QUATRO SONHOS
A M O R
A CASA NA COLINA
6 – NÃO, NÃO É UM ADEUS
Durante alguns dias o relacionamento entre os dois passou a ser menos
envolvente. Era uma situação confusa, parece que nenhum queria dar o passo em
frente.
Luís começou a caminhar pelos campos, seguindo os carreiros que Joana lhe
tinha ensinado. O livro que sempre o acompanhava ficava por abrir, o caminho
por entre as árvores passou a ser o lenitivo para as suas mágoas. Abraçava as
árvores, acariciava as flores campestres que encontrava no caminho, num momento
de libertação e reconhecimento pela natureza.
Voltou à sombra que escolhera, sentou-se encostado ao velho tronco, e foi
assaltado pela dúvida. Afinal o que se estaria a passar na sua vida,
perguntava-se:
- Como é que tudo começara, e porque se encontrava, agora, só e perdido?
- Afinal ele queria encontrar um local, para viver só, com os seus medos e
angústias. Mas o destino, quando nada esperava, levou-lhe ao encontro, uma
mulher, ainda jovem mas com uma forma de estar na vida tão diferente, que o
perturbava. Sentia que Joana escondia sentimentos de dor e a sua solidão teria
alguma coisa a ver com um desgosto de amor. Porque percebera que ela era uma
mulher que se dava e se escondia dum momento para o outro. Como se a paixão
fosse qualquer coisa que lhe despertasse sensações, que queria esquecer. Joana
vivera um sonho de amor, só podia ser, e algo correra mal e a fizera descrer.
De repente deixara o sonho de amor e ficava com medo.
Estava perdido num labirinto de paixões. Desejava Joana com todas as forças
de que ainda era capaz e estava disposto a enfrentar o futuro, mas seria justo
prometer algo que não se tem a certeza de poder cumprir?
Mas, num dia igual a tantos outros, Luís encontrou Joana, despida e deitada
na beira da represa coberta de flores, oferecendo o corpo ao calor do sol.
Parou, ficou sem palavras mas… palavras para quê, perguntava-se?
Despiu-se e foi anichar-se junto ao corpo que se lhe oferecia.
E foi mais um momento em que a paixão os fez esquecer o passado e mais uma
vez se entregarem.
Os corpos suados, esgotados naquele momento em que de novo esqueceram o
mundo e sararam algumas feridas, deixaram a marca das unhas cravadas com raiva
e desespero.
Ficaram estendidos, em silêncio.
Regressaram a casa. Joana lembrou que as obras de recuperação da casa já
estavam a decorrer e, talvez fosse aconselhável ver se tudo responde aos seus
desejos. Entretanto, com a chegada do calor de Julho que já se aproxima, começarão
os trabalhos nas searas. Também para mim.
Luís percebeu que Joana lhe dizia para partir. Mas, para ele, partir era
morrer um pouco. Sentiu que estava a mais. Nunca mais se atreveria a sonhar. No
fundo, sabia que uma vez terminados os trabalhos da sua casa, a sua vida e a
sua relação com Joana teria um novo sentido.
Ao voltar de mais um passeio, encontrou a mensagem que Joana deixara sobre
a mesa.
Hesitou, mas começou a ler.
“Luís o que vou escrever não é uma carta de despedida, nem um adeus.
Mas preciso de dizer.
Vivemos momentos em que o desejo, tanto tempo reprimido, venceu a razão.
Mas acredita que me entreguei com toda a paixão que fui deixando crescer desde
que te conheci. Mas não leves a mal o que eu disser, porque na verdade eu ainda
não enfrentei os meus fantasmas. Fazer amor contigo, foi como um grito, que
precisava soltar, mas continuar esta relação pode ser doloroso para ambos. E eu
já sofri mais do que merecia.
Deixei morrer os meus sonhos, o amor foi uma ilusão passageira. Fiquei só.
O nosso encontro pode ter sido uma
partida da vida. Juntar duas pessoas em ruína física e mental é cruel. Mas
também pode ter sido uma esperança.
Preciso de encontrar o meu caminho sem sombras, sem dúvidas, por isso
decidi partir sem destino e sem prazo.
Não penses que eu fugi de ti, pensa antes que uma pausa poderá ser bálsamo
para as minhas feridas.
Acredita como eu, talvez algum Deus me arraste de novo para os teus braços,
pois eu sei que sempre te irei amar.
Adeus, não te esqueças de mim. Vai visitar a casa na colina, talvez numa
sombra, num raio de sol, num recanto escondido, venhas a encontrar a alma
daquela casa. E se sentires esse sentimento, vê bem, talvez a alma seja a
minha.
Joana”
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