ESPANHA
– GUERRA CIVIL
- ENCONTRO NO MEIO DO NADA
No
entardecer dum dia cinzento e chuvoso do mês de Dezembro, no ano de 1936, um
homem caminhava, penosamente, serra acima por entre um souto de castanheiros
bravos, protegendo-se da chuva e do frio com um capote improvisado, que mais
não era do que uma saca de serapilheira, tornada parcialmente impermeável, pelo
azeite que corria do transporte da azeitona.
Caminhava
apoiando-se em três varas secas de castanheiro bravo, o instrumento de trabalho
para a vareja das oliveiras.
Estava
cansado e parou sentindo o cheiro do fumo que, em pequenos novelos, se
espraiava por entre as árvores. Estava a chegar ao encontro com o irmão mais
velho. E tinha muito que contar.
Avançando
guiado pelo fumo, encontrou no meio da mata, uma pequena cabana feita pela
ramagem entrelaçada de giestas e ramos de pinheiro.
Esgueirou-se,
curvado, por um pequeno espaço a descoberto e encontrou o irmão mais velho, o
Diogo, sentado numa pedra, atiçando as brasas duma pequena fogueira enquanto
enrolava, com cuidado e paciência, uma mortalha de papel que enchia com os
restos da onça de tabaco que guardava no bolso do colete.
-Então
como foi o teu trabalho perguntou Diogo?
-
Foi o costume, trabalho na colheita da azeitona para ganhar o que nem sequer
cheque para conseguir para a conta da mercearia. Mas sabes, o que foi ainda
mais doloroso?
É
que no caminho para aqui chegar, encontrei uma casa perdida e o dono dessa
casa, um homem de meia- idade que caminhava com uma grande bengala, pois só
tinha uma perna, e disse-me que tinha perdido a perna ao fugir da matança na
praça de touros de Badajoz. As tropas do General Franco haviam assassinado
milhares de republicanos. Ele escapou quase por milagre. Depois disse-me que
era capaz de nos ajudar a melhorar a nossa vida, com uma proposta para um
trabalho que pagará de forma generosa.
-
Não sei o que ele te desafiou a fazer, mas sei que será algo de perigoso. Nós nascemos
pobres, mas vivemos. Pôr um pé na Espanha de hoje, poderá ser o nosso fim.
Ainda assim, o melhor será ouvir o que ele nos vai propor e depois decidiremos.
-
Esse é o bom caminho, diz António. Poderemos correr riscos mas ao menos tentamos
dar um outro rumo à nossa triste vida. Descansamos e partimos pela manhã.
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