2007
Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos.
E de repente houve pessoas que acreditaram. Mas a bondade dos conceitos de igualdade é sempre susceptível de outra interpretação. George Orwell tinha razão quando escreveu no livro “Animal’s Farm” um princípio fundamental imposto pelos porcos que assumiram o poder : "All animals are equal, but some animals are more equal than others.”
Foi por terem esquecido a excepção, que milhões de pessoas receberam propostas para a compra da casa, ou de uma nova e porque não uma segunda casa para os fins de semana. O preço era pouco importante, as taxas de juro eram baixas e as Agências especializadas garantiam uma aprovação rápida dos empréstimos. O que era fundamental era aproveitar a oportunidade e assinarem o contrato respectivo.
E os contratos valiam milhões a que se somavam outros cada vez mais volumosos até que foi preciso rentabilizar aquele volume. Era uma oportunidade de ouro para os especuladores, para os Bancos de Investimento e foi fácil criarem produtos derivados agrupando muitos contratos e transaccionar na bolsa com taxas de rendibilidade apetecida.
E muita gente, sem perceber ou sem querer entender que não havia milagres na quinta do Orwell, fechou os olhos e comprou os tais produtos derivados. Não sabiam o que eram mas compraram. Um dia alguém fez as contas e chegou à conclusão que o valor dos activos que seriam a base dos derivados valia pouco mais de zero.
E foi o salve-se quem puder.
Os ratos, uma espécie que até na quinta Orwelliana tinham progredido, foram os primeiros a fugir não sem antes colocaram a bom recato o dinheiro que haviam ganho vendendo produtos a que já se chamavam produtos tóxicos.
A ganância de alguns e a ignorância de muitos lançaram os alicerces da maior crise financeira que o mundo iria conhecer.
Começou nos EUA mas depressa alastrou como um golpe de fogo a todo o sistema financeiro internacional. Começou por se chamar a crise do “Subprime” e acabou na falência e na tragédia que, anos passados ainda fazem vítimas, tendo, acima de tudo, destruído a esperança.
Era o mercado a funcionar, livre de regulamentações, terreno aberto para os que falsearam informação e enganaram outros. Mas não havia alarme, os Bancos enganaram outros bancos, os gestores enriqueceram, e tudo estaria perdoado. Não é verdade que o Povo diz: “Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão?”.
Com a crise no sistema financeiro internacional houve alguns Bancos que foram à falência e outros em que os Estados, quer dizer os pobres contribuintes, tiveram de perder direitos, pagar mais impostos, porque era preciso capitalizar os Bancos. Mas não tenham pena dos gestores. Mesmo que incompetentes ou praticando actos ilícitos, todos receberam as suas participações baseadas em relatórios falseados. E o grande chefe, o capataz da quinta autorizou.
No meio da confusão sobrou o Banco do diabo. Com cada vez mais poder é ele a eminência parda do sistema financeiro internacional. Sem escrúpulos, sem dó nem piedade. Dizem, não posso garantir, que o seu nome comercial é Goldman Sachs.
Depois deste começo, os acontecimentos mais relevantes perderam actualidade.
- Quem quer saber que o vulcão Stromboli na Sicília entrou em erupção?
- E que o José Sócrates enfrentou uma mega manifestação dos Professores, que hoje, admito, se sintam enganados?
- Ou que neste ano morreu Kurt Waldhein, antigo Secretário Geral da ONU, sem que tivesse sido bem explicado o seu passado duvidoso durante o regime nazi?
- Ou ainda o falecimento do benemérito russo Boris Yeltsin, que mesmo alcoolizado, como era seu costume, soube premiar a elite, transformando funcionários obscuros em multi-milionários?
A mim esses factos pouco ou nada me dizem. Mas outros que partiram, deixaram saudades.
- Do grande realizador italiano, Michelangelo Antonioni, que procuro revendo os seus filmes, muito porque eram referências que o tempo guardou. O Grito, A Aventura o Eclipse e Blowup, entre tantos.
- Da Deborah Kerr, uma senhora do cinema que inspirou muitos dos meus sonhos de adolescência. Que vão desde o Quo Vadis, às Minas de Salomão, o sempre presente Até à Eternidade e sobretudo O Rei e Eu.
E também presto homenagem a um escritor que nunca esqueci. Partiu neste ano Norman Mailer e o livro “OS NUS E OS MORTOS”, faz parte dos meus livros de sempre.
- E encerrando este canto das memórias, este texto que já vai longo e sofrido, guardo para o final o desaparecimento de Luciano Pavarotti. O grande tenor, dono de uma voz sem igual. É um final em “Dó de Peito”.