QUATRO SONHOS
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1º
AMOR
Duvida da luz
dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.
A CASA NA COLINA
1 – A VIAGEM
A camioneta da carreira, embora com significativo atraso, acabara de
estacionar no largo da pequena povoação perdida no Baixo Alentejo.
Saíram dois miúdos apressados, as sacolas ao ombro eram o sinal de que
regressavam da escola. Iriam brincar? Quem sabe, pensava o passageiro que
viajara deste Lisboa, na procura do fim do caminho.
O desconhecido, homem acima dos quarenta anos, foi o último a abandonar a
camioneta, ajudando o motorista a retirar as suas coisas, bastantes, que quase
enchiam o porta-bagagens da pequena e já cansada, camioneta.
O motorista esboçou um sorriso de agradecimento e arrancou. Foi um instante
de alguma agitação mas depressa o largo voltou a ficar calmo e vazio.
No meio, sem saber bem o que fazer, ficara o passageiro desconhecido, um
homem da cidade, que se sentia perdido, rodeado por malas e sacos que nem sabia
como e para onde transportar.
Sentou-se na mala, puxou dum cigarro e deleitou-se com o fumo que
inspirava. Estava só e cansado. Apesar de ter tentado deixar o vício do tabaco,
voltara a ele, pois reconhecera que deixar de fumar seria abandonar um dos
últimos prazeres que lhe restariam até ao fim da vida.
Olhou para todos os lados, não viu ninguém.
A praça era um quadrado de meia dúzia de casas em cada lado, rodeando um
pequeno canteiro onde uma oliveira desafiava o tempo. As casas eram, na sua
maioria térreas, uma porta duas janelas, todas caiadas de branco com o rodapé e
as molduras da porta e das janelas, pintadas de azul.
Finalmente olhou com mais atenção para uma casa maior que quase completava
um dos lados da praça. Era uma casa alta, mais de dois andares e à sua volta um
banco corrido ao longo da parede, protegido do sol pela sombra de algumas
videiras.
Ali estava a primeira coisa boa que aquele dia lhe trouxera, um lugar à
sombra e um banco para se sentar.
Começou a carregar as suas coisas e depois de três ou quatro idas conseguiu
terminar a tarefa e sentar-se no banco, encerrar os olhos e recuperar do
cansaço. Já o sabia, mas aquele pequeno esforço mostrara a sua debilidade. O
corpo já não lhe respondia como antigamente, mais o pior cansaço era a sua luta
entre a mente que resistia e a desesperança, que pouco a pouco ia vencendo.
Estava um dia quente, nem uma leve aragem lhe trazia algum alívio. Talvez
tivesse subestimado o calor da planície alentejana quando decidira procurar um
lugar isolado e calmo, onde pudesse fazer uma vida tranquila, e eventualmente,
acabar o livro que prometera a si próprio escrever, sem conseguir dar corpo à
história que havia imaginado. Acabar de escrever um livro sorriu, pois aquele
fora o pretexto para explicar aos amigos a sua decisão de mudar de vida.
Porém a realidade era bem diferente. Bem que gostaria de ser capaz de
escrever um livro, ou dois ou três, mas teria tempo ou talento para tal
?
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