terça-feira, 25 de junho de 2019

QUATRO SONHOS - (AMOR)


                             QUATRO SONHOS

                                
                              AMOR

                      
                             A CASA NA COLINA

                      

                       

 3 – DESILUSÃO E FASCÍNIO

 

Quando o sol se escondeu, Luís, cheio de entusiasmo, decidiu ir ver a nova casa. Procurou a chave, abriu a porta e sentiu uma estranha sensação. Sentiu um arrepio e, rapidamente, voltou ao ponto de partida. Como sentira o cheiro dum ambiente estranho, não conseguiu controlar as náuseas que, como já lhe acontecera, seriam o prenúncio de muitas convulsões para conseguir expelir um líquido amarelo que lhe feria a garganta.

Abanou a cabeça, passara do entusiasmo ao desânimo. Aquilo não era uma casa, não podia ser a sua casa. 

Ficou sentado debaixo da árvore, respirou o ar puro, calou os vómitos e chorou. Perdido e sem força para lutar. Fechou os olhos e sentiu uma lágrima que se soltava. Mais uma esperança perdida. O vento era frio para quem não tinha grandes resistências. Escolheu roupa que transportava num saco, embrulhou-se e deu descanso a um corpo cansado e dorido. Acordou ao raiar da aurora. Sentiu que o seu próprio corpo exalava um cheiro que não conseguia suportar, Voltaram os vómitos. Precisava de mudar de roupa mas antes tinha que se lavar. Onde, perguntou-se?

Olhou em redor, a casa não era solução, mas no silêncio da manhã ouviu o chilrear dos pássaros. Seguiu o seu voo e ouviu como um chamamento, o som de água a correr. Foi ver e brotando de umas rochas na traseira da casa, encontrou um fio de água e um pequeno tanque. Nem hesitou, despiu-se, saltou para dentro e esfregou-se com toda a força. Só aguentou uns breves minutos, a água estava fria, saiu e correu à procura do sol. Foi no momento em que ouviu o ruído da motoreta que parava junto da sua bagagem. Olhou, não era o Manuel que a conduzia, mas sim uma mulher, ainda jovem, que se ria da figura que ele fazia, tapando a sua nudez enquanto tremia de frio.       

- Não fique envergonhado, já vi homens nus. Mas para ficar mais à vontade eu vou dar uma volta e volto já.
Luís vestiu-se, com roupa lavada e sentou-se no lugar de eleição
, debaixo da árvore, e quando a mulher voltou já tinha recuperado da situação insólita que acabara de viver. Todavia os seus olhos não escondiam a tristeza e a desilusão que a casa lhe causara. E eram tão marcados que a mulher parou na sua frente e disse com voz triste:

-“ O meu nome é Joana e sou a irmã do Manuel. Ele contou-me que a casa da colina já tinha um novo proprietário e eu quis ver, com os meus olhos a pessoa que escolheu aqui viver.

Percebo que o meu irmão que está sempre muito ocupado, talvez não o tenha avisado do que iria encontrar, logo que abrisse a porta.

Sinto que sofreu uma desilusão, certamente não esperava encontrar uma casa em ruínas, mas eu digo-lhe que a primeira impressão é para esquecer.
A casa precisa de ser recuperada depois de anos de abandono, mas acredite, se há casas com alma eu dir-lhe-ei, esta é uma delas.
Não acredito que o senhor seja homem para desistir. Pelo menos, dê oportunidade que o ocaso que o fez escolher este lugar, tão belo, tenha algum significado para si. O senhor foi atraído por forças que, talvez não tenha ainda reconhecido, mas que, pode crer, existem na natureza e na alma de cada um. Arrisco-me a prever que esta casa irá ter um papel na sua vida. Será um papel de felicidade ou de desesperança, isso caberá ao seu coração ir construindo.

Luís ouvindo as palavras ditas com um sentimento tão profundo fizeram com que ele, um náufrago da vida, esquecesse a doença e ousasse acreditar que a poesia que sentira nas palavras daquela mulher, que via pela primeira vez, poderiam ser o renascer da esperança. E ele precisava tanto de acreditar.

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