A ILHA DOS TRÊS MARES
Quando no silêncio da noite, os
sonhos e as recordações se acotovelam tentando ocupar o primeiro lugar,
torna-se difícil escolher um tema. As recordações da infância, criança de pé
descalço, correndo por entre as pedras do campo onde nasci, ou as memórias da
adolescência despertando para o mundo, lendo e ouvindo histórias fascinantes,
são momentos que não se esquecem.
Neles enriqueci as minhas memórias,
neles construí os meus sonhos.
Todavia, por vezes basta um pequeno
episódio, por vezes quase sem relevância, para ganhar o espaço para uma pequena
história.
Foi já no decorrer do final dos anos
noventa, que esse episódio teve lugar.
Por razões profissionais,
desembarquei com outros colegas, na Sicília, a ilha abandonada entre os três
mares, berço de civilizações, tema de tantos poetas e romancistas e sinónimo de
família dedicadas ao crime. E a cidade era a mártir Messina, vítima da guerra e
do terramoto que ainda deixara marcas.
No final das reuniões, o Advogado
que nos dava assessoria, um velho professor Universitário, acompanhou-nos ao
aeroporto, utilizando caminhos secundários para nos mostrar a dureza dos
montes, os rios de lava negra que a última erupção do Etna havia semeado, e ao
longe o vulcão, que como ele nos dizia, parecia estar de mau humor.
Os Sicilianos, acrescentou o
Professor, embora habituados à rudeza da paisagem, não resistiram ao apelo da
emigração, partindo aos milhares, vendendo tudo o que possuíam, até a alma.
Esta pequena conversa seria para
esquecer. Mas por ironia do destino, na noite em que regressei a casa, passou
na Televisão um filme que me deixou atento. Era um filme dirigido pelo Giuseppe
Tornatore, ele mesmo um realizador siciliano, que já havia surpreendido com um
filme tão belo, que era um hino ao amor, à amizade e ao cinema. Claro, falo do ”
Cinema Paradiso”.
E foi com esperança que assisti,
vencendo o sono, ao filme “ L’Uomo Delle Stelle.
E este é o filme que vos deixo. É um
filme onde até os risos sabem a fel, onde a pobreza iguala a rude paisagem das
montanhas. É um filme que faz doer.
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