domingo, 15 de dezembro de 2013

IN AMERICA


 

SINAIS

A luz que lentamente inundara o espaço onde se encontrava, dera-lhe esperança para encontrar o caminho.

Foi a mudança que fez com o que tivesse recuperado forças ao mesmo tempo que lhe desanuviava os temores de uma noite de pesadelo.

Estava agora mais desperto mas persistia a dúvida principal. Não sabia quem era e porque estava ali.

Levantou-se e com um andar ainda pouco seguro caminhou para uma porta envidraçada, escondida num canto do que, afinal, reconhecia como um pequeno e pobre quarto de hotel. Era a entrada para uma simples mas limpa, casa de banho. Entrou e a primeira imagem que viu, foi a refletida no espelho pendurado por cima do lavatório. Ficou de olhos parados e mais uma vez o único sinal de vida foi-lhe dado por uma lágrima que lhe escorria pela face, coberta por uma espessa barba, grisalha e descuidada. E viu o rosto magro e macerado por tanto sofrimento.

Era o retrato dum desconhecido, que lhe lembrava um sem-abrigo abandonado pela sociedade. Aquele vagabundo sujo e dorido, não podia ser o que parecia. Não, ele sentia que qualquer coisa estava errada, que não se enquadrava naquele filme, nem nas difusas memórias que ainda sonhava ter.

Desviou o olhar, fixou-se no recanto envidraçado do chuveiro. Abriu a torneira, o som da água a correr deu-lhe alento. Era uma música de que já nem se lembrava e nem hesitou, deu um passo em frente e deixou que a água lhe lavasse o corpo e a alma.

Era água fria, mas sentia-a como um bálsamo que pouco a pouco lhe trazia tranquilidade. Arrancou os trapos com que estava vestido, sentiu o corpo nu e frágil, cheio de cicatrizes. Os pulsos marcados por sinais de prisão e o peito com queimaduras feitas com cigarros.

Sentiu um arrepio, não de medo mas de revolta. Fora mantido preso e torturado, onde e por quem, não sabia, mas perceber a razão seria o objetivo da vida que agora iria recomeçar.

Com mais energia e com uma centelha de raiva, embrulhou-se numa toalha e percorreu o quarto. Num recanto encontrou uma mochila, como a que se recordava de ver nos ombros dos soldados em combate. Era grande, estava cheia. Quem sabe, estaria ali guardado o segredo da sua vida.

Abriu-a e encontrou uma dádiva. Um pequeno estojo com máquina de barbear e lâminas, mais um pente e um estojo de tesouras. Também roupa limpa que retirou e espalhou pela cama. No final foi uma caixa de cartão, amarrotada que lhe despertou a atenção. Segurou-a com força mas, ao mesmo tempo que sentia um frémito de emoção. Estariam ali as respostas às suas dúvidas e tantas eram?
Sentiu medo, hesitou sim, como se fosse abrir a caixa de Pandora.
 

 

 
 

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