quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

PALAVRAS

TERNURA

Quando menos esperava, um dia em que lia o jornal com a televisão aberta, fui despertado por uma frase dita por um entrevistado, num qualquer naqueles programas matinais. Não posso precisar o programa nem recordo o entrevistado que proferiu uma frase, que me ficou gravada.
Dizia, e espero não andar longe, o seguinte:
“ Deus como não pode estar em todos os lugares, inventou os Avós”.
Fiquei com esta frase, que não precisei de descontextualizar, pois era evidente o seu significado.
O nosso pequeno País anda perdido, de pernas para o ar e com uma tentativa de inversão de valores que é recorrente nos discursos ou intervenções da nossa classe política. Esse propósito, com raízes ideológicas que já se encontraram na história recente, assenta no conflito de gerações, nos slogans que os problemas da economia são fundamentalmente criados pelos reformados e pensionistas, duma Segurança Social que, pouco a pouco deixará de o ser, sendo entregue a um alto dignitário do regime, que se encarregará das políticas adequadas para encontrar a solução final.
Para aqueles que acreditaram que vivíamos num estado sério, dirigido por gente honesta e capaz, devem reconhecer que andaram toda a vida a ser enganados.
“Deus inventou os Avós”, aqueles que depois de um vida de trabalho, de privações, fizeram todos os sacrifícios para proporcionaram educação e formação aos filhos, para que eles pudessem seguir um caminho melhor, são agora a mão de Deus para acolher os filhos desempregados e os netos sem futuro.
Não sou religioso, não tive o privilégio de conhecer os meus Avós e, também não sou Avô. Mas em nome daqueles Avós, e muitos são, que têm partilhado a comida e o tecto com os descendentes, atrevo-me a gritar:
- Se Deus existe, será na face enrugada dos Avós que o poderemos encontrar.
E valha-nos o Senhor.



CAMINHO

Chamo um Poeta para me ajudar a escolher o caminho. Um velho professor de Liceu que eu ainda conheci na minha terra e que agora, mais do que antes, sinto a força das suas palavras. 
E como de empurrão em empurrão nos querem conduzir por um túnel escuro com a promessa de que um dia veremos uma réstia de luz e vinte anos mais tarde, os que resistirem à jornada, entrarão no Paraíso, recuso-me a aceitar o chamamento e como diz o Poeta.” E NUNCA VOU POR ALI…”
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'



GREED
Julgo que a palavra ganância tem um efeito mais devastador quando pronunciada em língua Inglesa. E foi por isso que escolhi.
Poderão pensar que ao fazer esta escolha estou a tentar minimizar a ganância lusitana dos que se venderam e fizeram fortuna abocanhando tudo e todos, compararam respeitabilidade utilizando os políticos menores que se sentaram à mesa das migalhas.
Foi a ganância descontrolada dos banqueiros que arrastaram o mundo para um período de incerteza, de recessão, de desemprego e de pobreza. Mas os ricos ficaram mais ricos e como era de esperar, 1% da população é senhora de 99% da riqueza de qualquer Nação.
Nós, aqui na “Jangada de Pedra” como escreveu Saramago, também tivemos alguns efeitos dessa ganância. Mas a Justiça aqui funcionou e os malfeitores que roubaram estão todos presos e os bens desviados, foram recuperados. Pelo menos julgo que assim terá sido, mas como apenas me lembro do Vale e Azevedo sou capaz de estar equivocado. Mas enfim, se não foram condenados um dia, quem sabe quando, serão presentes no Juízo Final.
Que a ganância corrompe uma sociedade, basta estar atentos ao dia a dia mas também podemos rever um filme muito antigo de que vos deixo a sugestão. O nome “ CREED” é uma realização de Erich Von Stroheim, um dos maiores actores e realizadores que a sétima arte já conheceu

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