A austeridade e as baratas
A austeridade também afetou este
pequeno jornal. Teria que ser, os cortes levaram o resto da esperança e a
vontade de resistir.
E tudo começou numa quarta-feira.
Podia ter sido no sábado, era igual, mas foi numa quarta-feira que o computador
se recusou a trabalhar.
Só faltava esta greve (?) para
completar os problemas dum pequeno jornal, dando os primeiros passos num mundo
hostil. O Editor e os jornalistas, que por razões de austeridade, partilhavam o
mesmo e único computador, perderam vontade e deslumbraram-se com o espetáculo televisivo,
fosse uma telenovela, um debate na Assembleia ou um jogo de futebol.
Foi um vírus, pensou-se, ou então
o jornal havia sido condenado pela sempre atenta Autoridade para a Comunicação
Social, por ter, inadvertidamente, violado alguma regra declarada nos dias
anteriores.
Afinal fora apenas uma consequência
da austeridade. Uma máquina velha, como velhas eram as palavras.
Um técnico ajudou a repor o velho
computador e por isso aqui está a explicação para uma tão grande ausência.
E toda a gente lançou mãos à obra
tentando dar força às palavras, mas faltava a Poesia.
Porque a Poesia é uma arma,
dizia o poema de Gabriel Celaya. Mas é uma tarefa ingrata.
A luta pela sobrevivência levou a que milhões
de pessoas, habituadas ao sofrimento, á pobreza, à incultura, ao egoísmo,
vítimas dos oportunistas medíocres deixassem de ouvir as palavras dos Poetas.
Hoje é preciso acordar, gritar e
ir à luta. De mãos livres e de coração fechado.
Terão razão os que esqueceram a
força das palavras? Não, mas há que reconhecer que são uma arma desadequada
para combater uma praga dos nossos dias.
A comissão europeia, é um ninho
de baratas, disse Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia.
E custe o que custar, doa a quem
doer, deve ser verdade.
As baratas, algumas serão tontas,
mas todas conservam o instinto de sobrevivência que resistiu às transformações
da terra, ocorridas num período que se estima em mais de quatrocentos milhões
de anos.
Assim, enquanto houver lixo,
continuarão a prosperar. A Comissão Europeia é o lugar indicado.
Todos já convivemos com baratas,
grandes e pequenas, castanhas e encarnadas, cinzentas e pretas, com asas e
rasteiras e por mais nojo, mais limpeza que façamos, elas continuam e ficarão
mesmo depois de desaparecer o último ser humano.
Tenha atenção, quando pisar com
asco uma barata poderá a atingir alguma barata tonta ou uma perigosa.
Poderá estar a esmagar uma
“Blatella germânica” ou uma “Blatta orientalis”. Não corra riscos
desnecessários, finja que não vê e assim talvez se safe.
E se conseguir resistir ao
impulso não se esqueça de agradecer ao grande irmão que nos acompanha, ali
pelos lados de Belém. Valha-nos isso.
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