sábado, 6 de julho de 2019

QUATRO SONHOS - AMOR


                       QUATRO SONHOS

                              A M O R

                       A CASA NA COLINA

6 – ANGÚSTIA

 

Luís leu e releu a carta. A despedida não fora uma surpresa, ele já pressentia que o sonho morrera. Era o fim que receava pois com os seus problemas, o seu destino ligado a uma doença sem cura, nada poderia oferecer a alguém tão carente e desiludida da vida como Joana se mostrara.

Também porque percebera que Joana teria uma história de amor destruído, quase adivinhava, a Casa na Colina fora palco da angústia que a carta de Joana denunciava.

Joana partira deixando-o mais ferido do que alguma vez poderia pensar.

Nos momentos em que se entregou sentia que o corpo de Joana lhe despertava desejos de resistir. De lutar até ao fim.

A mensagem que Joana lhe deixara podia ser entendida como um convite a partir e deixar a casa.

Sentiu que o destino o empurrava de novo para a casa da colina. Era o lugar que escolhera para esconder as suas dores, as suas angústias e quase se esquecera no turbilhão de sentimentos em que se deixara cair.

Pois bem, iria continuar o sonho e, quem sabe, talvez viesse a encontrar a paz.

Vivera quase sempre só. O seu casamento fora um erro e durara pouco tempo. Depois o seu tempo passara-o entre o trabalho, solitário e sem futuro e um ou outro encontro ocasional, e o prazer de fumar, cigarro após cigarro enquanto sentado num banco de jardim, assistia ao movimento apressado de pessoas que não conhecia.

Agora era tempo de se olhar no espelho e ver um rosto magro, triste, respirando a angústia que o fim se aproximava.

Decidido, acertou os pormenores com o ajudante do Manuel, embalou as suas coisas e voltou a subir a colina. Enquanto caminhava sentia renascer a esperança. Afinal, fora lá que encontrara Joana, fora na colina que se deixara enfeitiçar. E pela primeira vez acreditou que seria lá que se encontrariam de novo ou se perderiam para sempre.

Cheio de energia começou a penosa subida. Foi descansando ao longo do caminho e já o sol estava no seu zénite quando chegou ao destino. Descansou um pouco e entrou em casa, ainda com alguma desconfiança.

Mas encontrou uma grande diferença. Não precisaria mais de dormir ao relento pois a casa estava limpa, pintada e até tinha meia dúzia de peças de mobiliário já antigo.

O Joaquim transmitiu-lhe o recado do Manuel:

- O meu patrão disse que os trabalhos que pediu já foram executados. A casa já tem luz e água canalizada. Também vai encontrar roupas de cama, móveis de cozinha que a Menina Joana já havia encomendado. Ele garante que o senhor irá gostar da sua nova casa.

 Ah e já me esquecia de lhe dizer, O senhor Manuel gostaria de jantar consigo na próxima noite de domingo. Eu virei buscá-lo se estiver de acordo.”

Luís concordou.

Ficou sentado a ver o sol que se punha no horizonte. Estava agitado e não conseguia fechar os olhos.

Pensava que se voltasse para a cidade poderia deixar que Joana continuasse a viver a sua vida. Afinal, pensava, “terei eu sido egoísta e pensar só em mim e trazer a inquietação a quem não a merecia?

Pela noite dentro, sentiu que estava perdido. Ou partia ou ficava?

 Não conseguiu dormir. Levantou-se para ver o nascer do sol e ficou admirando a cor das searas, prenúncio de que a época da ceifa se aproximava. E com ela, talvez Joana regressasse.

A colina seria do ponto de encontro. Ele esperaria porque, agora acreditava, o amor é uma coisa maravilhosa e um dia iria ver Joana subindo a colina.

 

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