quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O FIM DO CAMINHO






O IMPÉRIO DOS SENTIDOS

A solidão mata, pensava Eduardo, em cada hora, em cada dia e no inferno das noites em que  sofria a desilusão por um sonho destruído.

Tivera dificuldade em enfrentar o dia-a-dia. O trabalho já não o motivara, as operações que controlava não passavam de trabalho quotidiano, feito sem chama, sem estudo, sem interesse. Tinha medo da noite e dos pesadelos. Pensara terminar com uma vida que de repente se esvaziara. Sem interesses, sem sossego, andava sem destino pelas ruas vazias da cidade que dormia.  No labirinto de emoções em que se deixara enredar, nem conseguira escolher a saída e ou definir um caminho.  Tantas vezes pensara desistir, abandonar o trabalho, partir sem destino à procura dum raio de sol. Mas nada faria sentido. Porque na verdade era prisioneiro dos compromissos que assumira e porque não conseguira apagar da memoria a mulher que fora sua. 
Passar uma esponja por aquele tempo em que se dera de corpo e alma, era tarefa que não desejava, sequer, tentar. Porque no meio da desilusão e da tristeza continuava a sentir que Beatriz fora, ainda era, e seria sempre, o amor da sua vida.

Com o coração sangrando era um autómato vagueando ao sabor do vento. A realidade era uma ideia cada dia mais difusa, mais sombria, mas dolorosa. Precisava de ajuda mas não queria mostrar o seu mal. Na realidade sentira que se deixasse morrer a paixão, nada mais teria para alimentar o império dos sentidos. 
Quase em desespero começara a beber. Primeiro um copo que lhe queimara as entranhas, depois a habituação e por fim alguma tranquilidade.  Fora o álcool  que lhe aliviara as dores e foi sentado no balcão de um bar, que encontrara um companheiro que, com a experiência  o ajudou a fugir do perigo de se deixar apanhar pelo vicio. Não esqueceria as palavras do companheiro, especialista na filosofia da vida, lhe dissera: "A bebida não o vai ajudar a resolver os seus problemas. E eu sei o que digo, porque um copo estranha-se e depois entranha-se e a vida será apenas a antecâmara da morte. Eu encontro-me na beira do abismo. Hoje poderá ser o ultimo dia da vida que, afinal, não vivi. Não queira encontrar num copo a coragem que lhe falta para viver. Não seja cobarde."

Eduardo bebia para esquecer os sonhos traídos.  Perdera o domínio dos sentidos, mas começara a tomar consciência que seguia o caminho errado.

Precisava vencer o medo, e assumir que, mesmo nos momentos mais complicados que vivera,  não deixara de saber fazer o seu trabalho. E que fazia o que gostava e para que tanto tinha trabalhado. A memoria dos Pais  ajudara a tomar consciência de que não podia desistir.
 E, pouco a pouco foi dando mais atenção ao trabalho.
 Pertencia a uma estrutura fundamental do Banco, a informação dos e para os mercados. Mas quando tudo parecia correr bem, Eduardo, meticuloso como sempre fora encontrou  indícios que algo de errado estava a acontecer. Nem queria acreditar. Alguém andaria a manipular as contas com movimentos estranhos entre filiais e Empresas acionistas e a fazer operações que contrariavam a boa prática bancária. E mais uma dor lhe esmagou os sentidos.

Que triste sina fora a sua. Perdera a mulher que o enfeitiçara e agora a confiança no Banco que ele julgara estar acima de quaisquer suspeitas. Tudo se modificara, o mundo continuaria a girar, enquanto ele tentaria sobreviver no mar em que a sua vida naufragara.

Tentaria encontrar uma réstia de coragem para agir. Mas perguntava-se: Coragem para quê?
Mas encontrou uma resposta, Ele devia justificar a confiança que sempre lhe haviam dado. E, era também um resposta simples concluíra, se nada tenho, nada terei para perder!
 Iria alertar a Administração do Banco! Sim, tinha provas mas … e aí hesitara, estaria a denunciar algum colega, uma Direção, ou porque não, algum membro da própria Administração? E quais seriam as consequências?

Foi cheio de dúvidas que procurou alguém próximo do controlo de gestão para entregar a pasta em que guardara os documentos que apoiavam a suspeita de fraude.
Foi recebido e acompanhado para uma sala de reuniões onde um responsável  qualificado o iria receber.

 E quando a porta se abriu, sentiu o vento que iria completar o desmoronamento dos sentidos.  Fora  a entrada de Beatriz que sorrindo ocupou o lugar na cabeceira da mesa de reuniões. 
 
Eduardo lívido e respirando com dificuldade, baixou a cabeça e soltando uma lágrima segurou com força a pasta que pretendera apresentar. Nada conseguiu dizer, levantou-se e saiu. No corredor sentiu um cheiro a mentira, a ganância e vomitou. 

Naquele momento teve consciência que tudo se acabara. A paixão fora uma desilusão que se desfez e o respeito pelo Banco sumira-se. Agora seria livre. Assinara o final da história, da sua história.

 

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