domingo, 8 de março de 2015

Cântico Negro











Hoje vou tentar contar uma história. Uma história que começa lá longe, nos primórdios da civilização ocidental e que se acaba, nos nossos dias.


É uma história escrita pelo sangue, dum povo que, partiu nas caravelas procurando e encontrando outros povos, outras terras. E deu a vida ao mar em que navegou.


X. Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


(Mensagem de FERNANDO PESSOA)


E esse povo que ficou para sempre ligado ao mar, de costas voltadas para a Europa, que sempre nos viu como um povo de servos bem comportados.


E este povo de servos que foi conquistado por Reis valentes e destemidos, mas que até teve um Rei que escrevia poesia, foi perdendo a sua valentia, esqueceu a coragem dos seus antepassados e deixou-se capturar pelos medíocres que durante dezenas de anos prosperaram à sombra dum ditador, que convivia com o Franco e fazia por ignorar os horrores da nazismo e da sanha sanguinária de Hitler e dos seus comparsas.


E este Povo resistiu à pobreza, à ignorância, mas que guardou sempre o orgulho duma nação de Navegadores e também de Poetas.


E fez uma revolução cujo emblema foi uma flor no cano de uma espingarda e o olhar terno de uma criança.


Pois foi assim a gesta, o triste fado deste País de brando costumes que, sem um grito deixou que tudo fosse vendido, as fábricas, a Banca, as redes de energia, que ainda acabará por vender a água dos rios que nos percorrem. E até para maior vergonha, vendeu a pobre língua.


Hoje o Português já não é a língua de Camões, de Pessoa, de Herculano, de Régio, de Torga, de Saramago e de todos os outros que escreveram os livros e os poemas que os que nos (des) governam, já esqueceram ou nunca souberam.


Que mais teremos de vender? Talvez uma mão cheia de políticos, haja quem os queira comprar, pois o mundo está cheio de vendilhões do templo.


Eu não sei por onde ir, sei que o caminho se vai estreitando, mas grito pela voz de um grande Actor e faço minhas as palavras dum grande poeta.


NÃO VOU POR AÍ.

























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