domingo, 19 de agosto de 2012

OS DIAS DO FIM


O INÍCIO

Catarina Mesquita e Morais, divorciada, passara a barreira dos trinta anos, mas conservava o corpo e a vitalidade de quem se cuidava. Não se deixara infuenciar por dietas da moda,  frequentava o mesmo ginásio de sempre.
Tinha um grau académico, não lhe servira para nada. Acabou por se tornar empresária, dirigindo uma agência de modelos. Completava a sua actividade com a gestão de carreiras de pessoas ligadas aos meios audiovisuais, obtivera alguns exclusivos de progamas de entretenimento das grandes cadeias de televisão, geria os direitos e reservava a última palavra sobre o elenco e a adaptação dos programas que eram comprados pelos canais habituais. 
Ocasionalmente produzira também programas de Televisão com um formato adaptado à realidade de um mundo que ela conhecia bem.
Alguns  programas tinham ganho notoriedade, designadamente um talk show que se mantivera no ar durante um ano com emissão bi-semanal. O apresentador era excelente, mas deixou-se seduzir pelas parangonas das revistas da especialidade e perdeu o controlo. O programa foi interrepondido e Catarina não mais tentou recuperar o modelo.
 Pensava que o programa a tinha marcado negativamente. Doía-lhe constatar a  dependência dos expectadores de um programa sem grande conteúdo, cheio de lugares comuns e dominado por assuntos de nteresse reduzido.
Mas a fama e o dinheiro tinham contribuído para a sua independência mas não tinham apagado os sonhos.
Reduzira a sua actividade, não se expunha, mas escrevia sobretudo sobre questões de sociedade. Escritos simples e sem conteúdo, assim como era a vida da sociedade que retratava.  
Logo a sua vida empresarial modificou-se e corria aos altos e baixos mas não se queixava. Tinha nome, tinha amigos de verdade, poucos, mas muitos de oportunidade, conseguira juntar um pé de meia para os dias chuvosos que, no mundo do entretenimento, costumam ser frequentes.
Ambicionava escrever sobre o munda que conhecia, tinha muito material disponível mas ainda não ganhara a distância necessária para ser isenta. 
Morava numa moradia, num lugar no concelho de Oeiras, moradia simples, mas que decorara com cuidado.
Não tinha jardim, o que lamentava, nem espaço para tal, e essa lacuna funcionava como justificação para a falta de piscina, quando em conversa com mulheres que se reclamavam da alta sociedade, as ouvia falar do prazer de se espreguiçarem na borda da piscina.
Catarina que conhecia demasiado bem a maior partes dos colunáveis, fingia acreditar nos devaneios de quem morava num simples apartamento, bem longe do eixo Lisboa Cascais.
Ah é verdade, era divorciada sem filhos. O ex-marido um construtor civil com mais ambição do que capacidade para gerir um negócio, deixara uma enorme dívida à Banca, três ou quatro blocos de apartamento em fase de construção, dois lotes sinalizados mas sem projecto aprovado.
Era todavia um homem ambicioso, mas com pouco jeito para o negócio, quisera passar de Engenheiro de uma empresa de construção civil para trabalhar por conta própria, mas faltavam-lhe os contactos e os amigos das Câmaras e os seus projectos de construção eram rejeitados ou exigiam a alteração da volumetria, o que tornava o projecto financeiramente, um desastre.
Era teimoso, decidira que apesar das dificuldades seguiria em frente. O final estava bem à vista, dívidas sobre dívidas, penhoras fiscais e congelamento das contas bancárias. Em resumo estava falido.
 Entrou mal e em plena crise económica, ficou pior. Perseguido pelos Bancos, pelo Fisco e pelos compradores que haviam sinalizado a compra, não hesitou e fugira sem deixar rastro.
Catarina perdera o contacto com o ex-marido logo a seguir ao divórcio. Sabia que ele, teria refeito a sua vida e ela quase o esquecera.
Quase, era ser optimista, nos oito anos que durara o casamento, por entre os dias de sol e a chuva da traição, sempre alguma coisa ficara. Nem tudo fora mau, tinham vivido momentos felizes e separaram-se sem recriminações. Fernando o ex-marido, tinha uma vida muito própria, ela nem quisera saber como ele pagava as contas. Só sabia que ele fora obrigado a pagar-lhe uma pensão mas que nunca cumprira.
Eram tão diferentes que dificilmente o casamento daria certo.

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