segunda-feira, 2 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

DOIS CAMINHOS

Uma noite quente, num quarto de hotel, o amigo americano não conseguia dormir. Ardia em febre e o suor empapava a roupa. Levantou-se e apoiando-se pelo caminho, foi bater à porta do quarto onde o companheiro descansava, na primeira noite da sua aventura.
Ruben acordou sobressaltado, ficou inquieto e com receio que alguém o procurasse. Tinha medo da família da Mercê, estava com medo que eles já andassem à sua procura.
Prestou atenção e ouviu a voz do amigo americano que pedia ajuda.
Deu um salto, acendeu a luz e abriu a porta. Caído e encostado na parede do corredor, Robert quase a desfalecer, estendeu a mão murmurando:
- Preciso de ajuda, tenho muita febre.
 Ruben levantou-o e ajudou a que ele se deitasse da sua cama. Depois com uma toalha molhada em água fria ia limpando o suor fazendo com que a temperatura baixasse. No seu saco de viagem guardara uma caixa de comprimidos que a Mãe lhe dera, lembrando que eram aspirinas para combater a febre.
Deu dois comprimidos que Robert engoliu com um copo de água.
O amigo americano fechou os olhos, a temperatura descera e parecia descansar.
Ruben ficou sentado na beira da cama dormitando mas atento aos movimentos do doente. Era assim que se lembrava de ver a mãe fazer quando um dos filhos aparecia com febre alta, situação que era frequente naquele clima.
O dia nasceu, a luz entrou pela janela do quarto. Ruben abriu a janela e espreitou o sol que aparecia vindo do lado do mar. Era bonito, a luz do sol fazia dançar as ondas. Ruben via pela primeira vez o mar das Caraíbas. Por um momento sentia a nostalgia de uma paisagem única e imaginava quanto teria de andar para chegar à terra prometida.
O americano acordou fraco mas bem disposto. Olhou para o amigo e disse:
- Assustei-me já não me lembrava de ter uma crise como esta. Ajuda-me a voltar ao meu quarto, pede para nos servirem o pequeno almoço porque quero conversar contigo. Enquanto comiam, Robert olhava fixamente o rosto do amigo como se procurasse algum sinal de inquietação. Mas Ruben estava tranquilo embora receasse que a conversa do amigo, pudesse alterar o rumo da sua vida.

- Ruben, meu bom amigo, senta-te e ouve o que eu te quero contar. Tu já imaginaste a minha idade, estou certo, mas também julgo que andarás longe da realidade. Eu já dobrei os setenta anos e desde os trinta que percorro a América atrás dos mitos e dos sinais da civilização Maia.
Admito que no teu pensamento te interrogues o que faz com que um homem velho, gasto, sem família ande a correr mundo. Pois bem, fiquei doente e a medicina fez o seu diagnóstico e prescreveu a terapia. Deveria descansar, alimentar-me regularmente, dormir bem, fazer exames médicos frequentes, tomar uma série de medicamentos respeitando a periodicidade indicada e morrer um dia, no conforto da minha casa. Sim, confirmaram uma doença que não perdoa. Eu tomei consciência que ainda me faltava percorrer parte do caminho onde se sentia feliz. Decidi ignorar as recomendações da medicina e optei por procurar nas florestas, nos caminhos percorridos por civilizações destruídas o prazer da descoberta, respirando o ar puro da natureza. Foi o que me trouxe ao teu País.

Esta noite senti que já não me restará muito tempo e não consigo deixar de pensar que ainda me falta completar um ciclo. A minha saga só ficará completa se subir o caminho até ao lago e ruínas de Tikal. Sem essa visita o meu roteiro ficará incompleto. E, repara, esse lugar mítico é na tua terra.
Depois irei até Belize, um voo para Miami e o regresso a casa. Um mês, dois meses, talvez.

Porém para o teu destino será uma viagem desnecessária. Por isso te proponho o seguinte:
-Vais tomar o barco de cruzeiros até ao Panamá. Eu posso garantir a tua passagem sem qualquer problema, sou amigo do comandante do navio.

No Panamá vais contactar um outro amigo que trabalha no Consulado Americano. Procuras o Sr. Frank Perry e ele ajuda-te com um visto que te possibilita a entrada nos Estados Unidos. Será um visto temporário, um ano no máximo. Mas depois poderá ser prolongado. Eu vou-lhe enviar ainda hoje ou amanhã, por correio electrónico os teus dados e o meu pedido. A tua residência nos EUA será o meu apartamento em Nova Iorque e eu assumirei a responsabilidade.

 Hoje vamos ao Banco e eu procederei ao levantamento de dólares que te permitirão a compra das tuas passagens de barco e de avião e ainda ficarás com algum disponível até encontrares trabalho. Depois quando eu voltar pagas o meu empréstimo. Está bem assim?
Aceito a vontade de me ajudar e também compreendo o seu desejo de visitar Tikal. Sempre ouvi dizer que é um lugar mágico e que nunca se pode esquecer. Mas está doente, será um trajecto longo, até perigoso e ficarei preocupado. Porque é que eu não lhe faço companhia? É para isso que os amigos servem não é verdade?
- Sim é verdade, mas tens que compreender que é a minha última viagem e que, para mim é muito importante que a faça só. Aliás o que é que me pode acontecer? O pior será ficar sepultado numa floresta, quem sabe, protegido pelas nuvens. Confesso que se isso acontecer o risco terá valido a pena.
  
Mas fica tranquilo, eu não me vou esquecer de ti e prometo que vou voltar à minha casa e que tu lá estarás à minha espera. Não nos vamos despedir. Terei que escrever o livro que te prometi.


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