sexta-feira, 15 de março de 2013

PEQUENO JORNAL


A austeridade e as baratas

 

A austeridade também afetou este pequeno jornal. Teria que ser, os cortes levaram o resto da esperança e a vontade de resistir.

E tudo começou numa quarta-feira. Podia ter sido no sábado, era igual, mas foi numa quarta-feira que o computador se recusou a trabalhar.

Só faltava esta greve (?) para completar os problemas dum pequeno jornal, dando os primeiros passos num mundo hostil. O Editor e os jornalistas, que por razões de austeridade, partilhavam o mesmo e único computador, perderam vontade e deslumbraram-se com o espetáculo televisivo, fosse uma telenovela, um debate na Assembleia ou um jogo de futebol.

Foi um vírus, pensou-se, ou então o jornal havia sido condenado pela sempre atenta Autoridade para a Comunicação Social, por ter, inadvertidamente, violado alguma regra declarada nos dias anteriores.

Afinal fora apenas uma consequência da austeridade. Uma máquina velha, como velhas eram as palavras.

Um técnico ajudou a repor o velho computador e por isso aqui está a explicação para uma tão grande ausência.

E toda a gente lançou mãos à obra tentando dar força às palavras, mas faltava a Poesia. 

Porque a Poesia é uma arma, dizia o poema de Gabriel Celaya. Mas é uma tarefa ingrata.

 A luta pela sobrevivência levou a que milhões de pessoas, habituadas ao sofrimento, á pobreza, à incultura, ao egoísmo, vítimas dos oportunistas medíocres deixassem de ouvir as palavras dos Poetas.

Hoje é preciso acordar, gritar e ir à luta. De mãos livres e de coração fechado.

Terão razão os que esqueceram a força das palavras? Não, mas há que reconhecer que são uma arma desadequada para combater uma praga dos nossos dias.

A comissão europeia, é um ninho de baratas, disse Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia.

E custe o que custar, doa a quem doer, deve ser verdade.

As baratas, algumas serão tontas, mas todas conservam o instinto de sobrevivência que resistiu às transformações da terra, ocorridas num período que se estima em mais de quatrocentos milhões de anos.

Assim, enquanto houver lixo, continuarão a prosperar. A Comissão Europeia é o lugar indicado.

Todos já convivemos com baratas, grandes e pequenas, castanhas e encarnadas, cinzentas e pretas, com asas e rasteiras e por mais nojo, mais limpeza que façamos, elas continuam e ficarão mesmo depois de desaparecer o último ser humano.

Tenha atenção, quando pisar com asco uma barata poderá a atingir alguma barata tonta ou uma perigosa.

Poderá estar a esmagar uma “Blatella germânica” ou uma “Blatta orientalis”. Não corra riscos desnecessários, finja que não vê e assim talvez se safe.

E se conseguir resistir ao impulso não se esqueça de agradecer ao grande irmão que nos acompanha, ali pelos lados de Belém. Valha-nos isso.

 

 

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