ANO 2000
Enquanto na noite brilhavam as luzes do fogo de artifício, celebrando o nascer do novo ano, novo século e segundo milénio, os prevenidos do costume, encerrados nas caves e abrigos previamente construídos e abastecidos ou escondidos nos recantos mais remotos das florestas, aguardavam o apocalipse.
Estavam em suspenso e em silêncio. Acreditavam no fim do mundo e eles, os tementes os mais puros seriam a semente do homem novo.
Mas, para sua surpresa, o sol voltou a nascer do mesmo lado e com o mesmo brilho. Os profetas teriam cometido um erro, natural, pois mais ano menos ano, os homens se encarregarão de cumprir a sua missão.
Neste pedaço de terra outrora esquecido, com séculos de história em que o seu nome foi respeitado e temido, havia uma nova madrugada.
Durante o governo do Professor Cavaco, a economia transformou-se, as remessas de fundos comunitários alimentaram os espertos do costume. E vendemos a agricultura e as pescas e oferecemos a vergonha.
Levantamos o nome de Portugal, um País moderno, cheio de auto-estradas, e uma imponente ponte imortalizando o nome do grande navegador Vasco da Gama e dando início a uma nova febre. Não a do ouro, nem a do petróleo, mas sim duma doença esquisita que os financeiros se encarregaram de disseminar. A febre das PPP, que um dia iríamos pagar com sangue suor e lágrimas.
E o dinheiro continuava a correr. O País pobre passou a ter uma região com a mais alta concentração per capita de automóveis Ferrari.
Os Portugueses mais engenhosos inventaram os rebanhos itinerantes para que as verbas comunitárias fossem distribuídas com base em números fabricados. E então era ver a circular nas nossas estradas os jipes topo de gama com a marca IFADAP.
A actividade bancária crescera apresentando resultados fantásticos. O mais conseguido e mais moderno Banco, nasceu. Gente do mais sério e competente que se conhecia foram a força motriz. O Banco chamava-se BPN. E deu de comer a muita gente.
Apesar de tudo Cavaco Silva não se apresentou a novas eleições e o Partido Socialista ganhou as eleições. Era hora de alimentar outras famílias.
Mas em 2000, ano internacional da cultura e da paz, ameaçava ser o auge do tempo dos prodígios. E António Guterres era então primeiro-ministro.
Em 4 de Janeiro Portugal entrou no clube dos ricos. A Bolsa de Valores de Lisboa começou a negociar em Euros.
Os avisos de que na Bolsa se vendia gato por lebre não surtiram efeito, todos o jogavam na lotaria.
E o mundo mudava, o tempo dos prodígios era cada vez mais evidente.
- O Papa João Paulo II pede perdão pelos erros cometidos pela Igreja Católica, nos últimos 2000 anos, entre eles a Inquisição e as Cruzadas e o desrespeito às outras religiões e culturas na catequização e a hostilização ao povo judeu.
- A Rússia, agora uma Democracia, elegia Vladimir Putin. O saque dos tempos de Yeltsin, os novos multimilionários que ele criou, tiveram que se afastar ou mudar de casaca. Havia outros na fila de espera.
A ciência deu um passo em frente anunciando o primeiro esquema da sequência do genoma humano. Nesse dia muitas barreiras tremeram, afinal todos os homens, eram iguais. E agora?
Sim todos os homens eram iguais mas, como tudo na vida uns havia que eram mais iguais que outros.
Ah, quase me ia esquecendo. Ano 2000, o ano de prodígios, viu o Sporting campeão de futebol. E sem favor, este é o facto mais marcante daquele ano.
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