quinta-feira, 20 de junho de 2019

1 - QUATRO SONHOS


                           QUATRO SONHOS


                      

                       AMOR
                           


                              A CASA NA COLINA
 

3 – O paraíso

Acordou sentindo a brisa suave da tarde que se aproximava. O silêncio, a calma, eram o remédio que procurava para as suas dores. Respirou fundo, bebeu o ar puro e sentiu que o Paraíso seria ali, naquela aldeia perdida na imensidão do seu Alentejo.


 Olhou em redor, Não avistava movimento ou pessoas. sentiu a dor ao constatar,o que já lera nos jornais que ainda mereciam ser lidos,que o Alentejo interior estava quase deserto . E sentiu pena. Tal como ele, também aquela terra, tão bonita, estaria já condenada.
Olhou o relógio, eram quase cinco horas da tarde e ainda nem sequer sabia como iria chegar à casa da colina, a sua future casa. Teria de ia subindo, carregando malas, as que conseguisse, e depois voltaria a descer para  outro carregamento. Mas pergunta-se, terei forças para subir aquele monte? Duvido murmurou.
Entretanto do meio da angústa que já começara a sentir, teve um golpe de sorte.



“Vossemecê parece perdido. Posso ajudar?

Aliviado por encontrar alguém, Luís esboçou um sorriso e respondeu:

“ Sabe, eu estava era admirado por não ver ninguém. Até pensava que me tinha enganado no destino.  Porque com o meu entusiasmo esqueci de procurar transporte para o monte onde está minha futura casa  e as forças já não me pemitem grandes aventuras.Receio não conseguir!
 

Então o senhor vem para ficar e presumo na casa da colina que ouvi dizer ter sido vendida?”

“- Sim e fui eu quem a comprou. Queria um lugar isolado, onde pudesse encher os pulmões de ar puro e beber a paisagem. Não encontrei nada melhor e por isso aqui estou, contente, mas embaraçado com tanta bagagem que não sei como transportar.”

O meu nome é Luís “

Meu amigo, isolada a sua casa é. Respirar ar puro e admirar a paisagem também lhe vai ser fácil, mas a casa está desabitada há muito tempo, poderá encontrar algumas limitações ao conforto em que terá vivido. Nada, porém, que não possa ser resolvido. Mas, acredite o que lhe digo, os primeiros tempos não serão fáceis. O acesso também não o será, pois se bem me recordo, existe apenas um carreiro, que deve estar em mau estado, e que era utilizado, por uma carrocita pequena, puxada por um burro, quase tão velho como o casal que lá habitava, e lá morreu. Não o quero desmoralizar, o sítio é muito bonito, de verdade, mas também vai encontrar dificuldades. Por exemplo e para já, não terá acesso ao abastecimento de água, à distribuição de energia elétrica e para ajudar não existe rede para o funcionamento de telemóveis. O abastecimento de água será o menor dos males. Tem, ao que eu me lembro, uma nascente de água mesmo perto da casa, com um pequeno tanque de reserva. E o resto terá de se habituar. Porque garantido, só terá a calmaria dos dias no Alentejo e a solidão como companheira. Eu poderei ajudar, passarei para o visitar, dia sim, dia não. Pode passear e deixar escrito num papel, pregado na porta, o que vai precisar.

Agora e para o ajudar a transportar as suas coisas, eu resolvo a questão utilizando a minha motoreta com atrelado. Mas terá de esperar mais um pouco, até que o empregado que me ajuda na loja, se apresente ao trabalho.”



- Então eu já volto. Já agora apresento-me. “O meu nome é Manuel Carvalho e aqui nas redondezas toda a gente me conhece pois, além de comerciante, sou também o Presidente da Junta da Freguesia.”

Passou algum tempo, mas cansado como estava nem isso era importante. O sol começara a cair e pouco a pouco viu pessoas carregando o peso dos anos e as dores do trabalho de sol a sol, Sim, afinal a aldeia ainda tinha vida mas que vida! 
Ouviu o ruído estridente de um motor. Era o Manuel Carvalho que se aproximava, montado na motoreta e puxando um pequeno atrelado.

“- Vamos embora amigo, vamos lá subir a encosta. A casa na colina espera por si.” Carregaram as malas, os sacos e o atrelado ficou cheio.

Caramba, diz Manuel o senhor traz a casa às costas! Quer isso dizer que vai ficar na casa dos sonhos até ao fim da vida?

Diz bem meu amigo, até ao fim da minha vida, respondeu Luís:

Foi uma subida difícil. Como Manuel previra, o caminho estava quase intransitável o que lhe exigiu perícia, acelerações do motor e em alguns lugares foi necessário recorrer à força de braços para mover a composição. Manuel era um homem ainda jovem, criado no campo e, apesar do suor que lhe escorria pelas fontes não parou de empurrar. Luís também procurou ajudar, mas entre tropeções e escorregadelas a sua ajuda foi apenas cheia de vontade, porque força não tinha. Mas conseguiram chegar ao terreiro em frente da casa. Manuel ajudou a descarregar a bagagem e despediu-se:

            “ Vou ter de regressar a tempo de fechar a loja e seguir para uma reunião na Junta. Não se esqueça que pode, sempre, contar comigo.

            “- Não se prenda comigo amigo Manuel. Vou descansar olhando a paisagem que, tenho a certeza, me irá deslumbrar.

Luís assistiu à partida do Manuel. Estava só, olhou em redor, viu uma grande árvore, uma azinheira que desafiava o sol. É lindo, pensou, enquanto sentado no chão admirava o entardecer.

Ajeitou-se, acendendo um cigarro que saboreou com prazer e percebeu, que só aquele momento, admirando os campos que se estendiam por pequenos montes e vales até onde a vista alcançava, já teria pago o cansaço da sua aventura.

  O pôr do sol foi como o recordar um filme que quase esquecera.Afinal, murmurou, cheguei à minha casa, na colina da saudade. -

                           

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