PAIXÃO E MORTE
Quando António se refugiara do seu quarto, revendo
os anos passados, a vida com as suas alegrias e tristezas, o tempo era mau
conselheiro. Tornara-se um homem que se abeirava dos quarenta, triste e melancólico.
Para ele a vida passara a ser um mês de Novembro, triste e com a chuva e o
nevoeiro a serem o espelho do seu dia-a-dia.
E então refugiara-se no trabalho, sem método, sem
gosto. Mastigava o andamento das investigações, esquecia ou fazia por esquecer as
ordens que recebia do Ministério Público em que deixara de acreditar. Afinal pensara
ele, fora o seu entusiasmo pelo trabalho que o fizera perder o amor da sua
vida.
Mas nada é definitivo, nem o amor por maior que
seja.
E assim, após alguns anos de encontros sem
compromissos, os olhos de outra mulher quebraram o feitiço e António acordou.
E para o princípio de uma nova estória de amor.
- O meu nome é Leonor, vivo só, sou professora.
Bernardo, meu amigo e seu colega, já me falou do António e do seu desgosto que
o tem consumido. Por isso, não se sinta
só, também eu bebi o meu copo de fel. Tenho trinta anos, a família resume-se a
primos que não me esquecem e me dão a força para continuar o meu caminho. O meu
companheiro partiu e não voltará. Doeu, muito pode crer.
António ficou fascinado com a franqueza daquela
bela mulher e sentiu-se preso daqueles olhos tão belos. Não mais falaram sobre
o passado. Continuaram a conviver, sentiam-se felizes, ora riam trocando beijos
cada vez mais ternos, ou se olhavam com a paixão e o desejo.
Casaram em Setembro, viajaram pela Itália, que
Leonor confessava ser o País do amor.
E amaram-se perdidamente.
Leonor engravidara algum tempo depois do casamento.
E a gravidez, devidamente acompanhada pelo médico desde os primeiros sinais,
acabou por chegar a seu termo e com ajuda médica, deu à luz uma menina.
Ana Carolina foi o nome escolhido.
E a felicidade foi plena e António durante os anos
em que partilharam o crescimento da filha, o seu desenvolvimento na escola, era
uma aluna excelente, e que não tivera qualquer dificuldade em seguir para a
Universidade.
Mas o destino foi cruel.
Leonor sentiu algum mal-estar. Sentiu medo,
lembrou-se da doença que lhe tinha roubado a Mãe.
Fez os todos os exames e os médicos aconselharam
uma intervenção cirúrgica a realizar o mais depressa possível.
Assim aconteceu mas o mal tinha atingido órgãos vitais.
E seria um pequeno passo até ao fim.
Na cama do hospital Leonor segurou as mãos de
António e de Ana Carolina, pediu coragem e antes de fechar os olhos murmurou:
“Morrer de amor”.
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