ANATOMIA DUM PESADELO
O suor escorria pelo corpo deitado
na cama. Era um suor frio que gelava o corpo e a que não conseguia resistir.
Sentiu um leve ruído de passos de alguém que se aproximava e tentou abrir os
olhos e encarar a figura que adivinhava, se estava a inclinar sobre o seu
corpo. Mas os olhos ficaram cerrados. Queria afastar a sombra que pressentia,
mas ficara imóvel, as mãos não respondiam ao apelo do cérebro e as pernas
estavam paralisadas. Deixou de lutar e aguardou o seu destino.
Até que a campainha do despertador
soou no silêncio do quarto, e lhe afastou as nuvens em que sentira perdido.
Respirou fundo, afinal fora apenas um pesadelo.
Mas já não conseguiu voltar a
dormir. Não era habitual sofrer aquele tipo de sonhos e acreditava que aquele
teria de ter alguma razão. Precisava aclarar as ideias e descobrir a anatomia
do pesadelo que lhe roubara uma noite tranquila.
E de repente foi-se lembrando.
Tudo começara, acreditava agora,
quando na noite anterior estivera algum tempo no computador pesquisando o que a
internet lhe oferecia sobre um dos seus ídolos de juventude. Procurara Charlie
Chaplin e o filme “Luzes da Ribalta”. Vira algumas imagens, deliciou-se com o
tema musical e, depois viu algo que não gostou. Tinha uma admiração enorme pelo
grande Chaplin, que tantas vezes o fizera rir e chorar e sofreu ao ver a
apresentação de um velho já senil, agradecendo uma homenagem da Academia de
Hollywood. Não aquele ator que fora proscrito durante o período negro do
senador Mccarthy, não podia ser o seu ídolo.
Mas para reforçar a raiva lembrou-se
de tantos escritores, realizadores e atores que também tiveram que depor
perante a famigerada Comissão do Senado, forçados a denunciar amigos ou apenas conhecidos,
que tivessem em algum momento expressado atitudes o tivessem assistido, a uma
que fosse, reunião do Partido Comunista Americano.
E um dos nomes que lhe veio à
lembrança foi o do escritor e realizador Dalton Trumbo, uma das personalidades
mais citadas quando se analisa o período negro da História dos EUA. E lembrou,
sobretudo, o filme que uma vez vira e jurara não voltar a ver. O livro, o filme
de Dalton Trumbo “Johnny Got His Gun”, apesar
do esforço que fizera para esquecer, ficara guardado algures num recanto do
cérebro e fora por isso, o catalisador do pesadelo.
Bem, mas hoje esquecido os maus
momentos da noite, havia que encontrar um filme protagonizado por um ator que
também tivesse tido os seus problemas com a referida comissão de caça às
bruxas. O ator escolhido foi Sterling Hayden e o filme, um clássico dirigido
por Nicholas Ray. Escolhi “Johnny Guitar”. Fico tranquilo e certo que,
esquecendo os parágrafos anteriores irão apreciar, como eu, as imagens e a
canção tema do filme, vivida na bonita voz da Peggy Lee.
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