ano após ano, nos
empurram para o destino que, os fundadores da ideia da Europa, nunca pensaram
ser possível.
A União já não existe. Cada País semeia e colhe para seu proveito.
Todavia temos que fazer justiça aos povos que ainda
resistem. Pelo menos enquanto a Comunidade tiver uma Assembleia para onde cada
País elege os melhores, ou os mais afortunados para se governarem.
Dói mas o caminho seguido terá de ser mudado sobre pena de
se assistir ao renascimento das ideologias que foram responsáveis por muitos
milhões de mortos em duas guerras que se não podem esquecer.
E elas já fizeram o seu caminho e pouco a pouco destruirão o
sonho dos criadores da União da Europa.
Valha-nos o senhor.
E no crepúsculo da vida, guardo os meus sonhos. Que mais
posso fazer?
ADEUS
(EM JEITO DE POEMA)
Fui
guardador dos sonhos, que sonhei
E dos
momentos que vivi.
Guardei
memória do que amei
Escondi
lágrimas pelo que perdi.
Fui guardador
de estrelas, que contei
Nas noites
quentes em que não dormi.
Lembro os
desgostos que calei
E dor, pelos
dias felizes, que esqueci.
Fui memória
de histórias, que inventei,
Autor de
poemas, que não escrevi.
Fui quase
tudo o que não esperei ser
Nuvem,
miragem e em tudo me perdi.
Sou lembrança
do passado, do presente
Andarilho dos
caminhos, que percorri.
Cerrei os
punhos pela dor pungente
Que me
dilacerou, mas a que não fugi.
Fui o
princípio, o meio … e o fim
Filho do sol
e da lua, nascido da terra
Feito de um
pó tão fino, que o vento levou
Parto desfeito
ao ter perdido a guerra.
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