quinta-feira, 29 de março de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

3 –  UM POEMA

No caminho decidiram parar numa localidade considerada como o paraíso dos arqueólogos. Robert já conhecia os tesouros de Santa Lucía Cotzumalguapa mas aproveitou para mostrar a Ruben, dizendo:
- Vê meu amigo. Estas florestas, estes vales, montanhas, vulcões são o melhor que a tua terra tem para mostrar, lembrando que a civilização dos povos antigos foi mais espiritual e complexa do que os livros nos dizem. As palavras que nos deixaram estão nas estátuas e cada uma tem o seu significado.

É bom para o teu País que os turistas aqui venham mas para isso é preciso que eles se sintam em segurança, o que, como sabes, não é o caso.
Mas vocês, ao mesmo tempo que devem fomentar o turismo, que vos trará riqueza e trabalho, também devem defender o vosso património, a herança dos vossos antepassados. Porque se o não fizerem perderão a vossa identidade e as gerações futuras não vos perdoarão.
Aprende Ruben, a economia que vocês precisam não pode matar a vossa riqueza.
Tu, que vais procurar um futuro melhor para ti e para a tua família, sabes que não será fácil o caminho, não te iludas e nunca deves esquecer as histórias que o teu Pai te contou. Elas são a tua herança, a tua ligação à terra que te viu nascer.
Enquanto falava com o amigo, o arqueólogo examinava cada estátua, cada pedra, mesmo coberta por erva, tomava apontamentos no caderno que sempre trazia, desenhava o lugar e depois numerava os desenhos.
Ruben assistia impressionado. Robert falava com as estátuas que encontrara, que anotava como pertencendo a um templo a um monumento ou um túmulo. Estava ausente e fascinado e isso lia-se nos olhos.

Ruben estranhou a ausência de máquina fotográfica e falou disso. Robert abriu os olhos dizendo:
- Olha meu amigo, tirar fotografias como tiram os turistas, e apontou para um grupo que rodeava uma estátua no meio da selva, enquanto o guia fazia o enquadramento e tirava fotografias, para mim não é importante. Diz-me tu, aquelas pessoas, vão regressar a casa e mostrarão as fotografias aos amigos. Delas irão guardar os amigos, os passeios, mas as maravilhas da natureza e os tesouros deixados pelos antigos, estátuas, pedras, os buracos escavados nas rochas, as árvores milenares, serão apenas paisagem. Não serão sequer fotografias como obra de arte, o que eu compreendia, mas simples recordações de viagens, que o tempo apagará.
E o mistério, o encanto duma civilização desaparecida há muitos séculos, isso só poderás encontrar nos livros especializados e nas histórias contadas de geração em geração. E isso é que faz a história. E continuou:
- Um dia, ainda hei-de escrever um livro contanto a minha peregrinação pelas Américas. Guardarei um exemplar para ti, prometo.
 Por falar em livros, responde Ruben, eu tenho comigo um livro que o meu Pai me deixou como recordação ou herança. Ainda não tive tempo para o ler, mas estou certo que o Senhor o conhecerá!
- Pode ser, mas não me chames de senhor. Somos amigos ou não somos? Vá lá, mostra lá o livro!
Ruben com todo o cuidado desembrulhou o velho livro de Ruben Dário.
O amigo americano olhou para o livro, folheou e leu alguns poemas com ao mesmo entusiasmo de que falara da arqueologia. E disse:
-Ruben o teu Pai deixou-te um livro que é uma obra-prima de um dos maiores escritores da América Latina. Eu já o li, numa versão mais actualizada, pois aquele que tu trazes é bem antigo. Não me admiraria que ele já tivesse sido de um parente mais afastado, pois pareceu-me publicado respeitando a língua original. Mas o autor não é do teu País. É teu vizinho, nasceu na Nicarágua.
Aí está uma coisa que deves aprender. Ler um poema é viver cada palavra, com amor ou com raiva. Repara, eu vou dizer um poema que muitas vezes repito, nas noites em que estou só, olhando a magia das formas.
                                               NOCTURNO         (A Mariano de Cavia)
Los que auscultasteis el corazón de la noche,
los que por el insomnio tenaz habéis oído
el cerrar de una puerta, el resonar de un coche
lejano, un eco vago, un ligero rüido...

En los instantes del silencio misterioso,
cuando surgen de su prisión los olvidados,
en la hora de los muertos, en la hora del reposo,
sabréis leer estos versos de amargor impregnados...

Como en un vaso vierto en ellos mis dolores
de lejanos recuerdos y desgracias funestas,
y las tristes nostalgias de mi alma, ebria de flores,
y el duelo de mi corazón, triste de fiestas.

y el pesar de no ser lo que yo hubiera sido,
la pérdida del reino que estaba para mí,
el pensar que un instante pude no haber nacido,
¡y el sueño que es mi vida desde que yo nací!

Todo esto viene en medio del silencio profundo
en que la noche envuelve la terrena ilusión,
y siento como un eco del corazón del mundo
que penetra y conmueve mi propio corazón.

Ruben Dário

Olha Ruben,  vou mudar o programa. Pensei descer a costa do Atlântico, passar por Salvador, pela Nicarágua, Costa  Rica e depois o Panamá.  Mas nestes Países não espero encontrar grandes motivos de interesse para a minha pesquisa. O melhor, é na Nicarágua, mas tu já o tens. é o livro. Por isso vamos ficar uns dias  por aqui, eu quero visitar mais sítios que programei. Depois venderemos a carrinha e seguiremos a viajem num barco de cruzeiro.

No Panamá vamos tentar encontrar um barco que nos leve a Miami. Teremos que correr alguns riscos, principalmente tu, mas a vida sem riscos também não é vida.          
         

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