domingo, 30 de junho de 2019

QUATRO SONHOS -AMOR









                                                       QUATRO SONHOS


                                                               A M O R
  
                                     
                                                      A CASA NA COLINA








 


5 – POEMA DE AMOR


 


 


Aquele momento, fora o encontro de dois corações desesperados. Fora uma vertigem que passou como uma nuvem perdida.


 Joana saiu correndo. Luís ficou sentado controlando as emoções.


“Quem diria que eu, desiludido na vida, fugindo à procura de um lugar calmo para viver o resto dos dias, passados três do início do caminho, iria viver um momento tão emotivo, tão apaixonado? Ele que já havia esquecido o amor e o sexo, entregaram-se como se fosse o primeiro dia, do primeiro amor.


Ficou no lugar onde ainda sentia o calor e o cheiro daquela mulher que lhe deixara marcada na pele os sinais de desejo e de angústia. Ficou revivendo aquele momento.


Fechou os olhos mas não conseguia dormir. Precisava de um calmante que o médico lhe aconselhara para um batimento acelerado do coração. Desceu, abriu a caixa dos medicamentos, encontrou o calmante que tomou e, enfim, enfim descansou.


Acordou cedo, barbeou-se, tomou um duche rápido, a água estava mesmo fria, limpou-se com energia e sentiu de novo o calor. Vestiu uns calções e uma camisola leve, calçou ténis e desceu.


Joana não estava na sala, mas tinha deixado uma chávena, pão e manteiga e no fogão a cafeteira que ainda fumegava. Serviu-se, generosamente de café, comeu uma fatia de pão com queijo, e sentiu que a felicidade chegara.


Sentia-se leve e sedento de companhia. A noite, aquela primeira noite, seria o prenúncio dum verão escaldante, talvez o maior e mais intenso. Até quando? Ah isso não sabia nem queria saber. Seria até ao fim.


Ouviu o ruído da motoreta, saiu à rua e Joana já o esperava sentada ao volante e avisando:


 


- Hoje está um dia de sol que me desafia a ver as árvores a florir, o trigo a crescer, o canto dos pássaros, enfim a Natureza é a minha confidente e companheira. Convido-o para ficar a conhecer o meu mundo mas ficará num local à sua escolha e eu irei fazer o meu trabalho. Levo um farnel para si e de for do seu agrado, traga um livro, daqueles que eu vi no seu saco de viajem, e espere por mim.


Luís voltou a casa, abriu o saco dos livros e escolheu o livro que poderia ser a história da sua vida. Vinte Poemas de Amor e uma Canção desesperada. Autor, Pablo Neruda.


Com os solavancos pelo caminho, Luís sentiu o mesmo desejo que perfumara a noite que não esquecera. Ele bem sentia a pele macia da companheira, por baixo dos seios soltos. Isso excitou-o como há muito tempo se não sentia, e fazia-o desejar que a viajem fosse até ao fim do mundo.


Mas Joana parou à sombra de uma velha oliveira e explicou:


“ Esta oliveira marca a separação de três propriedades. Naquela encosta que se vê à esquerda, plantei um olival novo. São oliveiras plantadas há dois anos e que são regadas num sistema gota a gota. Pertencem-me e eu trato-as como se trata um filho. Dia sim, dia não, faço-lhe uma visita, falo com elas, limpo algumas ervas e sento-me numa pedra que me permite espraiar os olhos pelos campos e beber a magia do meu Alentejo. Esqueço as desventuras e os desgostos, porque como Luís deve calcular, também os sofri. Aprendi a viver a tranquilidade e a beleza da natureza e as oliveiras que plantei com suor, dar-me-ão os frutos que me ajudarão a enfrentar o futuro.


A seara que se estende daqui até aquele monte, e indicou uma elevação bem distante é minha e de meu irmão. Foi a herança que recebemos dos nossos Pais. Cultivamos o trigo ou outro cereal conforme o mercado ou se o ano for seco ou chuvoso. É o Manuel quem toma as decisões. Este ano, como choveu bastante semeamos trigo e é de esperar uma boa colheita.


Os terrenos que não estão cultivados são de pouca qualidade, embora seja neles que construímos duas pequenas barragens de terra, guardando a água das chuvas e de um pequeno regato que por ai corre. É uma zona pedregosa, cheia de flores selvagens, com o cheiro da esteva e da madressilva. Passo muito do meu tempo, estendida numa rocha, molhando os pés na água, e ouvindo o chilrear da passarada que aqui faz os seus ninhos.


O Luís escolha um lugar de que goste, ficará só enquanto eu vou beber o cálice da minha amargura. Demorarei tempo mas no final do dia passarei para o levar. Parou a motoreta, indicou ao companheiro a árvore que serviria de local para o encontrar no regresso, Luís desceu, caminhou e sentou-se na sombra do pinheiro.


 


Luís descansou algum tempo e começou a caminhar. Sem destino, foi guiado pelo pensamento que encontrou um pequeno grupo de madressilvas, com as flores chamando as abelhas que voavam sugando o néctar. Ficou fascinado, para um citadino não seria fácil reconhecer a beleza do trabalho das abelhas operárias, duma sociedade perfeita.


Avançou, escorregou e caiu na água da pequena lagoa que as madressilvas escondiam. Ficou encharcado, voltou para o local de onde partira e deitou-se aproveitando o sol que, mesmo ao entardecer dum dia de Abril, lhe dava o conforto que há tanto procurara. Precisava de calor, no corpo e no coração. Afinal, quando esperava o sinal de partida, encontrou prazer, ternura e amor. Tremeu pensando: Estarei sonhando e tudo será, apenas, uma nuvem passageira?


 

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