sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A VIDA EM CONTRAMÃO


PAIXÃO E MORTE

Quando António se refugiara do seu quarto, revendo os anos passados, a vida com as suas alegrias e tristezas, o tempo era mau conselheiro. Tornara-se um homem que se abeirava dos quarenta, triste e melancólico. Para ele a vida passara a ser um mês de Novembro, triste e com a chuva e o nevoeiro a serem o espelho do seu dia-a-dia.

E então refugiara-se no trabalho, sem método, sem gosto. Mastigava o andamento das investigações, esquecia ou fazia por esquecer as ordens que recebia do Ministério Público em que deixara de acreditar. Afinal pensara ele, fora o seu entusiasmo pelo trabalho que o fizera perder o amor da sua vida.

Mas nada é definitivo, nem o amor por maior que seja.

E assim, após alguns anos de encontros sem compromissos, os olhos de outra mulher quebraram o feitiço e António acordou.

E para o princípio de uma nova estória de amor.

- O meu nome é Leonor, vivo só, sou professora. Bernardo, meu amigo e seu colega, já me falou do António e do seu desgosto que o tem consumido.  Por isso, não se sinta só, também eu bebi o meu copo de fel. Tenho trinta anos, a família resume-se a primos que não me esquecem e me dão a força para continuar o meu caminho. O meu companheiro partiu e não voltará. Doeu, muito pode crer.

António ficou fascinado com a franqueza daquela bela mulher e sentiu-se preso daqueles olhos tão belos. Não mais falaram sobre o passado. Continuaram a conviver, sentiam-se felizes, ora riam trocando beijos cada vez mais ternos, ou se olhavam com a paixão e o desejo.

Casaram em Setembro, viajaram pela Itália, que Leonor confessava ser o País do amor.

E amaram-se perdidamente.

Leonor engravidara algum tempo depois do casamento. E a gravidez, devidamente acompanhada pelo médico desde os primeiros sinais, acabou por chegar a seu termo e com ajuda médica, deu à luz uma menina.

Ana Carolina foi o nome escolhido.

E a felicidade foi plena e António durante os anos em que partilharam o crescimento da filha, o seu desenvolvimento na escola, era uma aluna excelente, e que não tivera qualquer dificuldade em seguir para a Universidade.

Mas o destino foi cruel.

Leonor sentiu algum mal-estar. Sentiu medo, lembrou-se da doença que lhe tinha roubado a Mãe.

Fez os todos os exames e os médicos aconselharam uma intervenção cirúrgica a realizar o mais depressa possível.

Assim aconteceu mas o mal tinha atingido órgãos vitais.

E seria um pequeno passo até ao fim.

Na cama do hospital Leonor segurou as mãos de António e de Ana Carolina, pediu coragem e antes de fechar os olhos murmurou: “Morrer de amor”.

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