O IRMÃO DO MEIO
Foi no verão de
42 que nasceu o irmão do meio. Cresceu no seio de uma família pobre, vivendo no
trabalho da pouca terra que trabalhavam regando-a com o suor do rosto. Era
apenas mais uma, como quase todas neste País desgraçado. Mas que soube criar os
laços e gerir os afetos. Nem as lágrimas que chorou, nem as privações ou as
dificuldades dum dia de trabalho, feito de sol a sol quebraram a ternura dum
olhar ou de um abraço. Nunca se deixaram vencer. O irmão do meio, nasceu num
tempo de dores e tragédias. Algures, bem perto ou mais longe, morriam milhões
de pessoas vítimas da guerra que varria a Europa e a Ásia. A loucura de uns, a
indiferença de muitos e a comodidade de outros, ensanguentaram o mundo. Mas,
nós por cá, todos bem. Pobres e alegretes, protegidos pelo chapéu de um ditador
que se vendeu a uns a e outros, conforme era mais conveniente. Esse chapéu
enquanto nos abrigava, manteve-nos na ignorância dos mais elementares direitos.
O direito à justiça isenta e justa, o direito à educação que era um privilégio
para alguns, á saúde pois para morrer não era preciso médicos nem hospitais, o
direito a um trabalho pago sem depender da boa vontade dos senhores da terra.
Foi nesse País que o irmão do meio ouviu os sinais da fome, os gritos
sussurrados sinais de medo e desespero dos mais pobres entre os mais pobres. Mas tudo na paz
do Senhor, pois gritar era meio caminho andado para a prisão ou para o degredo.
Foi ouvindo as histórias dos mais velhos que o irmão do meio cresceu e se fez
homem. E muitas histórias tristes o acompanharam pela vida mas, também muitos
gestos de amor e de partilha que o ajudaram a crescer e a acreditar que a um
dia o seu País iria ser diferente. Hoje, tantos anos passados, o irmão do meio
teima em resistir, mais um dia que seja para olhar para o passado recordando os
que já partiram e temer pelo futuro, sem esperança, para a geração que vai
deixar. Foi o tempo de crescer, de lutar numa guerra e de crer que a liberdade
iria passar e ficar por aqui. Foi mais um sonho que findou e hoje, velho e
vencido o irmão do meio, chora.
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