sexta-feira, 15 de maio de 2015

A CASA NA COLINA






O REGRESSO À CASA NA COLINA


 


Luís leu e releu a carta de amor que Joana lhe havia deixado.


Não fora uma surpresa, nos momentos mais lúcidos, ainda tinha alguns, já antevira que um dia Joana partiria evitando partilhar o caminho curto e pedregoso que ele se poderia oferecer.


Sentiu que o destino o empurrava de novo para a casa da colina. Era o lugar que escolhera para esconder as suas dores, as suas angústias e quase se esquecera no turbilhão de sentimentos em que se deixara cair.


Pois bem, iria continuar o sonho e, quem sabe, talvez viesse a encontrar a paz.


Vivera quase sempre só. O seu casamento fora um erro e durara pouco tempo. Depois o seu tempo passara-o entre o trabalho, solitário e sem futuro e um ou outro encontro ocasional, escolhido nos anúncios de encontros amorosos e o prazer de fumar, cigarro após cigarro enquanto sentado num banco de jardim, assistia ao movimento apressado de pessoas que não conhecia.


Agora era tempo de completar o único objetivo de vida que lhe restara. Escrever o livro.


Decidido, acertou os pormenores com o Manuel, embalou as suas coisas e voltou a subir a colina. Enquanto caminhava sentia renascer a esperança. Afinal, fora lá que encontrara Joana, foi na colina que se deixara enfeitiçar. Fora a primeira vez e acreditava que seria lá que se encontrariam de novo ou se perderiam para sempre.


Cheio de energia começou a penosa subida. Foi descansando ao longo do caminho e já o sol estava no seu zénite quando chegou ao destino. Descansou um pouco e entrou em casa, ainda com alguma desconfiança.


Mas encontrou uma grande diferença. Não precisaria mais de dormir ao relento pois a casa estava limpa, pintada e até tinha meia dúzia de peças de mobiliário.


O quarto era amplo com vistas para os montes onde o sol se punha. Sentado numa cadeira de braços, olhava para o vazio e sentiu a dor da ausência.


Não conseguiu dormir. Levantou-se para ver o nascer do sol e ficou admirando a cor das searas, prenúncio de que a época da ceifa se aproximava. E com ela, talvez Joana regressasse.


Espreitava a chegada das máquinas aos campos de trigo, acompanhava os trabalhos desde o nascer ao pôr-do-sol. O trabalho era feito por homens que manobravam as debulhadoras e mulheres que ceifavam os locais onde o acesso era mais difícil. O capataz era o Manuel mas da Joana nem sinal.


O livro continuava uma página em branco. Escrevera, apagara, voltara a escrever mas nada fazia sentido. A cabeça não estava ali.


Para esquecer começou a arrumar as coisas que trouxera, mais algumas que mandara comprara. A casa tinha no quarto com vista para o poente, um sólido armário de carvalho que não fora uma escolha sua. Foi com surpresa que abriu as portas e encontrou caixas de cartão arrudas no alto das prateleiras. Retirou uma delas que abriu e encontrou folhas manuscritas, numeradas e com o título. “O DIÁRIO DA NOSSA PAIXÃO”.


Ali estava uma história de amor. Com frenesi escolheu uma nova caixa e encontrou envelopes que guardavam fotografias.


Estavam organizadas por datas e por acontecimentos. Fora o começo da história de amor de que Joana lhe havia falado. Mas era duas pessoas que se olhavam com carinho sendo que a mulher estava numa cama do hospital.


Encontrou mais vezes fotografias do casal, por anos, tantos que o fizeram estremecer. É que Leonor estava deitada como na primeira fotografia numa cama de hospital mas instalada na casa na colina.


Sempre viu o olhar terno duma mulher prisioneira do destino.


Quase no final encontrou um álbum de fotografias. Ali pode ver fotografias da Leonor e de António o seu companheiro para a vida. Havia outra fotografia que lhe despertou a atenção. Era uma foto de uma jovem e, então, Luís, percebeu. Joana fora a amiga e testemunha de um grande amor.


Aqui estava o momento que ansiava. Conseguia escrever uma história de amor de uma jovem para com um casal que escolhera partilhar os bons e os maus momentos até ao fim dos dias. Seria sim, a HISTÓRIA DE JOANA.

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