sábado, 24 de março de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE


2 - A PARTIDA

Ruben estava ocupado com os preparativos para a viagem. Vivia com a Mãe numa casa muito simples nos arredores da cidade. Camponesa, trabalhara a terra alimentando os três filhos. O marido decidira procurar outra vida, soubera que no México teria oportunidade de trabalhar para um grande fazendeiro. Embarcou no sonho e não voltou.
 A Mãe continuara a regar a terra com o seu suor dela tirar o sustento da família. No meio da pobreza ela quis que Ruben tivesse acesso à escola e lutou para isso. Ele era o único filho varão e seria o seu amparo na velhice e o guia das irmãs mais novas.

Quando Ruben lhe contou a sua disposição de procurar o caminho que os tirasse da pobreza, a Mãe lembrou o marido e disse-lhe:
- Eu sempre acreditei que tu não pertencias a este nosso mundo. Saíste ao teu Pai que pagou com a vida ou nos esqueceu.Se acreditas no teu amigo vai, não te esqueças de nós, escreve quando puderes, eu ficarei a rezar por ti.
Ajudou o filho a preparar um saco com a roupa que tinha, um pão e uma garrafa de água. Depois foi à velha arca de madeira e tirou um livro. Toma meu filho, leva contigo. É a única recordação que o teu Pai nos deixou. Gostava de ler e foi em homenagem ao seu autor que tu recebeste o nome, Ruben. Não te separes dele, vai dar-te sorte.
Ruben abriu o livro cuidadosamente embrulhado em papel grosso. E leu o título  “Contos de Vida y Esperanza”  e o autor Ruben Dário.
Não conhecia, mas sentia que iria gostar do livro e talvez o amigo americano lhe explicasse quem fora o autor, ele não conhecia.

 A Mãe não se quis despedir do filho, pegou na enxada e partiu para o campo. Só lá longe chorou beijando um crucifixo que trazia no peito.
Era sábado, Ruben estava de folga enquanto Mercê, a namorada estava de serviço dia e noite. Melhor assim, Ruben receava não conseguir enfrentar o drama da partida. Pensou melhor e deixou uma carta de despedida.
Escrevera com sentimento, com ternura, com amizade e com amor.
Ela iria sofrer, mas Ruben não lhe pediu para esperar. Nem ele se atrevia a imaginar o seu futuro, pelo que não quis que Mercê se sentisse obrigada a esperar.
Tinham feito amor algumas vezes mas acreditava terem sido prudentes. Não partia com esse peso na consciência. Mercê era uma jovem bonita e não teria dificuldade em esquecer um amor que vinha da infância. Mas na carta deixou algumas lágrimas e um coração partido.
 Robert tinha combinado que sairiam na manhã de domingo. O local de encontro seria um hotel localizado na Avenida das Américas.
Era um lugar bom para iniciar a caminhada e Ruben esperou desde bem cedo. O amigo chegou conduzindo uma pequena camioneta de caixa aberta, parecia em bom estado, onde arrumara a bagagem, dois jogos de pneus e alguns bidões de gasolina.
Estava contente, acenou a Ruben para entrar dizendo, vem amigo vem, a estrada é longa mas o tempo é todo nosso.

Ruben despediu-se com um olhar para a montanha que o vira nascer. ´
-É bonito não é Ruben?
- Vivi parte da minha vida na sombra do vulcão. O meu Pai contava-me histórias das antigas civilizações. Falava em templos escondidos no meio da floresta, onde à noite se viam os antigos deuses fazendo sacrifícios. Contava coisas de arrepiar, como os vampiros que procuravam sangue dos pobres camponeses desprevenidos. Por isso a minha Mãe e as minhas Irmãs traziam ao pescoço crucifixos que as protegiam.

- O senhor acredita nestas histórias, perguntou Ruben?
- Sabes, as florestas, as montanhas e os vulcões da tua terra, encerram muitos segredos que ainda não foram desvendados. Eu acredito que os contos e as histórias que os povos foram contando ao longo dos séculos, terão  tido algum cunho de verdade. Mas há muitas formas de entender e aceitar a verdade.
 Vamos andando,  iremos visitando alguns lugares que a mim me interessam e ficaremos junto ao mar em Puerto Quetzal.


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