sábado, 19 de novembro de 2016

DOLORES


AS PALAVRAS SÃO UMA ARMA

Finalmente, encontramos alguém que nos pode ajudar, segreda Diogo ao irmão, que como ele estava recostado e parecia estar dormindo.

Não estava, estava a relembrar todos os momentos que haviam passado, desde o dia em que se encontraram na serra, o encontro com o Ernesto e a história que ele lhes contou e o pedido que lhes fizera. Custava-lhe a aceitar que a aventura se encaminhava para o fim. Só não sabia se seria o salvamento das crianças ou a perda da própria vida. No íntimo sentia a dor de que nada lhes restou daquela aventura. Ficavam apenas as palavras.
Todavia não queria desmoralizar o irmão, era evidente o nervosismo dos guerrilheiros que corriam de um local para outro, montando minas, cavando trincheiras e distribuindo as tarefas de cada grupo. Não era um bom sinal!

Entretanto Dolores mandou que se justassem aos combatentes aguardavam a refeição da noite. Comeram em silêncio a sopa e o pão e ouviram com atenção as palavras de quem sempre assumira a responsabilidade de lutar.

- Camaradas:

- Temos connosco dois portugueses que aceitaram a salvar duas crianças que se encontram algures em Badajoz. São crianças que são o exemplo dos horrores desta guerra. Os Pais e o irmão foram assassinados na praça de touros. Escondidas junto de alguns familiares distantes foram perdendo um a um o refúgio.

Estes dois Portugueses apenas sabem que um homem os poderá ajudar. Alonso é o seu nome. Sim o Alonso é um companheiro e já me disse a casa onde as crianças se encontram. E eu também conheço a casa e a mulher viúva que as acolheu e serei eu a ajudar.

Este acampamento é capaz de ser o último refúgio onde poderemos enfrentar os militares. E vamos ter que o abandonar mas a tarefa dos soldados do tércio não irá ser fácil, porque, como vimos fazendo desde a Andaluzia, lutaremos, defendendo metro a metro. Mesmo que apenas nos restem as palavras, será com elas que gritaremos os horrores duma guerra injusta mas que o mundo faz por esquecer.

Quando for a hora de retirar, vamo-nos separar em dois grupos. O primeiro será comandado pelo camarada Manuel e com ele seguirão o Pablo, Juan, Diogo, Perez, Severino, Manolo, Alberto, Patchi mais a Mercedes e a Rosário. O Manuel conhece o caminho para descer a serra pela encosta mais difícil, e tem o mapa para chegar a Ciudad Rodrigo, onde se pensa ainda resistem soldados da República.

O Carlos, o Fadagosa e o Alonso ficarão comigo e com os Portugueses. Iremos a Badajoz salvar as duas crianças. E com o respeito que devemos aos mártires da matança da Praça de Touros, havemos de conseguir.

Agora vamos dormir, amanhã será o dia difícil. Mas digam lá, alguma vez, desde que começou o nosso calvário, tivemos outro dia?

 

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