sexta-feira, 9 de agosto de 2013

VIAGENS AO MUNDO DOS SONHOS


A ILHA DOS TRÊS MARES

 

Quando no silêncio da noite, os sonhos e as recordações se acotovelam tentando ocupar o primeiro lugar, torna-se difícil escolher um tema. As recordações da infância, criança de pé descalço, correndo por entre as pedras do campo onde nasci, ou as memórias da adolescência despertando para o mundo, lendo e ouvindo histórias fascinantes, são momentos que não se esquecem.

Neles enriqueci as minhas memórias, neles construí os meus sonhos.

Todavia, por vezes basta um pequeno episódio, por vezes quase sem relevância, para ganhar o espaço para uma pequena história.

Foi já no decorrer do final dos anos noventa, que esse episódio teve lugar.

Por razões profissionais, desembarquei com outros colegas, na Sicília, a ilha abandonada entre os três mares, berço de civilizações, tema de tantos poetas e romancistas e sinónimo de família dedicadas ao crime. E a cidade era a mártir Messina, vítima da guerra e do terramoto que ainda deixara marcas.

 

No final das reuniões, o Advogado que nos dava assessoria, um velho professor Universitário, acompanhou-nos ao aeroporto, utilizando caminhos secundários para nos mostrar a dureza dos montes, os rios de lava negra que a última erupção do Etna havia semeado, e ao longe o vulcão, que como ele nos dizia, parecia estar de mau humor.

Os Sicilianos, acrescentou o Professor, embora habituados à rudeza da paisagem, não resistiram ao apelo da emigração, partindo aos milhares, vendendo tudo o que possuíam, até a alma.

Esta pequena conversa seria para esquecer. Mas por ironia do destino, na noite em que regressei a casa, passou na Televisão um filme que me deixou atento. Era um filme dirigido pelo Giuseppe Tornatore, ele mesmo um realizador siciliano, que já havia surpreendido com um filme tão belo, que era um hino ao amor, à amizade e ao cinema. Claro, falo do ” Cinema Paradiso”.

 
E foi com esperança que assisti, vencendo o sono, ao filme “ L’Uomo Delle Stelle.

E este é o filme que vos deixo. É um filme onde até os risos sabem a fel, onde a pobreza iguala a rude paisagem das montanhas. É um filme que faz doer.
 

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