QUATRO SONHOS
A M O R
A CASA NA COLINA
6 – ANGÚSTIA
Luís leu e releu a carta. A despedida não fora uma surpresa, ele já
pressentia que o sonho morrera. Era o fim que receava pois com os seus
problemas, o seu destino ligado a uma doença sem cura, nada poderia oferecer a
alguém tão carente e desiludida da vida como Joana se mostrara.
Também porque percebera que Joana teria uma história de amor destruído,
quase adivinhava, a Casa na Colina fora palco da angústia que a carta de Joana
denunciava.
Joana partira deixando-o mais ferido do que alguma vez poderia pensar.
Nos momentos em que se entregou sentia que o corpo de Joana lhe despertava
desejos de resistir. De lutar até ao fim.
A mensagem que Joana lhe deixara podia ser entendida como um convite a
partir e deixar a casa.
Sentiu que o destino o empurrava de novo para a casa da colina. Era o lugar
que escolhera para esconder as suas dores, as suas angústias e quase se
esquecera no turbilhão de sentimentos em que se deixara cair.
Pois bem, iria continuar o sonho e, quem sabe, talvez viesse a encontrar a
paz.
Vivera quase sempre só. O seu casamento fora um erro e durara pouco tempo.
Depois o seu tempo passara-o entre o trabalho, solitário e sem futuro e um ou
outro encontro ocasional, e o prazer de fumar, cigarro após cigarro enquanto
sentado num banco de jardim, assistia ao movimento apressado de pessoas que não
conhecia.
Agora era tempo de se olhar no espelho e ver um rosto magro, triste,
respirando a angústia que o fim se aproximava.
Decidido, acertou os pormenores com o ajudante do Manuel, embalou as suas
coisas e voltou a subir a colina. Enquanto caminhava sentia renascer a
esperança. Afinal, fora lá que encontrara Joana, fora na colina que se deixara
enfeitiçar. E pela primeira vez acreditou que seria lá que se encontrariam de
novo ou se perderiam para sempre.
Cheio de energia começou a penosa subida. Foi descansando ao longo do
caminho e já o sol estava no seu zénite quando chegou ao destino. Descansou um
pouco e entrou em casa, ainda com alguma desconfiança.
Mas encontrou uma grande diferença. Não precisaria mais de dormir ao
relento pois a casa estava limpa, pintada e até tinha meia dúzia de peças de
mobiliário já antigo.
O Joaquim transmitiu-lhe o recado do Manuel:
- O meu patrão disse que os trabalhos que pediu já foram executados. A casa
já tem luz e água canalizada. Também vai encontrar roupas de cama, móveis de
cozinha que a Menina Joana já havia encomendado. Ele garante que o senhor irá
gostar da sua nova casa.
Ah e já me esquecia de lhe dizer, O
senhor Manuel gostaria de jantar consigo na próxima noite de domingo. Eu virei
buscá-lo se estiver de acordo.”
Luís concordou.
Ficou sentado a ver o sol que se punha no horizonte. Estava agitado e não
conseguia fechar os olhos.
Pensava que se voltasse para a cidade poderia deixar que Joana continuasse
a viver a sua vida. Afinal, pensava, “terei eu sido egoísta e pensar só em mim
e trazer a inquietação a quem não a merecia?
Pela noite dentro, sentiu que estava perdido. Ou partia ou ficava?
Não conseguiu dormir. Levantou-se
para ver o nascer do sol e ficou admirando a cor das searas, prenúncio de que a
época da ceifa se aproximava. E com ela, talvez Joana regressasse.
A colina seria do ponto de encontro. Ele esperaria porque, agora
acreditava, o amor é uma coisa maravilhosa e um dia iria ver Joana subindo a
colina.
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