quinta-feira, 25 de julho de 2013

VIAGENS AO MUNDO DOS SONHOS


1 – A janela mágica

 

Foi um gesto sem explicação que ao entrar na sala grande, o levara a escolher outro lugar. Deixara o cadeirão do costume, onde se habituara a ler o jornal, olhar a televisão e esquecer os sonhos. Era o seu lugar de conforto, protegido por livros que queria reler e DVD de séries de culto que revia uma e outra vez.

Mas foi naquele dia de um princípio de verão algo tímido, onde o sol teimava em se esconder nas nuvens que passavam no horizonte, um dia sombrio e triste, que trocara de lugar e, sem saber porquê, se sentara num sofá virado para a janela.

Estava cansado, desanimado e vencido. Fechou os olhos, e sentiu que a aquela sala mudara. Ou fora ele que pela primeira vez a olhara com outros olhos? Algo o havia conduzido àquele sofá onde se sentou pela primeira vez depois de tantos anos.

De repente reabriu os olhos e ficou com eles fixados na janela. Afinal, apenas conseguia ver a copa de algumas árvores que baloiçavam ao sabor do vento, as nuvens que se dirigiam, apressadas para sul. Pouca coisa afinal, mas voltou a olhar mais longe, e esbarrou com os blocos de apartamentos do outro lado da avenida, belos exemplares da arquitetura nacional, idealizada por construtores civis e aprovada pelos técnicos Camarários a troco dos envelopes do costume, e que conseguiram destruir uma parte da cidade e dar corpo às cidades dormitórios da periferia, onde tudo ficara igualmente feio.

Fixou-se com mais atenção dos estendais de roupa que adornavam os apartamentos. Sim nas janelas e varandas não vira flores, apenas roupa estendida secando ao sol. Era um espetáculo pouco atraente que não justificava, sequer, um olhar. Todavia, naquele dia, por entre as nuvens fixou-se num estendal quase vazio. Nele só viu uma peça de roupa feminina, um vestido vermelho, assim lhe parecia, e que esvoaçava ao vento desafiando na outra extremidade umas calças de homem que lutavam para se libertarem e irem ao encontro do desafio mas, de tal modo estavam presas que se não conseguiam soltar.

De olhos fechados imaginou aquele bailado feito de promessas e de desejo que o vento dirigia. Era como se visse num espelho mágico um momento de paixão. Uma mulher atraente que com o seu vestido vermelho, prometia amor e logo fugia para desespero do homem que se não conseguia libertar.

 

Fora um momento belo que o abrir dos olhos depressa destruiria. Afinal fora apenas um breve sonho que se desvanecera.

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