A
PONTE
Escorregando
aqui e ali na caruma dos pinheiros que cobriam a encosta da serra que tinham
que subir, os dois irmãos, de sacos atados às costas onde carregavam pacotes de
café e de tabaco, seguiam pelo caminho que conheciam e não era o mais utilizado
pelos contrabandistas habituais.
Estava
uma noite fria de chuva e vento e a jornada tornava-se, hora a hora mais
difícil.
Abandonaram
o caminho e decidiram parar e recuperar as forças encostados a um castanheiro
grande, perdido no meio do pinhal.
O
silêncio só era perturbado com o soprar do vento e pelo ruído da chuva que caía
sem parar. O Diogo o mais velho e mais experiente, arriscou dizer:
-
Oh Chico, assim se tratavam entre si os dois irmãos, tu não pensas que ao
aceitar o trabalho fizemos mal?
-
Não, ainda agora começou a nossa aventura, a chuva o frio não são nada a que
não estejamos habituados, respondeu em voz baixa o irmão mais novo. Continuo a
acreditar na história que o cocho nos contou. A aventura até poderá ser um
risco, não digo que não, mas desistir? Nem quero pensar nisso.
-
Claro, responde o Diogo, eu também não quero desistir, mas falta qualquer coisa
na história. Então ele não tinha uma perna, vivia naquela casa perdida no meio
dos campos, sem vizinhos e não nos disse como é que foi salvo e em que hospital
foi tratado? É isto que me deixa um pouco receoso, porque cortar uma perna não
é trabalho de madeireiro. Pronto, não percebo!
-
Ficaram em silêncio por mais alguns momentos. Diogo foi o primeiro a pegar no
saco e retomar o caminho. António seguiu-o pensando que o irmão tinha razão
pois, reconhecia que Ernesto não tinha concluído a história mas, preferia
seguir o seu sentir que o rosto do Ernesto, mostrava em cada palavra, a dor, a
desilusão e o sofrimento.
Continuaram
a marcha e nada lhes pareceu estranho. Não estavam habituados a fazer
contrabando e não sabiam que o silêncio é, por vezes, sinal de perigo. Mas Diogo
parou, faz um sinal com a mão e saíram do caminho, embrenhando-se no meio da
vegetação. Pararam alguns metros a seguir e sentaram-se.
-
Viste o vulto escondido atrás das rochas, fumando um cigarro, pergunta Diogo?
- Sim, também vi. Deve ser um elemento de
alguma brigada que está emboscada à espera da coluna dos contrabandistas. Temos
de escolher outro caminho. O silêncio foi quebrado por tiros e gritos, não
muito longe do lugar onde se esconderam e sem hesitar, começaram a correr pela
encosta até que um muro coberto de silvas os fez parar.
Ofegantes
respiraram com alívio porque não ouviram mais tiros.
-
Chico, diz o Diogo, agora nem sabemos onde estamos e como é que vamos encontrar
a casa que o Ernesto nos indicou. Não sei o que fazer!
-
Para mim, responde o irmão mais novo, temos de caminhar ao longo da margem do ribeiro
que ouço a correr entre os arbustos. Vamos subir e teremos de encontrar um
local para passar para o outro lado. Vamos,
não tarda faz dia e tudo ficará mais perigoso.
A
sorte estava no seu caminho. Encontraram um pinheiro caído sobre o ribeiro e
era aquele, só podia ser aquela a ponte que lhes iria permitir atravessar o
ribeiro.
Nem
hesitaram, começaram a atravessar mas a ponte era frágil e caíram.
Foi
reunindo as forças que ainda tinham depois da corrida que conseguiram passar para
o outro lado.
-
Pronto, diz António, já estamos em Espanha e apesar da roupa encharcada, vamos
ter de descansar e depois procurar o sinal de luz que nos indicará a casa onde
nos esperam. Assim creio.
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