OUTONO
Num momento a inspiração voltou. Esqueceu
tudo, a doença que voltara a dar sinais e a saudade que lhe feria o coração.
Escrevia, páginas sobre páginas, palavras que
lhe saíam do peito sofrido. Percebera o que Joana lhe havia dito no primeiro
encontro, Aquele casa tinha uma história de amor,
E era essa história que ele bebia do álbum de
fotografias. E delas retirou a vida das personagens que fora o princípio, o
meio e o fim de uma história de amor.
Mal se deu conta que o verão tinha acabado. Sentado
e relendo o que havia escrito, os seus dias eram um suplício. Começara a ouvir a
voz do vento e o cantar das andorinhas que tinham sido a sua companhia, deixara
de se ouvir.
Tinha frio e começou a sentir que a cada dia
que passava sentado junto à azinheira, a força o ia deixando.
Espreitava, até onde a vista alcançava, procurando
seguir qualquer movimento que fosse o anúncio de que Joana voltara.
Esperou e sofreu a agonia da morte que se
aproximava.
Começou a deixar fugir a vontade de viver. Guardou
o livro que escreve no mesmo local onde encontrara as fotografias que lhe
haviam dado alento e o haviam ajudado a perceber o amor. Escreveu com as mãos
trémulas uma carta de despedida, que regou com as lágrimas que lhe fugiam:
“ Meu amor,
Eu vivi os melhores dias da minha infeliz
vida, partilhando os nossos momentos.
Sofri com a tua partida mas quero ser
sincero, já a receava. Para quem, como tu, acompanhou o drama duma história de
amor, seria o sacrifício final.
Mas eu ainda te espero e deixo-te o livro que
me ensinaste a escrever.
Eu fui feliz. Tudo valeu a pena.
Eu acredito que, um dia, irás voltar à casa
da colina. Afinal tu és como as andorinhas que voltam sempre ao mesmo beiral. E
eu estarei sempre contigo. Tu és a vida e eu o pó que restou.
Adeus”
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