terça-feira, 6 de setembro de 2016

O PREÇO DOS SONHOS


3 - SILÊNCIO

Misturado com os expectadores que desciam a Broadway, olhou em redor, velho hábito de segurança, e tomou a linha de metro que o deixaria mais perto do hotel.

Os passageiros que com ele partilhavam a carruagem, eram muitos mas foram ficando pelo caminho. Ficou ele e mais dois homens dormitando ou fingindo, sentados em cada um dos lados da carruagem. Levantou-se, caminhou para a saída e quando a porta se abriu recuou e seguiu viajem. Os dois outros passageiros saíram, ficaram na plataforma olhando para o metro que se afastava.

Deixou de ter dúvidas, a sua passagem pela cidade estava a ser vigiada pelos homens da Organização.

 Aquela ideia de voltar à cidade onde terminara o seu sonho de amor, com a morte de Leonor, a companheira que estava no sítio errado, à hora errada, e pagara com a vida, a conta que a ele estava destinada.

Pedro fugira mas registara no computador todos os contactos que tivera com a cúpula da Organização, desses encontros e dos relatórios que enviara após cada operação. O disco foi entregue a um amigo, jornalista independente.

Faltava-lhe completar a denúncia com nomes e fotos dos quadros que conhecera. O que foi objeto da sua última viajem. Completada a informação enviou o novo disco, utilizando o correio normal, para um endereço particular. Era informação explosiva, mostrava a verdadeira face da Organização. Tráfico de droga, de armas, lavagem de dinheiro, financiamentos a agências ilegais. Tudo mostrava que tinham acesso a informação reservada aos serviços secretos. A cortina de silêncio que protegera a Organização iria ser, acreditava, finalmente rasgada.

O seu instinto de sobrevivência funcionara de novo. Era um hábito antigo e que muitas vezes lhe salvara a vida.  Num cacifo da Central Station guardara uma mala de viajem, com dinheiro, roupas, passaportes. Tudo o que lhe permitiria assumir uma nova identidade.

Tinha comprado um lugar para Lisboa, num voo da TAP, mas acabou por mudar. Foi para o aeroporto, comprou um novo bilhete, para o voo que o levaria a Londres.

Agora restava-lhe mudar de caminho e saborear a vingança.

 

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