6 . DIRECÇÃO, VANCOUVER
Paulo José, tinha vinte e oito anos de idade, cursara Engenharia do Ambiente, numa Faculdade Privada e reconhecia agora, não lhe servira para nada. Estava desempregado e de vez em quando conseguia arranjar um trabalho de pouca duração, pago a recibo verde.
Ele era um dos muitos desesperados dependentes da ajuda da família. O tempo livre sonhava sentado à beira mar. Não tinha grandes amizades e sentia que uma força o impelia a partir. Mas não sabia que destino.
Tinha entrado na Universidade contra a sua vontade. Não sentia nenhuma vocação e nem imaginava o futuro. Mas uma coisa tinha sempre recusado, trabalhar com o Pai.
A família tinha extensas propriedades rurais que ocupavam terras com pouca aptidão para a agricultura. O Pai, filho único de uma família meio arruinada, recebera como prenda de casamento diversas herdades de montado, ocupando uma área razoável no Alto Alentejo. Recebera também uma esposa feia, com mau humor e com um medo horrível do pecado. A mulher Dona Helena entendia o sexo como o acto de procriação, recusara métodos anticonceptivos, de qualquer género e o Marido, para satisfação dos seus naturais apetites sexuais, passou a recorrer às velhas conhecidas e até a algumas amigas, casadas, da própria mulher.
E não se dava nada mal com o esquema, pois a indiferença da mulher era amplamente compensada pelos ardores, por vezes já perigosos, das visitas lá de casa.
Todavia do casamento haveriam de nascer três filhos. O mais velho, Paulo José vivia numa velha casa em Lisboa que pertencia ainda ao património da Dona Helena, enquanto fosse viva, pois ela já a doara à Igreja. Precisava de obras, mas o Pai nem sequer gostava de ouvir falar em gastar dinheiro, numa casa que nunca poderia vender.
O Doutor Frederico, como gostava de ser chamado, embora ninguém soubesse que curso havia tirado, geria a seu belo prazer as propriedades, em regime de arrendamento agrícola. Recebia rendas anuais dos diversos rendeiros, não eram valores muito elevados e a sua maior fonte de rendimento era o resultado da venda da cortiça.
Para aumentar a rendibilidade escolheu uma propriedade extensa mas montanhosa, que mandou vedar e constituir uma reserva de caça privada.
Tinha muito tempo livre e vivia feliz, porque nunca fora muito amigo de trabalhar. Percorria os caminhos ao volante de um carro todo o terreno, que comprara a prestação e que ia pagando, quando não ficava depenado nos jogos de azar em que se metia, sempre que dava uma escapadela a Badajoz.
Gostava de ser reconhecido mas não era muito respeitado.
O filho do meio, Henrique era pelo contrário um rapaz muito estudioso completamente dominado pela febre da Informática. Tirara o curso correspondente e aos vinte e seis anos montara com alguns colegas uma empresa de prestação de serviços, que até não estava a correr mal. Vivia em Évora, raramente aparecia em casa dos Pais, e as visitas eram cada vez mais espaçadas, alegando muito trabalho. Contudo a casa dos Pais até era bem perto, nos arredores da cidade de Estremoz. Mas por qualquer razão ele não se sentia bem e evitava estadias prolongadas.
Finalmente a filha, Maria Cecília, tinha dezoito anos e uma personalidade muito forte e independente. Fez o Liceu mas recusou continuar os estudos. A sua paixão era a música rock e nada nem ninguém a conseguira fazer mudar de opinião. Cansada de viver numa cidade pequena e sem perspectivas, foi para Lisboa, partilhando a casa com o irmão. Em pouco tempo tinha um numeroso grupo de amigos. Entre eles havia um grupo que já dera os primeiros passos no mundo da música e ela foi um reforço bem recebido. Tinha uma voz bem timbrada, era bonita, elegante e muito alegre. Estava disposta a estudar mas numa escola de música em Londres ou Nova Iorque. Para isso tinha que juntar dinheiro, pois a Mãe recusara-lhe ajuda para cumprir o seu sonho.
Maria Cecília partilhava com o irmão, apenas o espaço, pouco tinham em comum, nem os amigos,que ela nem conhecia do irmão mais velho.
Mas foi Paulo José o primeiro a sair. Para o Canadá onde tinha primos emigrantes. Aceitou ir trabalhar no restaurante e pequeno hotel que eles haviam comprado na costa agreste dos arredores da cidade de Vancouver. Pediu dinheiro emprestado, obteve o visto e de um dia para o outro partiu.
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