E A ESTRELA APAGOU-SE
Era o fim de um dia de verão,
daquele período de férias onde quase nada acontece. Mas para ele, era apenas um
dia de trabalho de um lado para o outro lado do mundo.
Voava de Singapura para Nova Iorque.
Regressava a casa.
A noite caiu e o céu encheu-se de
estrelas a brilhar.
Fascinante, murmurou Diogo que
seguia sentado junto à janela no avião que cruzava os céus. Mas as estrelas
eram diferentes, não as reconhecia, ele que quando miúdo apreendera a
identificar estrelas e constelações. De repente o olhar acompanhou uma estrela
que lhe parecia cansada de tanto brilhar e tremendo, se apagou.
Que pena, quando uma estrela morre,
na terra, alguém ou qualquer coisa se apaga também. Cerrou os olhos, voltou à
sua juventude e lembrou-se da conversa com o Pai que por hábito se estendia
sobre uma parede que segurava o caminho que passava à beira da casa, enquanto contava
histórias e memórias, sempre olhando o céu e acompanhando o caminho das
estrelas. Sim, fora naquela casa velha onde nascera e se habituara a sonhar o
futuro.
Estranho, como a tantos milhares de
quilómetros de distância e decorridos mais de trinta anos a memória lhe trazia
a figura do Pai. E lembrava-se dos conselhos e da magia nas cálidas noites de
Agosto. Fora uma escola onde bebera da sabedoria daquele homem do campo,
filósofo das veredas que havia, apenas, cursado a escola da vida.
E lembrou-se da última lição, que o
Pai lhe dera, desta vez deitado na cama onde aguardava com a serenidade o fim
da sua viagem. O apagão da sua estrela.
As palavras foram suas companheiras
durante muito tempo mas, quase sem saber como, deixara-se capturar por outros
valores e só agora, olhando o céu lhe despertaram a memória.
- “ Filho, a vida tem que ser vivida
sem temores, sem medos, acreditando sempre que somos capazes, que
conseguiremos, atingir o nosso objetivo, respeitando os outros, aprendendo com
os erros, ouvindo o saber dos mais velhos e lendo livros. A vida só assim fará
sentido. E se alguma vez te sentires perdido, olha para as estrelas, quem sabe
encontrarás a tua.”
Pobre Pai, o teu filho perdeu-se nos
caminhos da vida e na solidão dos dias e noites e esqueceu-se de procurar a
estrela da vida. E a estrela apagara-se.
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