domingo, 18 de setembro de 2016

O PREÇO DOS SONHOS


7 – O CAPÍTULO FINAL

Em Londres, Íris teria uma carrinha do teatro à sua espera, isso lhe havia sido assegurado pelo agente. Depois teria lugar num apartamento, perto de Westminster mas que iria partilhar com outras colegas.
Que pena, murmurou para Pedro, vai ser difícil arranjar tempo e lugar para os nossos encontros. Porque não me vou esquecer desta viajem, trocando carinhos e paixões sob o céu de estrelas. Temos de continuar a viver e aprofundar o sonho. Para mim será um renascer e o Pedro?

- Eu, respondeu, irei ficar por Londres. Não regressarei ao meu País, na realidade sem família próxima, sem obrigações, apenas dele guardo o sol e a luz da minha cidade. Mas isso agrava a minha nostalgia.

Londres será o meu local de trabalho. Consultor de investimentos, nada de mais prosaico como calcula. Certamente que o destino que nos colocou lado a lado num avião cruzando o Oceano, será responsável por novos encontros. Eu farei por isso e esperarei pela Ísis, prometo.

Separaram-se no controlo de saídas no terminal. Pedro caminhou e juntou-se à fila dos passageiros aguardando táxi. Ísis saiu, leu o nome no cartão que uma senhora exibia e logo entrou numa carrinha. Acenou para Pedro, mandou-lhe um beijo e partiu.

Pedro hesitou mas viu no olhar de Iris um convite que não soube recusar. Saiu da fila correu para a carrinha e, num impulso comandado pelo coração, esquecendo a lição de vida, estendeu um cartão-de-visita, dizendo:

- Esperarei por ti!

Depois regressou à fila e retomou os cuidados de sempre. Um táxi que mandou parar perto duma estação de metro, que utilizou para uma viajem de três ou quatro estações, saiu, andou a pé até uma paragem de autocarro que servia a linha que usava quando regressava a casa, um apartamento num prédio discreto numa rua de Newington, subúrbio quase desconhecido da cidade de Londres.

Pedro sempre se habituara a mudar com frequência o seu domicílio. Nunca o usava por mais de seis meses. Este era o mais recente e dava-lhe o sossego que sempre procurara.

Aguardava um telefonema de Ísis e cada dia que passava mais desejo sentia de a reencontrar. Sem notícias, compreendia que ela estaria extenuada com os ensaios, lembrou-se que não sabia sequer o nome do teatro ou do espetáculo e resolveu fazer uma pesquisa, assistindo aos espetáculos em cena ou, quando não conseguia bilhete, aguardava a saída dos protagonistas.

Apesar de ter especial atenção à saída dos grupos de artistas, nunca mais a viu.

Desistiu, restava-lhe aguardar.

Uma noite fria e escura de Outono regressou a casa usando a precaução habitual. Evitou o ascensor, subiu as escadas para o quarto piso, desceu dois, abriu a porta do apartamento e, de repente, parou. Sentira um aviso de perigo, aquele instinto que tantas vezes o salvara. Não reagiu, estava cansado mas sentiu uma dor bem funda que lhe despedaçara a defesa. Sim, reconheceu, tinha chegado a sua hora.

Não queria morrer pelas costas, voltou-se lentamente e sorriu. Sem surpresa, reconheceu antes de receber o tiro final, o odor dum perfume que o capturara e os olhos outrora doces, agora frios, duma mulher de farta cabeleira loira. Ísis cumprira a sua missão.
F I M

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