sexta-feira, 28 de junho de 2019

QUATRO SONHOS - AMOR







                                                QUATRO SONHOS




                                                          A M O R

                                            A CASA NA COLINA








4 - PAIXÃO


 


Luís hesitou, não sabia o que dizer, mas abriu o coração.


-“ Joana, perceba que um homem desiludido, doente, e carente de paz interior como eu, não podia assistir ao desmoronar dum sonho. Mas acredito que os sentimentos podem fazer renascer a esperança, e por isso me rendo. Vou cumprir o destino que aqui me trouxe, nesta colina, nesta casa, olhando o infinito que adivinho para lá daqueles montes. Já agora não me chama de senhor, o meu nome é Luís. Digo que já decidi ficar, não conseguirei viver na casa, preciso de recuperar das emoções e esperar os arranjos que terei de mandar fazer. Até lá, ficarei debaixo daquela árvore que já me estendeu o seu braço protetor.


-“ Aceite a minha sugestão, respondeu Joana, eu vivo na aldeia, ocupo a casa que os meus Pais me deixaram, tenho o primeiro andar livre e ainda um pequeno terraço. Também tenho umas vistas bonitas e o terraço pode servir para os seus exercícios matinais, já que não há casas mais altas na cercania. Ninguém irá reparar se está nu ou em cuecas.


Pode ficar o tempo que quiser até à conclusão das obras, na sua nova casa. Quando o convidei não pensei em fazer negócio. Eu apenas quero ajudá-lo.”


-“Mas o seu irmão e a vizinhança acharão bem que você partilhe a sua casa com um homem, para mais desconhecido, retorquiu Luís?”


“- Com isso não se importe, sou maior e vacinada e faço a vida de acordo com a minha maneira de ser e não tenho de prestar contas a ninguém. Sou livre como o vento. Respeito as pessoas, ajudo os que precisam mas mantenho sempre alguma distância que não é preconceito, mas apenas a defesa dos sentimentos e emoções que são apenas meus e não costumo partilhar. O meu irmão, único familiar próximo, entendeu a minha vontade. Também ele tem casa própria, terá amigas, nunca me disse que havia assumido algum compromisso duradouro, mas é a vida dele. Temos de trabalhar juntos, na época da sementeira e da colheita. Mas o trabalho é tanto, que nem dá para conversarmos.


Mas, antes de se decidir, quero dizer-lhe que o que lhe proponho é apenas espaço físico, alguma companhia mas a Joana não estará incluída no negócio. “


 Luís surpreendido com a afirmação não soube o que dizer. Apenas agradeceu e aceitou o convite.


Em silêncio, juntaram a bagagem, carregaram o atrelado e prepararam a descida da colina.


- “Luís, o atrelado não suporta mais peso, avisou Joana. Por isso o seu lugar terá de ser partilhado comigo, no selim do condutor. Agarre-se bem à minha cintura, pois não quero perdê-lo, logo a seguir a tê-lo encontrado.


A descida da encosta feita com razoável velocidade e destreza, obrigou Luís a colar-se ao corpo da condutora. Sentiu o seu calor, há quanto tempo não sentia o calor do corpo duma mulher, mergulhou o rosto na cabeleira farta e respirou o cheiro a alfazema.


A motoreta parou à porta de casa, mas Luís nem disso se apercebeu. Foi Joana quem com um sorriso irónico lhe disse:


 -“Pode largar-me, já chegamos.”


Luís estremeceu, como se acordasse dum sonho, soltou as mãos, desceu da motoreta e encostou-se à parede, pois com a descida, havia sentido uma tontura inabitual.


“- Olhe, disse Joana, eu tenho de ir à minha vida. Vá levando as suas coisas para o quarto do primeiro piso, será o seu enquanto quiser. Faça como se estivesse em sua casa.


 Só uma observação, dentro de casa não existem chaves nas portas. A única que existe é a chave da rua que está pendurada atrás da porta, mas não creio que precise de a utilizar.


Como é habitual, não sei quando irei voltar. O tempo para mim é marcado pelo sol ou pelas estrelas, não sou escrava das horas, aliás, nem uso relógio. Fique à vontade, em algum momento regressarei.”


Dito isto, arrancou a toda a velocidade e rapidamente desapareceu.


 


Luís foi transportando a sua bagagem para o quarto que Joana havia indicado.


Estava cansado, deitou-se da cama cerrou os olhos e sonhou.


O foi um sonho lindo. O calor do corpo de Joana acendera a chama da paixão.


Era o entardecer quando Joana espreitando pela porta o convidou.


“- Suba comigo para o terraço. Eu preparei uma refeição leve e, enquanto comemos, ficaremos olhando as estrelas.


Sentados no banco do terraço, Luís fixou os olhos na mulher que se sentara a sua lado, não resistiu e perguntou:  


             “- Joana, porque me olha assim? Se quer conhecer-me, pergunte o que quiser e eu responderei a tudo, com a verdade, prometo.”


            “- Eu não tenho dúvidas de que o fará, respondeu Joana, mas confesso que a sua decisão de vir habitar uma aldeia perdida no meio da planície e numa casa em ruínas, me faz pensar que, por uma qualquer razão que não conheço, mas pressinto, não gostarei de ouvir a sua história. Embora eu possa parecer insensível, a verdade é que, ouvir uma história triste despertará em mim angústias e dores que tento esquecer.


Sugiro-lhe que fale com o meu irmão sobre a recuperação da sua casa na colina.


Até lá é meu convidado.


A minha vida começa bem cedo. Percorro os campos, paro com alguma frequência para admirar um formigueiro, uma flor. Nesses momentos encontro-me comigo, relembro o que vivi e como vivi e faço-o em comunhão com o que de mais belo existe, a natureza.


Quando me quiser fazer companhia, já sabe é sair pelas sete da manhã e regressar pelas sete da tarde. O caminho é o que for. Descansaremos quando nos apetecer, refrescar-nos-emos nalgumas pequenas albufeiras, respiraremos o ar puro e o odor dos campos em flor.”


        “- Joana a minha vida não será um romance, aliás teria até muito pouco que contar. De qualquer modo o destino encaminhou-me para um lugar, que me fez lembrar a minha infância com o cheiro da terra e o brilho do sol. E como prémio o poder sentir o fascínio de uns lindos olhos verdes.”


Joana não escondeu um sorriso leve.


Agora olhava para Luís e sentia-se inquieta, e só ao longe, como um murmúrio ouviu que Luís, olhando no vazio, abria o coração.


Olharam-se nos olhos e num impulso Joana apertou a mão do companheiro, e beijaram-se. Um beijo leve que rapidamente se transformou num momento de paixão. Corpos unidos e sem uma palavra soltaram as emoções esquecidas. Amaram-se com loucura, partilhando calor, desejo, emoções, angústias e paixão.


No cimo da colina a casa que os juntara ficara só.


 

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