quarta-feira, 14 de agosto de 2013

VIAGENS AO MUNDO DOS SONHOS


ANATOMIA DUM PESADELO

O suor escorria pelo corpo deitado na cama. Era um suor frio que gelava o corpo e a que não conseguia resistir. Sentiu um leve ruído de passos de alguém que se aproximava e tentou abrir os olhos e encarar a figura que adivinhava, se estava a inclinar sobre o seu corpo. Mas os olhos ficaram cerrados. Queria afastar a sombra que pressentia, mas ficara imóvel, as mãos não respondiam ao apelo do cérebro e as pernas estavam paralisadas. Deixou de lutar e aguardou o seu destino.

Até que a campainha do despertador soou no silêncio do quarto, e lhe afastou as nuvens em que sentira perdido. Respirou fundo, afinal fora apenas um pesadelo.

Mas já não conseguiu voltar a dormir. Não era habitual sofrer aquele tipo de sonhos e acreditava que aquele teria de ter alguma razão. Precisava aclarar as ideias e descobrir a anatomia do pesadelo que lhe roubara uma noite tranquila.

E de repente foi-se lembrando.

Tudo começara, acreditava agora, quando na noite anterior estivera algum tempo no computador pesquisando o que a internet lhe oferecia sobre um dos seus ídolos de juventude. Procurara Charlie Chaplin e o filme “Luzes da Ribalta”. Vira algumas imagens, deliciou-se com o tema musical e, depois viu algo que não gostou. Tinha uma admiração enorme pelo grande Chaplin, que tantas vezes o fizera rir e chorar e sofreu ao ver a apresentação de um velho já senil, agradecendo uma homenagem da Academia de Hollywood. Não aquele ator que fora proscrito durante o período negro do senador Mccarthy, não podia ser o seu ídolo.

Mas para reforçar a raiva lembrou-se de tantos escritores, realizadores e atores que também tiveram que depor perante a famigerada Comissão do Senado, forçados a denunciar amigos ou apenas conhecidos, que tivessem em algum momento expressado atitudes o tivessem assistido, a uma que fosse, reunião do Partido Comunista Americano.

E um dos nomes que lhe veio à lembrança foi o do escritor e realizador Dalton Trumbo, uma das personalidades mais citadas quando se analisa o período negro da História dos EUA. E lembrou, sobretudo, o filme que uma vez vira e jurara não voltar a ver. O livro, o filme  de Dalton Trumbo “Johnny Got His Gun”, apesar do esforço que fizera para esquecer, ficara guardado algures num recanto do cérebro e fora por isso, o catalisador do pesadelo.

Bem, mas hoje esquecido os maus momentos da noite, havia que encontrar um filme protagonizado por um ator que também tivesse tido os seus problemas com a referida comissão de caça às bruxas. O ator escolhido foi Sterling Hayden e o filme, um clássico dirigido por Nicholas Ray. Escolhi “Johnny Guitar”. Fico tranquilo e certo que, esquecendo os parágrafos anteriores irão apreciar, como eu, as imagens e a canção tema do filme, vivida na bonita voz da Peggy Lee.

 

 

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