Quase sem se dar por isso, aí está a Primavera.
É por tradição a estação da alegria, do prazer dos campos verdes e das árvores em flor.
Hoje o céu está azul, lindo, o sol dá-nos o seu calor e a sua luz, mas a alegria anda esquecida.
Ontem, duas crianças, o Jorge e a Helena, irmãos gémeos, regressaram da escola trazendo com todo o cuidado o desenho em cartolina que haviam pintado na escola. Era a prenda para o dia do Pai.
Tinham desenhado um boneco colorido, gordinho, de riso aberto, segurando uma flor. Com a ajuda da Professora, escreveram no desenho,” Para o Pai” e concluíram a dedicatória desenhando dois corações bem juntinhos e uma flor que a Professora juntou.
Estavam tão orgulhosos, não resistiram a mostrar à Mãe a prenda que tinham desenhado.
Com a inocência dos seus sete anos, nem se aperceberam que ao ver o desenho, a Mãe deixara escapar uma lágrima.
- Mãe achas que o Pai vai gostar da nossa prenda?
- Claro que vai, o Pai ficará orgulhoso por receber a vossa prenda. Mas hoje ele vai chegar mais tarde! Mas vocês vão deixar o desenho no vosso quarto, mesmo em cima da vossa mesita de cabeceira. Assim, quando regressar e vos for dar um beijo de boa noite, ficará feliz com a surpresa que vocês lhe vão guardar. É uma boa ideia, não acham?
O Pai chegou já a noite ia longa. As crianças dormiam e a mulher esperava-o com a esperança de ouvir as palavras mágicas.
Abraçaram-se sem palavras. O dia do Pai tinha sido mais um dia sem trabalho, sem ganhar o sustento. Afinal a Primavera ainda não chegara. Talvez chegue amanhã, murmurou a mulher.
Pelos nossos filhos, não podes perder a esperança. Vai ao quarto e quando os beijares verás um sorriso feliz nos seus lábios. Estarão a sonhar imaginando a tua alegria com a prenda que com tanto carinho te guardaram.
E amanhã será um dia melhor, quem sabe, trará a primavera e a esperança.
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