segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O TEMPO DOS PRODÍGIOS

ANO 2001

A nave dos loucos começou a jornada. O ano promete ser fértil.
Logo no dia 20 de Janeiro, George W. Bush, toma posse como presidente dos EUA. A viagem prometia.
A doença das vacas loucas que assustou o mundo civilizado, tinha levado as autoridades de saúde a proibirem o consumo de vísceras dos animais, e do cérebro em particular.
Essa proibição teve efeitos nefastos. Porque por falta desse nutriente, havia mais pessoas que se queixavam de esgotamento e de lapsos de memória. E a culpa era das vacas.
A OMS que controlava os números de doentes infectados constatou que em algumas regiões o flagelo não teria tido grandes proporções. A África era uma delas, as pessoas morriam aos milhares mesmo sem a ajuda da doença das vacas loucas.
No mesmo ano em que Milosevic, presidente da Sérvia é preso e apresentado a julgamento pelo Tribunal de Haia, acusado de crimes contra a humanidade, no outro Continente, o General Pinochet, o carrasco do Chile, é preso, fica em prisão domiciliária e depois é libertado.
 A justiça Chilena arrancou a máscara e decidiu em conformidade com os superiores interesses do Estado. Afinal o ditador não fora culpado de nada. Coisas de somenos, talvez.
Importante foi a eleição de Tony Blair para primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Era a segunda, talvez a terceira, ou seria a quarta via, já não sei bem, mas diziam ser um outro caminho para o futuro. E assim foi, como mais tarde se comprovou.

E em Portugal?
Em 5 de março, no pior acidente em dez anos em estradas europeias, dois carros e um autocarro de passageiros caem no rio, após quebra de estrutura de ponte metálica, construída em 1886, que ligava os municípios de Castelo de Paiva e Entre-os-Rios, sobre o rio Douro. Foram dezenas de mortos e muitos corpos nunca foram recuperados e lá ficaram sepultados sob as águas.
Desta vez o Ministro admitiu responsabilidade política e demitiu-se. Por razões de consciência, afirmou e para que fossem apuradas responsabilidades e a culpa não morrer solteira. Coisa nunca antes vista, que eu me lembre, pois a culpa nunca encontrou marido. Solteira nasceu e solteira morrerá.
E o Ministro lá seguiu o caminho habitual de todos, ou quase todos, os governantes ao cessarem funções. Um bom lugar numa Empresa Pública ou Privada.

Bem aqui tudo se portava bem e as operações de distribuição do Euro, em notas e moedas pelos Bancos, preparavam o futuro. Porque atempadamente, coisa que não nos é muito habitual, tudo foi feito para que em 1 de Janeiro de 2002, a nova moeda estivesse em circulação. Uma moeda sobre a qual, o País deixaria de ter controlo. A soberania, essa ficou guardada numa gaveta, onde tantas promessas já tinham sido arquivadas.
E a língua Portuguesa ficou mais pobre. Morreu Jorge Amado o Cavaleiro da Esperança.

Mas a nave dos loucos abriu as comportas. Soltou ódios, sementes de guerra e espíritos perturbados.
O mundo iria assistir em directo a um dos episódios mais terríveis, e que já não se pensava ser possível. O 11 de Setembro, a destruição das torres do World Trade Center em Nova Iorque extremarem o conflito civilizacional e a intolerância religiosa. Morreram naquela manhã, milhares de civis, brancos, negros, asiáticos e hispânicos, sem distinção de qualquer credo religioso. Tinham algo em comum, cometeram o crime de estarem, naquele dia, no seu lugar de trabalho.
Depois foi a retaliação. Os EUA começaram a bombardear o mesmo Afeganistão que anos atrás haviam armado para expulsar os soviéticos.
E os mercadores da morte recomeçaram a esfregar as mãos pelo dinheiro que choveria a rodos.
Finalmente aqui, na quietude nos nossos costumes, enquanto alguém se distraiu  e o Valentim  com o Boavista ou o Boavista do Valentim, vai dar ao mesmo, foi campeão de futebol.

E foi mesmo um prodígio!

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