Hesitações, desespero, fúria tudo isso sinto cada dia que passa.
- Hesito porque tenho medo de me repetir, de dizer coisa nenhuma, uma consequência óbvia que nasceu do percurso que comecei e tentei seguir, sem estar preparado para a caminhada.
- Desespero, porque a mão me treme e as ideias, que na minha solidão, são a razão dum dia que se repete, não as posso alinhavar no caderno que me acompanha, pois o resultado é uma escrita ilegível. Afinal as ideias não resistem à tremura.
- Fúria, porque a lentidão com que consigo teclar, me faz cometer erros, apagar o que não quero e deixar-me refém dos humores duma máquina que foge, sempre fugiu, ao meu domínio.
Apesar das dificuldades que cada vez se tornam mais evidentes, preciso de continuar a escrever sob pena de a vida ser, apenas, uma sequência de dias, sempre iguais.
Se alguém me ler, não dê importância aos meus tropeções. Eu apenas me tento manter à tona de água, bebendo poesia e aguardando o próximo equinócio.
EQUINÓCIO
Chega-se a este ponto em que se fica a espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato
Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena
Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo
Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe
(David Mourão-Ferreira)
Ou em alternativa fazer uma viagem, quem sabe, procurar alguém que, por erro ou esquecimento, se deixou para trás.
Eu chorei, aliás choro com facilidade se a história é de crianças ou de velhos, mais ainda porque o filme de que vos deixo algumas cenas, é uma bela poesia de amor, contada pelo talento de David Lynch.
E nos revela um enorme ator, que nos deixou pouco tempo depois de completar a sua simples viagem.
- Hesito porque tenho medo de me repetir, de dizer coisa nenhuma, uma consequência óbvia que nasceu do percurso que comecei e tentei seguir, sem estar preparado para a caminhada.
- Desespero, porque a mão me treme e as ideias, que na minha solidão, são a razão dum dia que se repete, não as posso alinhavar no caderno que me acompanha, pois o resultado é uma escrita ilegível. Afinal as ideias não resistem à tremura.
- Fúria, porque a lentidão com que consigo teclar, me faz cometer erros, apagar o que não quero e deixar-me refém dos humores duma máquina que foge, sempre fugiu, ao meu domínio.
Apesar das dificuldades que cada vez se tornam mais evidentes, preciso de continuar a escrever sob pena de a vida ser, apenas, uma sequência de dias, sempre iguais.
Se alguém me ler, não dê importância aos meus tropeções. Eu apenas me tento manter à tona de água, bebendo poesia e aguardando o próximo equinócio.
EQUINÓCIO
Chega-se a este ponto em que se fica a espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato
Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena
Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo
Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe
(David Mourão-Ferreira)
Ou em alternativa fazer uma viagem, quem sabe, procurar alguém que, por erro ou esquecimento, se deixou para trás.
Eu chorei, aliás choro com facilidade se a história é de crianças ou de velhos, mais ainda porque o filme de que vos deixo algumas cenas, é uma bela poesia de amor, contada pelo talento de David Lynch.
E nos revela um enorme ator, que nos deixou pouco tempo depois de completar a sua simples viagem.
Sem comentários:
Enviar um comentário