1) – O DESPERTAR
A noite fora um pesadelo, um delírio de formas desconhecidas, rostos ameaçadores, olhos que brilhavam como num reino de sombras e que o enlouqueciam.
A noite fora um pesadelo, um delírio de formas desconhecidas, rostos ameaçadores, olhos que brilhavam como num reino de sombras e que o enlouqueciam.
Tentou abrir os olhos, mas
a escuridão era como se fosse um precipício ameaçador. Não sabia onde estava,
como ali tinha chegado e pior, pior que tudo, nem sequer sabia quem era.
De olhos teimosamente
cerrados, tentava pôr ordem naquela cabeça que ameaçava estalar. O silêncio era
absoluto, a sua respiração e nada mais. Tentou mover uma mão, depois um braço,
uma perna e parou. As dores eram fortes como se todos os ossos estivessem
partidos. Com todas as forças de que foi capaz, enfrentou as dores e gemendo
teimou em abrir os olhos. E então um pequeno raio de luz, muito ténue, deu- lhe
esperança, deixava adivinhar uma janela.
Esqueceu as dores, o medo
do vazio e levantou-se. Cambaleando ensaiou um pequeno passo, depois outro e
deixou-se cair de joelhos vencido pela dor. E chorou.
Mas não desistiu, rastejou,
procurando a parede e a janela. Demorou uma eternidade, mas conseguiu
levantar-se com o apoio da parede lisa e fria. Ficou exausto, o frio era agora
uma mistura de tremores e de suores. Mas conseguira ficar de pé.
O raio de luz aumentou de
intensidade e foi-lhe mostrando o lugar onde estava. Percebeu a existência de
uma cama pequena, ao lado uma mesa com candeeiro e lentamente, com os braços
estendidos conseguiu caminhar até à cama onde se deixou cair como um farrapo
quase inerte. Foi com mais um tremendo esforço que procurou chegar ao alcance
da pequena mesa e num último esforço encontrou o interruptor e acendeu a luz. E
ao ver dissipadas as sombras no pequeno espaço, sem saber porquê riu ou chorou,
não era importante.
Finalmente podia ver que o
pequeno quarto onde travara uma batalha e conseguira vencer.
A luz trazia-lhe a memória
de outra vida, de outros momentos. Mas estava perdido e receava o futuro.
Melhor seria terminar tudo, dar um grito e partir. A dúvida era uma dor que lhe
corroía o peito. Desejara o fim mas o instinto de sobrevivência fora mais
forte.
Agora, sentado na beira da cama olhava em
redor, vasculhando todos os recantos, como um polícia à procura das provas de
um crime.
Como um Polícia?
Que raio de ideia, ou não?
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