segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A GRANDE AVENTURA

Hesitações, desespero, fúria tudo isso sinto cada dia que passa.

- Hesito porque tenho medo de me repetir, de dizer coisa nenhuma, uma consequência óbvia que nasceu do percurso que comecei e tentei seguir, sem estar preparado para a caminhada.
- Desespero, porque a mão me treme e as ideias, que na minha solidão, são a razão dum dia que se repete, não as posso alinhavar no caderno que me acompanha, pois o resultado é uma escrita ilegível. Afinal as ideias não resistem à tremura.
- Fúria, porque a lentidão com que consigo teclar, me faz cometer erros, apagar o que não quero e deixar-me refém dos  humores duma máquina que foge, sempre fugiu, ao meu domínio.

Apesar das dificuldades que cada vez se tornam mais evidentes, preciso de continuar a escrever sob pena de a vida ser, apenas,  uma sequência de dias, sempre iguais.
Se alguém me ler, não dê importância aos meus tropeções. Eu apenas me  tento manter à tona de água, bebendo poesia e aguardando o próximo equinócio.


                                                                EQUINÓCIO

                                Chega-se a este ponto em que se fica a espera
                       Em que apetece um ombro    o pano de um teatro
                       um passeio de noite a sós de bicicleta
                       o riso que ninguém reteve num retrato

                      Folheia-se num bar o horário da Morte
                      Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
                      Loucura foi não ter incendiado o bosque
                      Já não sei em que mês se deu aquela cena

                     Chega-se a este ponto         Arrepiar caminho
                     Soletrar no passado a imagem do futuro
                     Abrir uma janela         Acender o cachimbo
                     para deixar no mundo uma herança de fumo

                    Rola mais um trovão       Chega-se a este ponto
                    em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
                    Em que a rota do Sol é a roda do sono
                    Chega-se a este ponto em que a gente não sabe

                             (David Mourão-Ferreira)

Ou em alternativa  fazer uma viagem, quem sabe, procurar alguém que, por erro ou esquecimento, se deixou para trás.
Eu chorei, aliás choro com facilidade se a história é de crianças ou de velhos, mais ainda porque o filme  de que vos deixo algumas cenas, é uma bela poesia de amor, contada pelo talento de David Lynch. 
E nos revela um enorme ator, que  nos deixou pouco tempo depois de completar a sua simples viagem.
 
   
                      






 

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