domingo, 20 de janeiro de 2013

PALAVRAS


PÁTRIA
Eu sinto orgulho de ser aqui nascido.
Nesta terra que o sol teima em vir beijar deixando a pele escura como a terra para que nos faça lembrar que dela nascemos e a ela havemos de voltar.
Corremos mundo, desbravamos o mar desconhecido, espalhando o nosso suor que fez o mar salgado.
Nada nos restou da glória dos nossos antepassados. Por excepção, ficou-nos a poesia e a Língua Portuguesa.
Os tempos mudaram e de um povo de marinheiros sem medo, sobrou um povo de pedintes, alunos cumpridores dos ditames dos senhores do mundo. Que acreditou nas promessas e se curvou perante outros que nos tratam com desdém e comiseração.
Chegamos aqui por culpa própria. Deixamos que outros nos guiassem.
E a Pátria onde está?
Vamos ter que a encontrar nos versos dos nossos maiores. E é bom ler em voz alta as estrofes do poema épico que Camões nos legou. Assim, enquanto gritamos as palavras, sentimo-nos vivos e voltaremos a soletrar " Esta é a ditosa Patria minha amada".
Luís de Camões
OS LUSÍADAS ( canto terceiro – estrofes 20 e 21)
20

"Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente.

21

"Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela então os Íncolas primeiros.

SAUDADE
Esta será uma das mais belas palavras da Língua Portuguesa.
Uma palavra que nos acompanhou pelas andanças pelo mundo e que floresceu e feneceu nos nossos corações.
É um sentimento mais do que uma palavra, que fere e faz sangrar. “Saudade, gosto amargo de infelizes…) já escreveu Almeida Garrett, escritor, dramaturgo e poeta do século dezanove.
Saudade é a palavra intraduzível porque só a sente um Português em viajem. E assim é algo que se entranhou e se moldou no nosso coração. Faz parte do nosso destino e como tal é ainda mais bela quando partilha o nosso fado.



 
MAR
Percorrer os caminhos do mar, navegando entre os Oceanos foi o nosso destino enquanto Povo. Foi o nosso Fado.
Foi nos veleiros que cruzámos os oceanos, encontrámos novos mundos, e pudemos dizer com orgulho mal contido, nos locais mais distantes da terra, aqui esteve um Povo de marinheiros e de poetas. Um Povo valente e pobre que pouco mais tinha para dar, do que a coragem.
Enfrentrámos o desconhecido, dobrámos o cabo Bojador, indo para além da dor, e desafiamos o cabo das tormentas, os seus mitos e lendas. Demos a volta ao mundo.
O mar está à nossa porta. Mas já não temos marinheiros e sobretudo capitães que nos guiem no caminho.

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