quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SONHAR


É verdade, o pesadelo deixou marcas. O meu amigo fez-me ver aquilo que muitos já terão pensado mas nunca  disseram. Aquele gajo, o homónimo do John Doe, ou vice-versa, anda a inventar histórias a pataco, satisfazendo a sua enorme vontade de escrevinhar, como se a quantidade fosse o padrão a seguir.
Mas pensar uma história, escrevê-la tentando dar-lhe princípio meio e fim não é fácil.
Na realidade se optasse por escrever crónicas iria sempre desembarcar na praia dos perdidos, dos desenganados, dos sobreviventes. Seriam sempre histórias de lágrimas e de dor.
Não quero ser mal interpretado. Escrevo porque gosto, escrevo só para mim. Perco-me não poucas vezes, mas sigo sempre o caminho que escolhi. Passo para o papel sentimentos genuínos. Serão recordações de quem viveu intensamente os seus dias, que nunca se deixou aprisionar pela conveniência, que apenas estendeu a mão para agradecer  a amizade, nunca para pedir favores.
Fugi a tempo da armadilha da política, fiz a guerra e regressei com as mãos limpas.
Podia ter sido outro, dizer que sim mesmo quando a resposta correcta era não. Mas não me arrependo, fui o que fui, sou o que sou.
Um sonhador que aprendeu a contar as estrelas, a ouvir o canto dos pássaros, a azáfama das abelhas. Um sonhador que semeou o trigo e o ceifou. Que passou noites ao relento, guardando o cereal e esperando o vento para nos ajudar a separar o grão da palha, despojos de um dia de canseira, guiando parelhas de burros que esmagavam as espigas, dando voltas e mais voltas, sobre o empedrado da eira. 
Um sonhador que logo que aprendeu a ler, devorou todos os livros a que teve acesso
Depois o sonhador deixou-se embalar nas palavras, por vezes duras mas sempre belas da poesia.
E aí parou. Depois de ler os poetas já não podia avançar mais. Por aqui ficou.
E por aqui fico. Neste arrazoado de palavras falando de mim, ainda de mim e por fim…de mim. Vejam, é o resultado dum sonho que se transformou num pesadelo.
E como diz o poema de António Gedeão:

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.”

Mas não foi assim, não é assim. O sonho morre cada dia que passa, porque a realidade, cruel e insensível  mata a poesia de um sonho.



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