ABANDONADOS
E
lá foram caminhando, por uma estrada em mau estado, instalados numa carroça que
uma mula velha e cansada ia puxando.
Já
tinha decorrido bastante tempo depois da partida, quando o condutor, olhando para
o companheiro que seguia ao lado, resolveu dar os conselhos. Assim:
-
Estamos a chegar a uma curva da estrada onde, normalmente, estará uma patrulha
da Guarda Civil. Eles já me conhecem e provavelmente, irão perguntar quem é
você. Finja que não entendeu e serei eu a falar. Percebeu?
Diogo,
o irmão mais velho, acenou que sim. Não seria difícil, pensou com os seus
botões, já que eu nem o que ele tem dito, tenho entendido, quanto mais conversa de
polícia. Isto pode correr mal!
Não
demorou muito tempo até que dois Guardas, saindo meio das árvores os mandaram
parar.
-
Então agora também faz o transporte de pessoas, pergunta um dos Guardas?
-
Não senhores guardas, este é um desgraçado sem eira nem beira que procura
trabalho. Ajuda-me a troco de umas sopas. Eu não me esqueci de vocês, trago a
lembrança do costume. E pegando num pequeno saco entregou-o ao guarda mais
próximo que o aceitou, com um sorriso.
O
outro guarda, mais graduado, dava uma volta pela carroça, espreitara a carga,
nada viu e fez sinal ao colega para deixar seguir.
Foi
o alívio para António, que escondido pelos fardos, sentiu que tinham retomado o caminho.
Continuaram
a viajem, mas os dois irmãos agora juntos, olhavam entre si porque se tinham apercebido que o condutor ia ficando mais tenso e que as
suas mãos lhe tremiam, até para acender o cigarro. Era um mau sinal, pensaram.
Passadas mais umas centenas de metros, Manolo parou a carroça e virando-se para os dois irmãos disse:
Passadas mais umas centenas de metros, Manolo parou a carroça e virando-se para os dois irmãos disse:
-
Chegámos ao local onde nos teremos de separar. Vocês seguem um carreiro que vão
encontrar ali mais à frente, caminham o mais rápido possível até encontrarem as
ruínas de uma casa. Saltem o muro e escondam-se até aparecer o homem que
vos guiará até ao local que procuram, casa dos familiares do Doutor Gonzalez.
O nome do homem é Alonso, é um desertor do exército franquista e que,
naturalmente, tem que viver escondido.
A
carroça retomou a marcha e numa curva mais adiante, Manolo disse:
-
É aqui que acaba o meu trabalho. Corram, ali está o caminho que vos indiquei.
E
eles lá foram correndo, por entre moitas e pinheiros até pararam junto a um
muro em ruínas. Reganharam forças, saltaram o muro.
Aguardaram
e ninguém apareceu. Foras horas até ao fim do dia. Sem comida e cheios de frio, mas do Alonso nem sinal. António segredou ao irmão:
-
Não fiques assim Chico, o Alonso não era um desertor ?Então voltou a desertar e
nós ficamos sós. Por isso, não é tarde nem é cedo, vamos
correr na direção da fronteira e regressamos a casa.
- O irmão levantou-se num salto e ia começar a correr quando parou. Olha lá, estamos perdidos e de noite nunca mais vamos encontrar o caminho de regresso!
Tinhas razão esta história não começou bem e também eu começo a ter medo que tenhamos caído numa armadilha. Mas por isso, mesmo de noite temos que fugir, atravessar a estrada em que o Manolo nos deixou e quando estivermos longe deste lugar, pensaremos no melhor caminho para casa.
A nossa aventura começou tremida, agora se ninguém aparecer e nos ajudar pode ser o fim da viajem e da nossa vida.
- O irmão levantou-se num salto e ia começar a correr quando parou. Olha lá, estamos perdidos e de noite nunca mais vamos encontrar o caminho de regresso!
Tinhas razão esta história não começou bem e também eu começo a ter medo que tenhamos caído numa armadilha. Mas por isso, mesmo de noite temos que fugir, atravessar a estrada em que o Manolo nos deixou e quando estivermos longe deste lugar, pensaremos no melhor caminho para casa.
A nossa aventura começou tremida, agora se ninguém aparecer e nos ajudar pode ser o fim da viajem e da nossa vida.
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