segunda-feira, 10 de junho de 2019

QUATRO SONHOS


                     
                       QUATRO SONHOS

    
 

                            


                                    AMOR

Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.


                                                   

 

                                      A CASA NA COLINA

 

1 – A VIAGEM

 

A camioneta da carreira, embora com significativo atraso, acabara de estacionar no largo da pequena povoação perdida no Baixo Alentejo.

Saíram dois miúdos apressados, as sacolas ao ombro eram o sinal de que regressavam da escola. Iriam brincar? Quem sabe, pensava o passageiro que viajara deste Lisboa, na procura do fim do caminho.

O desconhecido, homem acima dos quarenta anos, foi o último a abandonar a camioneta, ajudando o motorista a retirar as suas coisas, bastantes, que quase enchiam o porta-bagagens da pequena e já cansada, camioneta.

O motorista esboçou um sorriso de agradecimento e arrancou. Foi um instante de alguma agitação mas depressa o largo voltou a ficar calmo e vazio.

No meio, sem saber bem o que fazer, ficara o passageiro desconhecido, um homem da cidade, que se sentia perdido, rodeado por malas e sacos que nem sabia como e para onde transportar.

Sentou-se na mala, puxou dum cigarro e deleitou-se com o fumo que inspirava. Estava só e cansado. Apesar de ter tentado deixar o vício do tabaco, voltara a ele, pois reconhecera que deixar de fumar seria abandonar um dos últimos prazeres que lhe restariam até ao fim da vida.

 Olhou para todos os lados, não viu ninguém. A praça era um quadrado de meia dúzia de casas em cada lado, rodeando um pequeno canteiro onde uma oliveira desafiava o tempo. As casas eram, na sua maioria térreas, uma porta duas janelas, todas caiadas de branco com o rodapé e as molduras da porta e das janelas, pintadas de azul.

Finalmente olhou com mais atenção para uma casa maior que quase completava um dos lados da praça. Era uma casa alta, mais de dois andares e à sua volta um banco corrido ao longo da parede, protegido do sol pela sombra de algumas videiras.

Ali estava a primeira coisa boa que aquele dia lhe trouxera, um lugar à sombra e um banco para se sentar.

Começou a carregar as suas coisas e depois de três ou quatro idas conseguiu terminar a tarefa e sentar-se no banco, encerrar os olhos e recuperar do cansaço. Já o sabia, mas aquele pequeno esforço mostrara a sua debilidade. O corpo já não lhe respondia como antigamente, mais o pior cansaço era a sua luta entre a mente que resistia e a desesperança, que pouco a pouco ia vencendo.

Estava um dia quente, nem uma leve aragem lhe trazia algum alívio. Talvez tivesse subestimado o calor da planície alentejana quando decidira procurar um lugar isolado e calmo, onde pudesse fazer uma vida tranquila, e eventualmente, acabar o livro que prometera a si próprio escrever, sem conseguir dar corpo à história que havia imaginado. Acabar de escrever um livro sorriu, pois aquele fora o pretexto para explicar aos amigos a sua decisão de mudar de vida.

Porém a realidade era bem diferente. Bem que gostaria de ser capaz de escrever um livro, ou dois ou três, mas teria tempo ou talento para tal ?


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