SINAIS
A luz que
lentamente inundara o espaço onde se encontrava, dera-lhe esperança para
encontrar o caminho.
Foi a mudança
que fez com o que tivesse recuperado forças ao mesmo tempo que lhe desanuviava
os temores de uma noite de pesadelo.
Estava agora
mais desperto mas persistia a dúvida principal. Não sabia quem era e porque
estava ali.
Levantou-se e
com um andar ainda pouco seguro caminhou para uma porta envidraçada, escondida
num canto do que, afinal, reconhecia como um pequeno e pobre quarto de hotel.
Era a entrada para uma simples mas limpa, casa de banho. Entrou e a primeira imagem
que viu, foi a refletida no espelho pendurado por cima do lavatório. Ficou de
olhos parados e mais uma vez o único sinal de vida foi-lhe dado por uma lágrima
que lhe escorria pela face, coberta por uma espessa barba, grisalha e descuidada.
E viu o rosto magro e macerado por tanto sofrimento.
Era o retrato
dum desconhecido, que lhe lembrava um sem-abrigo abandonado pela sociedade. Aquele
vagabundo sujo e dorido, não podia ser o que parecia. Não, ele sentia que qualquer
coisa estava errada, que não se enquadrava naquele filme, nem nas difusas memórias
que ainda sonhava ter.
Desviou o olhar, fixou-se no recanto envidraçado do chuveiro.
Abriu a torneira, o som da água a correr deu-lhe alento. Era uma música de que
já nem se lembrava e nem hesitou, deu um passo em frente e deixou que a água
lhe lavasse o corpo e a alma.
Era água fria, mas sentia-a como um bálsamo que pouco a pouco
lhe trazia tranquilidade. Arrancou os trapos com que estava vestido, sentiu o
corpo nu e frágil, cheio de cicatrizes. Os pulsos marcados por sinais de prisão
e o peito com queimaduras feitas com cigarros.
Sentiu um arrepio, não de medo mas de revolta. Fora mantido
preso e torturado, onde e por quem, não sabia, mas perceber a razão seria o objetivo da vida que
agora iria recomeçar.
Com mais energia e com uma centelha de raiva, embrulhou-se numa
toalha e percorreu o quarto. Num recanto encontrou uma mochila, como a que se
recordava de ver nos ombros dos soldados em combate. Era grande, estava cheia.
Quem sabe, estaria ali guardado o segredo da sua vida.
Abriu-a e encontrou uma dádiva. Um pequeno estojo com máquina de
barbear e lâminas, mais um pente e um estojo de tesouras. Também roupa limpa
que retirou e espalhou pela cama. No final foi uma caixa de cartão, amarrotada que
lhe despertou a atenção. Segurou-a com força mas, ao mesmo tempo que sentia um
frémito de emoção. Estariam ali as respostas às suas dúvidas e tantas eram?
Sentiu medo, hesitou sim, como se fosse abrir a caixa de Pandora.
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