FLORIDA
Fechou a caixa. Afinal fora mais simples de se encontrar,
de recordar onde estava e qual a sua missão.
Arrumou a bagagem e preparou-se para sair. Barba feita,
roupa lavada, olhando ao espelho Pedro percebeu que estava na posse das suas
capacidades. Olhou as mãos, que sempre lhe tinham merecido especial atenção,
não fora o facto de serem uma arma que muitas vezes lhe salvara a vida.
Precisavam de cuidados e teria de procurar um salão com manicuras para lhe
darem o aspeto a que sempre se habituara. Espreitou na janela, estava um dia de
sol, prenúncio de um dia quente. Obviamente só poderia ser assim. Estava
algures na Flórida, o sol brilhando e o azul do mar das Caraíbas eram a prova.
Desceu do quarto carregando a bagagem. No saco de viajem
encontrara roupa nova que agora vestida, lhe davam o aspeto de turista
endinheirado.
Foi o que certamente chamou a atenção do rececionista do
apart-hotel que o olhou com um sorriso, talvez antecipando uma boa gratificação
e ao receber a chave do apartamento lhe deu as notícias.
- É bom ter amigos e o senhor é a prova. Quando na semana
passada ajudei a subir para o quarto, o homem cansado e ferido, que o senhor
Alonzo, proprietário deste bloco de apartamentos aqui acompanhou, duvidei ser
possível uma recuperação como a que, graças a Deus, hoje posso testemunhar.
Pedro esboçou um
sorriso, do bolso retirou dinheiro, separou uma nota de cinquenta Dólares e
estendeu-a ao rececionista e ao pedir a fatura do alojamento, soube o resto da
história que, aliás, já imaginara.
- As suas despesas foram asseguradas pelo senhor Alonzo,
respondeu o rececionista enquanto aceitava a gorjeta. Ele foi muito claro, o
senhor Morales seria tratado como um amigo e não um hóspede. E não se referia
apenas ao alojamento, também garantiu que uma equipe médica do Hospital de” las
Cruces”, faria o seu acompanhamento enquanto a sua saúde o justificasse. O meu
patrão está de viajem, ficará feliz por o saber de boa saúde e certamente
entrará em contacto com o senhor logo que tal lhe for possível. E com um
sorriso estampado no rosto queimado pelo sol das Caraíbas e no sotaque
naturalmente latino, o rececionista abriu uma gaveta, retirou um envelope
fechado que estendeu ao hóspede, concluindo:
-O Senhor Alonzo antes de partir deixou-me este envelope
que eu lhe deveria entregar logo que o senhor mostrasse disposição para partir.
É este o momento.
Pedro agradeceu com um sorriso, abandonou o hotel, tomou
um táxi que passava e deu como destino o aeroporto internacional de Miami.
Enquanto o táxi fazia o longo percurso entre o
apartamento que ocupara em Daytona Beach e o aeroporto abriu o envelope. Sem
surpresa encontrou um cartão bancário, uma licença de condução, uma chave
solta, uma fotografia de um casal, com um número de telefone escrito no verso e,
finalmente, um passaporte. Percebeu a mensagem, o casal seria o alvo a abater
por Pedro Morales, agora a sua identidade. O passaporte fora emitido em Porto
Rico, tinha averbado bastantes vistos, o último dos quais confirmava a sua
entrada nos EUA, no terminal de cruzeiros de St. Augustine. Florida.
Sem comentários:
Enviar um comentário