O INVERNO DO NOSSO DESCONTAMENTO
Não queria acreditar, mas as
memórias mais antigas, surgiram com tantos pormenores que, via o passado com os
olhos do presente.
Não era contudo um bom sinal.
Porque enquanto me lembrava de factos da minha infância esquecia as notícias
dos dias recentes. Seria uma recusa em enfrentar ou sequer tentar compreender,
que o tempo mudou. E mudou tanto que dói pensar que 5% da população mundial
controla mais de 90% do dinheiro e dos recursos.
Custa-me e crer que o mundo hoje
é mais perigoso do que o tempo em que nasci, o verão de 42. Talvez por me
recusar a aceitar essa verdade, fujo e regresso ao passado.
O pesadelo nos dias sombrios de
miséria e desespero, cheios de raiva, a recusa de ouvir os discursos medíocres
e voltar a gritar BASTA de mentiras e de promessas vãs, passaram a ser um
suplício de cada dia. Anseia-se pela noite e pelo regresso ao passado. Os
sonhos comandam a vida, já dizia o Poeta, pois são a barreira que impede a
passagem à loucura.
E por isso o irmão do meio voltou
à casa onde nascera e vivera a sua juventude.
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