segunda-feira, 27 de agosto de 2012

OS DIAS DO FIM

A NOITE DO CAÇADOR

Catarina conhecia as pessoas, as festas, as ligações, os mexericos, enfim muito do que os veraneantes nacionais procuravam. Pela primeira vez encontrava pessoas que gostavam do mar, de mergulhar e tirar fotografias e se divertiam gozando os favores da natureza.
E ela cansada de tantos anos do mesmo, sentia-se feliz com a quietude daqueles dias de férias.
Apenas por uma vez acompanhara os amigos no passeio de iate. Fora demasiado tempo Catarina receava o excesso de sol e não tomou as precauções que devia e pagou por isso,
Foi medicamentada e obrigada a por ficar em casa. Menos mal, pensava, assim escrevo as crónicas para enviar para a revista e vou escrevendo o último capítulo do romance que começara, já nem se lembrava quando.
 Os companheiros resolveram que seria um novo desafio navegar e mergulhar de noite, lá bem longe da costa.
A tranquilidade no mal alto, a beleza do mar iluminado pelas lanternas que colocavam sobre a cabeça, a paisagem quase irreal que o mergulho lhes proporcionava deixou-os fascinados e esqueceram os planos de férias. A noite seria passada no mar, ancorados lá bem distante da costa, mergulhando ou descansando embalados pelo suave movimento das ondas, respirando o ar puro e olhando as estrelas.
Estavam decididos a prosseguir o mergulho nocturno, mas Luísa confessou que não se sentiria confortável ficando só, enquanto os amigos mergulhavam pelo que optava por ficar fazendo companhia a Catarina.
Esta não percebia o seu papel naquelas férias. Tinham pedido para que ela fosse cicerone durante as férias mas se tencionavam passar os dias e as noites dentro do iate a navegar ela estava a mais. E começou a mostrar alguma inquietude.
Até que Luísa se impôs, dizendo:
-Vocês escolheram o barco e eu e a Catarina ficamos aqui, conversando e aguardando que se dignem voltar, cansados e cheios de sono. E nós, as nossas férias onde ficam?
 Vocês podem continuar a vossa brincadeira mas eu e a Catarina vamos impor regras.
Temos transporte, a Catarina conhece pessoas e lugares que eu gostaria de partilhar. Jantaremos fora quando nos agradar, iremos ouvir música, beber um copo e dançar.
Um dia talvez tenham uma surpresa. Ao regressarem estas duas amigas estarão nalguma festa até ao romper do sol.
Adérito ficou em silêncio mas olhou para Jean Paul e Monique e respondeu:
- Eu compreendo a tua irritação mas tu sabias os nossos gostos e foste tu que me entusiasmou a comprar o iate. Já te esqueceste?
Mas admito que te sintas presa e queiras sair. É normal e com a Catarina eu fico descansado. Também começamos a ficar cansados nestas saídas nocturnas, precisamos de navegar em outras águas, e até já falamos que no início da próxima semana, seguiremos navegando até ao Mónaco. Eu sei que tu vais adorar e a Catarina está também convidada para fazer esse cruzeiro. Que me diz?
- Eu não posso aceitar, diz Carolina. Mas não se preocupem comigo. Na próxima segunda feira, tenho um convite para almoçar com uns amigos e depois partirei de regresso a casa. Deixarei a chave da casa no café do costume. E espero se divirtam, Monte Carlo será sempre um destino obrigatório.
 Então assim, diz Luísa, hoje é sábado, iremos jantar no restaurante que a Catarina nos indicar, um jantar especial, depois música e dança até ser dia.  
Jantaram, conheceram gente da sociedade e depois saíram para um clube nocturno nos arredores de Albufeira. Era um espaço novo, grande e estava a ficar cheio de gente que Catarina não conhecia. E então cometeu novo erro.
Viu-se sentada ao balão do bar, tomando uma bebida enquanto os companheiros se perderam no meio da multidão.
Um homem novo, estrangeiro sentou-se ao seu lado e começou a conversar. Era natural de Barcelona, estava de férias e aborrecido, a família andava perdida na confusão e ele ficara, como ela, só. Aproveitamos para dançar?
Catarina sorriu, desceu do banco, deixou-se enlaçar e dançaram ao som de uma música suave que o DJ pusera a tocar.
Encontraram num recanto fora da pista de dança, uma mesa vazia que ocuparam.
Conversavam enquanto bebiam, Catarina não ficara imune ao charme do trocaram um beijo cúmplice. Catarina riu enquanto procurava apagar um sinal que o batom deixara na face do companheiro de dança. Foi abrir a mala para tirar um lenço e teve um sobressalto. A mala onde é que eu perdi a minha mala?
- Já sei, disse o companheiro, deve ter ficado no balcão. Espera vou buscá-la e já volto.
Voltou sorridente com a mala na mão dizendo que a encontrara na cadeira vazia do balcão onde se haviam conhecido.
Catarina ficou nervosa, olhou para o relógio, já passava das cinco da manhã e dos amigos nem sinal. O companheiro de dança também desaparecera, certamente fora ao encontro a família.
 E eu fico aqui sozinha. Estou farta dos companheiros de férias, vou-me embora.
Saiu e ficou perplexa. Uma brigada da Polícia bloqueava o recinto. Alguma coisa se passara e ela não se apercebera. Encontrou uma oficial de Polícia a quem se dirigiu perguntando se podia passar. A oficial olhou para ela e pediu-lhe a mala. Abriu-a, olhou-a nos olhos e disse:
- A senhora vai entrar naquela carrinha e ficará detida para interrogatório.
- Mas que mal é que eu fiz, pergunta Catarina?
- Mal não sei, a senhora só terá que explicar onde arranjou os envelopes de pó branco que tem na sua mala Eu acredito seja cocaína. E a senhora acredita em quê?








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