terça-feira, 10 de dezembro de 2013

IN AMERICA


1)    – O DESPERTAR

A noite fora um pesadelo, um delírio de formas desconhecidas, rostos ameaçadores, olhos que brilhavam como num reino de sombras e que o enlouqueciam.

Tentou abrir os olhos, mas a escuridão era como se fosse um precipício ameaçador. Não sabia onde estava, como ali tinha chegado e pior, pior que tudo, nem sequer sabia quem era.

De olhos teimosamente cerrados, tentava pôr ordem naquela cabeça que ameaçava estalar. O silêncio era absoluto, a sua respiração e nada mais. Tentou mover uma mão, depois um braço, uma perna e parou. As dores eram fortes como se todos os ossos estivessem partidos. Com todas as forças de que foi capaz, enfrentou as dores e gemendo teimou em abrir os olhos. E então um pequeno raio de luz, muito ténue, deu- lhe esperança, deixava adivinhar uma janela.

Esqueceu as dores, o medo do vazio e levantou-se. Cambaleando ensaiou um pequeno passo, depois outro e deixou-se cair de joelhos vencido pela dor. E chorou.

Mas não desistiu, rastejou, procurando a parede e a janela. Demorou uma eternidade, mas conseguiu levantar-se com o apoio da parede lisa e fria. Ficou exausto, o frio era agora uma mistura de tremores e de suores. Mas conseguira ficar de pé.

O raio de luz aumentou de intensidade e foi-lhe mostrando o lugar onde estava. Percebeu a existência de uma cama pequena, ao lado uma mesa com candeeiro e lentamente, com os braços estendidos conseguiu caminhar até à cama onde se deixou cair como um farrapo quase inerte. Foi com mais um tremendo esforço que procurou chegar ao alcance da pequena mesa e num último esforço encontrou o interruptor e acendeu a luz. E ao ver dissipadas as sombras no pequeno espaço, sem saber porquê riu ou chorou, não era importante.

Finalmente podia ver que o pequeno quarto onde travara uma batalha e conseguira vencer.

A luz trazia-lhe a memória de outra vida, de outros momentos. Mas estava perdido e receava o futuro. Melhor seria terminar tudo, dar um grito e partir. A dúvida era uma dor que lhe corroía o peito. Desejara o fim mas o instinto de sobrevivência fora mais forte.

 Agora, sentado na beira da cama olhava em redor, vasculhando todos os recantos, como um polícia à procura das provas de um crime.

Como um Polícia?

Que raio de ideia, ou não?

 

 

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