segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ENCONTRO COM O DESTINO


                                                             José de Almada Negreiros

12    - O ENCONTRO

Dormiram até tarde. A viagem fora muito cansativa e depois ficaram conversando com o Richard e a Carol até bastante tarde. Apesar do cansaço ainda não recuperado, Li não falava noutra coisa que não o recomeço do passeio. E brincava dizendo que não se podiam atrasar a chegar ao Paraíso. Por sua vez, Bárbara não se mostrava assim tão entusiasmada, inventara uma dor de cabeça para disfarçar um mal estar que não conseguia explicar.
Mas era a hora de saída e começaram a rolar estrada fora seguindo as indicações assinaladas no mapa. Bárbara ia ao volante, mas de cenho franzido e tão ausente que guiava com pouca atenção. De tal maneira que passara um cruzamento onde uma seta assinalava um desvio para White Rock e para o golf resort “Au Paradis”. Foi Li que deu pelo engano, avisou Bárbara, fizeram inversão de marcha e encontraram a recepção.
Tiveram uma desagradável surpresa, não havia lugares vagos.
Sentaram-se no lobby. Li tinha pedido para falar com o gerente, que logo as recebeu no escritório.
Era um homem com cabelo grisalho, moreno, olhos negros característicos de naturais da Europa do Mediterrâneo. Bárbara sorriu e falando em Português apresentou-se dizendo saber que estava perante um compatriota, e apresentou a sua companheira.
Paulo, desfez rugas de expressão que lhe eram habituais e abriu-se num sorriso de felicidade.
Apertou as mãos da Bárbara e murmurou:
- O meu nome é Paulo José e estou muito feliz por a receber. E desculpe que lhe diga, mas receber alguém que traz nos olhos o sol da nossa terra, é uma dádiva que me enche de felicidade.
Depois virando-se para Li, com os olhos brilhando de entusiasmo acrescentou:
- E também o sol do Oriente me faz uma visita tendo como embaixadora uma mulher tão bela.  
E continuou com voz embaraçada:
- Quem me conhece iria achar estranho estes meus galanteios. Eu não sou um conquistador e até sou reservado por natureza. Na realidade há muito tempo os esquecera, mas hoje sinto-me uma pessoa diferente. E sinto que qualquer coisa, não sei o quê, pois nem acredito no destino, nos colocou no mesmo lugar, tão longe dos nossos mares e dos nossos afectos.
Prometam que irão ficar neste lugar tão bonito, podem crer, mas que hoje ganha o direito a usar o nome “Au Paradis”. Bem-vindas ao Paraíso. Eu serei o vosso guia enquanto não se cansarem de me ver.
Li, entusiasmada acenou que sim, mas adiantou com pena, não tinham obtido alojamento!
Paulo não hesitou. Iria tratar de arranjar um dos apartamentos que tinha o hábito de reservar para clientes frequentes e importantes. E hoje vocês são os nossos clientes especiais. Não se preocupem eu próprio as acompanharei ao alojamento. Se gostarem, falo com o empregado para trazer a bagagem.
O apartamento que Paulo lhes destinou era uma pequena vivenda e com um terraço que lhes permitia ver o pôr do sol, enquanto tomavam uma bebida antes do jantar.
Era não só muito acolhedor como tinha uma decoração  com um toque Europeu, lareira verdadeira, sofás muito confortáveis, recantos para leitura ou ouvir música, jacuzzi e dois quartos em suite. Uma pequena cozinha equipada, completava o apartamento.
Bárbara e Li não hesitaram, ficaram deslumbradas e aceitaram ficar por uma quinzena, precisamente o período das férias.
Paulo lembrou que não deviam deixar de conhecer as cidades de Vancouver e Victória, mas que em dois ou três dias o poderiam fazer.
Voltaram para o escritório, enquanto a bagagem lhes era transportada. Paulo ausentara-se por momentos.
Bárbara olhou para a parede por detrás  da secretária decorada com quadros de muito bom gosto. E um deles não deixou de lhe chamar a atenção. Era um retrato de Fernando Pessoa, pintado por Almada Negreiros.




                
                         Fernando Pessoa - Retrato de Almada Negreiros

Fernando Pessoa, tudo indicava que como ela, também Paulo seria um leitor ou admirador da obra do grande escritor. Mais uma coisa em comum, para além do rosto com traços invulgarmente semelhantes.
Entretanto Paulo regressou com o chefe de cozinha, dizendo: Minhas amigas o chefe Pierre vai preparar um jantar especial. Não vai ser cozinha Francesa, em Chinesa, peço desculpa, ele vai surpreender-nos  com um prato tradicional da cozinha Portuguesa. Estão convidadas.



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