sábado, 2 de agosto de 2014

O FIM DO CAMINHO

 




PARA ALÉM DA SAUDADE

A ligação entre duas pessoas com vidas tão diferentes fora um risco. Porém, para um jovem que passara da adolescência para a vida adulta, o fascínio que Beatriz lhe causara era natural. Nunca se sentira tão próximo de uma mulher que, mais experiente, usava a sua beleza para atrair os homens. E Eduardo deixara-se capturar e passara a viver os mais excitantes momentos da sua vida.  

Beatriz sabia de que a relação amorosa com Eduardo era inevitável. Ela também se sentira atraída por um homem mais novo, elegante e terno que a olhava com paixão e desejo. Partilharam os momentos mais inesquecíveis, tudo era volúpia, mas doseada com momentos de ternura e amor. Eduardo estava mais do que apaixonado, descobrira um mundo novo que o levara viver a loucura de cada momento em que estavam juntos. Beatriz a deusa do amor, era adorada com paixão e daria tudo por aquela mulher. Quando Beatriz lhe sussurrava ao ouvido o apelo do amor, o sangue corria em torrentes pelo corpo e o sexo era intensamente vivido e repetido até ao esgotamento.

Para ele, cada momento fora um sonho de amor, vivido com delírio, que lhe deixara marcas no corpo e da alma. Fora mais do amor, fora a loucura dos desejos, fora o êxtase sublime, fora a pressa de viver, fora o despertar dos mágicos.

Não imaginara sequer, que uma sombra, ainda que passageira, pudesse ofuscar o brilho dos olhos com que a revia, mesmo nas noites de insónia.

Na verdade, Eduardo sentia que enfrentava alguns problemas no trabalho e sobretudo com compromissos financeiros que assumira e que se encontravam quase todos em incumprimento. Fora o andar que comprara para ser o seu ninho de amor, mais o carro para os passeios, para as festas, a que Beatriz estava habituada e que tanto prazer lhe davam. Mas tudo fora uma decisão sua, Beatriz nada exigira.

Mas as noites de insónia passaram a ser mais frequentes e ele começara a perder o controlo. Nada quisera deixar transparecer, um sorriso e um beijo pela manhã era um bálsamo que calmava os seus receios e um tónico para enfrentar cada dia, cada mês, cada ano.

 E foi assim que se entregaram durante dois anos, que foram, como mais tarde havia de recordar, os únicos e irrepetíveis momentos da sua vida.

Entretanto Beatriz mostrava alguns sinais de afastamento. Eduardo que havia ouvido conversas nos corredores do Banco, compreendera que ela teria uma ligação já muito íntima com um acionista de referência e foi sem surpresa que, um dia triste como são os dias sem sol, Beatriz lhe disse que o romance estava esgotado.

Foi um golpe profundo que deixaria feridas por sarar.

Mais, porque a mulher dos seus sonhos lhe dissera ter sido promovida para um lugar de topo da Administração e estava entusiasmada com a oportunidade. E que nesse novo caminho ele, não teria lugar.

Para Eduardo fora como uma tempestade que o iria submergir. Apagou o brilho no olhar, fechou a cadeado o seu coração e passou de um jovem ingénuo para um homem fechado e descrente. De tudo e de todos. E guardava bem no fundo as palavras que Beatriz lhe dissera na separação:

” Todo o princípio tem um fim. A vida não é um caminho de rosas que se possa caminhar para sempre. Eu entreguei-me, de corpo e alma. Contigo reaprendi a amar, a viver cada dia como se fosse o último, bebendo o amor e a paixão. Peço-te agora, não me guardes rancor, eu apaixonei-me por outro homem e esse vai ser o meu destino. Dos nossos momentos guardo a loucura das nossas noites, a ternura que sempre vi no teu olhar, Segue o teu caminho, tu vais encontrar alguém que te irá fazer muito feliz.”

Corria o ano de 2007.Profissionalmente a sua carreira seguira em sentido ascendente. Mas na solidão das noites, Eduardo passou a ter tempo para olhar para os resultados do Departamento a que pertencia e dedicar mais atenção à apresentação dos resultados trimestrais do Banco. E estremeceu. Havia qualquer coisa que não dava certo.

Foi-lhe penoso ter de reconhecer que a paixão lhe fizera esquecer a crueza dos números. E, talvez, tivesse acordado tarde.

 

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