sábado, 10 de setembro de 2016

O PREÇO DOS SONHOS


4 - SAUDADE

Pedro fez por passar despercebido e sem qualquer entrave ou perguntas desnecessárias aquando do controlo de passaportes, tomou lugar no avião para Londres.

O inicio da viajem estava com atraso que o comandante justificou pelo mau tempo que se fazia sentir, mas estava tão cansado que fechou os olhos, recusando a bebida que a hospedeira lhe quis oferecer.

Despertou, quando o aparelho começou a marcha e só então se apercebeu que a seu lado iria viajar uma mulher jovem e bonita. Pedro olhou para a companheira não escondendo a solidão que o consumia. Fez um esforço, esboçou um sorriso tímido e voltou e olhar pela janela.
A mulher, cabelos loiros, olhos verdes, parecia querer desvendar os seus pensamentos, porque lhe disse, com uma voz profunda:
- Quer dor ou que tristeza o persegue? Observo já algum tempo e parece estar ausente, distante, afogado em más recordações? Eu não quero ser intrometida mas, ainda agora o olho e vejo uma nuvem que o esconde. Empurre essa nuvem, esqueça o que o entristece, talvez precise apenas de um pouco de companhia.
Pedro esboçou um sorriso, teve um leve lampejo no olhar e respondeu:
- Vai perdoar se eu não conseguir ser uma companhia agradável. Vou tentar, acredite que vou tentar. O meu nome é Pedro, sou Português a trabalhar em Londres.
E já agora, sou solteiro e os meus compromissos são apenas com amigos, mas devo confessar com pesar, são poucos. Como vê sou natural dum País que inventou uma música, fado, que só nós sabemos interpretar, porque ela também significa destino. E que inventou uma palavra que não tem tradução, que sentimos muitas vezes. É a mais bonita palavra da língua Portuguesa, SAUDADE.
Ora aqui estou eu apresentado, Português errante, cumprindo o meu fado e sentindo a saudade, como uma dor profunda.
Enquanto procurava as palavras que acabara de proferir nem uma só vez encarou a sua vizinha de viagem. Quando acabou, sentiu que a mão da companheira lhe afagava a sua, tensa e presa como uma garra, ao braço da cadeira.
Descontraiu dizendo, obrigado, por me ter estendido a sua mão.

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