3 – 1944
O tremor das pernas adormecidas, por
horas sentado no sofá, revivendo os sonhos de juventude, fez com que chocasse
com uma mesa de apoio derrubando um livro.
Era um livro que começara a ler,
mais um livro sobre a segunda guerra mundial de um autor que não conhecia,
Antony Beevor.
Começara a ler e parara na introdução.
Porque escrevia o autor:
” Em Junho de 1944, um jovem soldado
asiático rendeu-se ao exército dos EUA, durante o desembarque na praia de Utah
na Normandia.
Era coreano, chamava-se Yang
Kyoungjong e atravessara meio mundo combatendo uma guerra que não escolhera.
Recrutado à força pelo exército
Japonês aquando da invasão da Manchúria, fora depois feito prisioneiro pelo
exército vermelho, combatera contra as forças do III Reich durante a sua
campanha pelo domínio da Rússia Soviética, perdera mais uma vez, foi incorporado
da Wehrmacht e para final de odisseia fora feito prisioneiro numa praia do mar
do norte e mais tarde libertado pelo exército americano. Terá morrido, algures
nos Estados Unidos.
Numa guerra que matou tantos milhões
de pessoas, um pobre Coreano foi apenas um exemplo dos horrores, podendo ser a
ilustração mais dramática da impotência da maior parte dos vulgares mortais
face àquilo que pareciam ser forças avassaladoras.”
Releu o parágrafo e não pôde deixar
escapar uma lágrima. Tantos livros que lera, tantos filmes que vira sobra a II
guerra e afinal uma pequena história lembrara-o que as guerras vitimam pessoas,
a maior parte nem o nome se conhece, pois a memória guarda e conta sobretudo as
batalhas, os momentos de heroísmo, os feitos dos grande chefes. Teve sorte o
soldado Coreano. Vindo de uma guerra quase esquecida, através meio mundo e
sobreviveu.
E recordou que vinte anos após a
captura do soldado coreano, estava ele a cumprir o seu destino, chegara o seu
tempo de enfrentar a guerra colonial.
Era um jovem de 22 anos, que sempre
sonhara com a guerra e teria agora oportunidade de a viver, com a
responsabilidade de comandar um pelotão de atiradores que treinara no campo
militar de Santa Margarida. Mas a guerra não era um desfile de vaidades. Pouco
a pouco percebeu que a guerra é sobretudo uma questão de relações humanas, de
resistência e sobretudo de sobrevivência. E os sonhos foram transformados no
compromisso de voltar com todos soldados que com ele embarcaram, o que
aconteceu.
Um dia, um amigo emprestou-lhe um
livro cuja leitura recomendou. Era um livro sobre a guerra, escrito por Norman
Mailer que também vivera a guerra do Pacífico, mas que optou por dar ênfase aos
conflitos entre soldados, crueldade com o inimigo indefeso, o desejo de
prestígio de um General precisava ganhar para pôr mais uma estrela sobre os
ombros. E o amigo concluiu: Lê, vais ver que não há muitas diferenças entre as
guerras.
O livro, “The Naked and the dead”
perdeu-se nas mudanças de aquartelamento e não o lera.
Hoje, tantos anos passados,
procurara um filme do Raoul Walsh, para ilustrar este texto mal-amanhado. Sim,
dirigido por Walsh, o diretor que só usava a
pàla porque tinha deficiências de visão.
E então encontrei o filme “ The
Naked and the dead” e em homenagem aos jovens do site “à Pala do Walsh” deixo
ficar o trailer do filme.
E respirando com alívio, vou
publicar, a banda sonora
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